«A importância das cinco estrelas sobre o emblema e o Brasil-Bélgica»
Na próxima sexta-feira, 6 de julho, pelas 19 horas de Lisboa, Brasil e Bélgica vão defrontar-se em Kazan, Rússia, por um lugar nas meias-finais do Campeonato do Mundo de 2018.
Para quem pensar que o jogo será um mero pró-forma para o Escrete Canarinho carimbar o passaporte para a meia-final de São Petersburgo, talvez seja bom lembrar que frente a frente vão estar o segundo do ranking da FIFA, o Brasil, e o terceiro, a Bélgica (curiosamente a Alemanha, líder desse ranking, já está há muito em casa, depois do pior Mundial da sua história…) o que nos projeta para um duelo de altíssimo nível.
O SUSTO COM O JAPÃO
Desengane-se quem tomar por fraqueza insuperável o apagão que afetou a Bélgica durante mais de uma hora na partida com o Japão. Os belgas têm um cadastro complicado quando lhes é dado favoritismo (à imagem d que sucede com Portugal) e não será demais lembrar que já foram derrotados, num Mundial, pela Arábia Saudita, por 1-0. Foi a 29 de junho de 1994, no estádio RFK de Washington DC, quando a Bélgica contava, entre outros, com Michel Preud´Homme, Van der Elst, Scifo ou Marc Wilmots. Mais recentemente, no Euro 2016, quando estavam potencialmente no caminho de Portugal, perderam com o País de Gales nos quartos-de-final (3-1), num jogo em que chegaram a estar em vantagem. Os galeses acabaram, depois, nas meias-finais, por ser presa fácil para a turma das quinas que só parou, com a taça na mão, a 10 de julho, no Stade de France.
Provavelmente, a única diferença do jogo dos belgas com os japoneses relativamente ao que tinham feito, noutros tempos, com Arábia saudita e País de Gales, foi o pequeno detalhe de terem vencido e, assim, acederem aos quartos-de-final de Kazan.
O ESPÍRITO DE 1986
O ano de 1986 representou o cume da glória dos Diabos Vermelhos. Com uma equipa fortíssima, que encantou a Europa no início dessa década, fruto da coligação Anderlecht/Bruges/Standard de Liège, a Bélgica apresentou, no México, um futebol de gala, apenas cedendo à força imparável de Diego Maradona, nas meias-finais. Jean Marie Pfaff, Eric Gerets, Franky Vercauteren, Enzo Scifo e Jan Ceulemans deixaram os nomes escritos com letras de ouro nesse Mundial. Na sexta-feira, outra geração fantástica vai tentar ser desmancha-prazeres para o Brasil, apostando numa «zebra» para as casas de apostas, que pagam o triunfo do Brasil com 2.05 e a vitória da Bélgica com 3.75.
OS ESTRANGEIROS
Dos 23 jogadores chamados por «Bob» Martinez para este Mundial, apenas um, Leander Dendoncker, joga na Liga belga, representando o Anderlecht. Do lado do Escrete as coisas não são muito diferentes. Somente Fagner (Corinthians), Cassio (Corinthians) e Geromel (Grémio) disputam o Brasileirão, e destes três só o primeiro é titular na equipa de Tite.
A Bélgica sabe o que é ganhar um jogo de oitavos-de-final de um Campeonato do Mundo. Há quatro anos, na Arena Fonte Nova, de São Salvador da Baía, venceu os Estados Unidos (que deixaram Portugal pelo caminho) por 2-1, com golos de De Bruyne e Lukaku, num jogo que teve prolongamento. Dias depois, no Mané Garrincha de Brasília, os belgas perderam por 1-0 com a Argentina (Higuain, 8m) após uma partida muito equilibrada, de grande incidência tática. Valeu à equipa de Messi a experiência acumulada, frente a uma Bélgica que mantém, quatro anos volvidos, praticamente o mesmo onze.
A LUTA A MEIO-CAMPO
Depois de vista e revista a eficácia de Fellaini no jogo com o Japão, poucas dúvidas restarão quanto à titularidade do pupilo de José Mourinho frente ao Brasil. A Bélgica deverá usar o mesmo trio a meio-campo que defrontou a Argentina há quatro anos, em Brasília: Wisel, Fellaini e De Bruyne, nenhum deles a acusar veterania, todos eles mais experientes e melhores jogadores que em 2014.
Do lado brasileiro, perante a ausência, por castigo, de Casemiro (o ponto de equilíbrio não só do Escrete mas também do Real Madrid tricampeão europeu…) a entrada em ação de Fernandinho é a solução mais provável, com os perigos de falta de mecanização com Coutinho e Paulinho, inerentes. Na luta neste setor do terreno poderá estar a chave da partida. No entanto, face à enorme qualidade dos ataques em presença (na Rússia, a Bélgica marcou 12 golos em quatro jogos!), na eficácia e da inspiração de Neymar e Gabriel de Jesus ou de Mertens e Lukaku também se jogará boa parte desta eliminatória.
Mas se, na luta a meio-campo vamos ter dois colegas de equipa frente a frente, Fernandinho e Kevin de Bruyne, do Manchester City, virá do Chelsea a «briga» mais importante do jogo, dois companheiros do Chelsea, Willian e Eden Hazard, um e outro os principais aceleradores das suas equipas. Willian esteve excelente contra o México.
Falta falar das defesas. Dois grandes «goleiros», do top ten mundial, e um quarteto brasileiro que parece muito afinado (regressará Marcelo?), enquanto que a Bélgica tem mostrado mais hesitações. Martinez vai desfazer a lógica de três centrais? Será melhor que o faça, porque povoar a zona central contra avançados-fantasma, de enorme mobilidade, como são Gabriel de Jesus e Neymar será suicídio.
Em suma, um grande jogo em perspetiva, alguns dos melhores futebolistas do mundo à procura de um título para eles inédito e no meio de muita incerteza algum favoritismo para o Brasil, pelo futebol que tem mostrado e não só. Nestas horas de aperto, as cinco estrelas que pairam sobre o emblema do Escrete, são fonte de grande conforto.
JOSÉ MANUEL DELGADO,
Diretor Adjunto do jornal A BOLA