A idade é um gosto

OPINIÃO17.03.202106:00

Cristiano (36 anos) e Pepe (38) continuam a ser imprescindíveis nos respectivos clubes e na Seleção: é no relvado que se vê quem é quem

M UITO se falou nestes últimos dias de Cristiano (36 anos) e Pepe (38), os dois futebolistas portugueses com melhor currículo. Como bem lembrou o João Bonzinho na última sexta-feira, eles têm muitos pontos em comum, como por exemplo ambos terem saído cedo de mais (e de forma absurda) do Real Madrid - podemos acrescentar à lista o terceiro futebolista português com melhor currículo, Luís Figo, que também saiu precocemente da casa branca pela porta pequena. Bem sabemos que o maior clube do Mundo não é propriamente conhecido por ter uma boa relação com as suas figuras históricas, mas não deixa de ter piada perceber o que episódio CR7-Juventus (na sequência da eliminação da Champions) revelou, quase três anos volvidos sobre a saída do português.
O simples rumor de que Cristiano podia abandonar a Juventus no final da época e, eventualmente, regressar a Madrid, provocou um terramoto noticioso/especulativo na Imprensa e nas redes sociais espanholas e mostrou, à evidência, quão grande é a saudade que o madridismo tem de Ronaldo. Por madridismo entendam-se adeptos (vale a pena passar pelas caixas de comentários do AS e da Marca); jornalistas e opinion makers afetos ao Real (delicioso o depoimento apaixonado de Tomás Roncero no AS, no decurso do qual também elogia Pepe…); jogadores merengues (as declarações de Sergio Ramos e Benzema não deixam dúvidas); bem como o próprio treinador Zinedine Zidane, cuja admiração por Ronaldo é há muito conhecida. Falta saber o que pensa do assunto o presidente Florentino Pérez. Ninguém sabe, neste momento, se e em que condições pode CR7 voltar ao Real Madrid, mas não é preciso ser muito perspicaz para perceber que esse é um desejo profundo do madridismo, naturalmente frustrado por ver o seu maior goleador continuar a bater recordes de eficiência longe do Bernabeu.  
O regresso a Madrid seria um passo lógico. Esta equipa da Juventus é demasiado curta para o estatuto, a ambição e os hábitos de Ronaldo que, convém lembrar, competiu 15 anos seguidos sempre inserido em plantéis excecionais (Old Trafford primeiro, depois Bernabéu) comandados por treinadores de topo (Alex Ferguson, Mourinho, Ancelotti, Zidane…). Os últimos dois anos em Turim (com Maurizio Sarri e Pirlo) deverão ser os menos entusiasmantes da carreira de CR7, tão pouco joga a Juventus e tão vulgar (para uma equipa que se reclama de topo…) é a maioria dos seus colegas de equipa. Há sempre a estafada questão da veterania, que Cristiano e Pepe desmentem categoricamente no relvado - o único sitio onde se vê quem é quem -, mas, admitamos, não deixa de parecer estranho pensar num Real Madrid a estrear o renovado e futurista estádio Bernabéu… enquanto ataca a Champions com o mesmo núcleo duro do fabuloso tetra de 2014, 2016, 2017 e 2018. Ou seja, Sergio Ramos (34), Toni Kroos (31), Benzema (33), Luka Modric (35) e Cristiano (36)… só que quatro anos mais velhos! Como tem escrito a Imprensa de Madrid, o Real e Cristiano só perderam com a separação (mais o Real, que não fez nada para a impedir…) e não há dúvida de que isso é particularmente verdade na Champions. Mas não só. O José Caetano publicou um trabalho na BOLA 3-D onde mostra a diferença brutal entre o Madrid com Ronaldo (máquina goleadora com média de quase três por jogo) e sem Ronaldo (vai com 60 golos em 36 jogos depois de falhar a centena na época passada…); aquilo que mais incomoda os adeptos realistas é o facto de Cristiano, com 36 anos, continuar com um registo goleador excecional: 23 golos em 23 jogos na Serie A e um total de 95 golos em 122 jogos pela Juve dispensam qualquer comentário. «Ele podia estar a marcá-los aqui…», lê-se numa caixa de comentários de um diário espanhol. É exatamente isso.
 

Ronaldo e Pepe são referências da Seleção


INAMOVÍVEIS

Entretanto, Fernando Santos fez a convocatória para os primeiros jogos de apuramento para o Mundial de 2022 (Catar). Na lista há seis trintões, sendo que um deles (o guarda redes Anthony Lopes, de 30 anos) é habitual suplente do titular Rui Patrício (33), que angustiou o país desportivo na noite de segunda feira - um choque aparatoso felizmente com consequências menos gravosas do que se chegou a temer. Cristiano e Pepe continuam a ser as maiores referências da Seleção, onde o histórico João Moutinho (34 anos) também continua de pedra e cal pese embora a abundância de centrocampistas de qualidade. Tenho curiosidade de ver se André Silva - grande época e muitos golos em Frankfurt - será novamente o parceiro de Cristiano;  e a certeza que temos uma grande dupla de centrais com o colosso Pepe e o jovem Rúben Dias, que se afirmou de forma magnífica no City e na Premier League. Sem esquecer, a propósito, o incombustível José Fonte (37), companheiro de Pepe na saga mágica do Euro-2016, que tão boa campanha tem feito no Lille (35 jogos, 3 golos), o surpreendente líder do campeonato francês.
O futuro é naturalmente da juventude. Mas a idade é um gosto.

N OVAMENTE com dez pontos de avanço sobre o 2.º classificado, o Sporting saiu reforçado da última jornada. Não estando a jogar bem, continua a ser um líder sólido, pragmático e letal. A propalada crise exibicional dos leões, traduzida em números, diz-nos que o Sporting ganhou dez dos últimos onze jogos e só cedeu pontos no estádio do FC Porto (0-0), campeão nacional em título e uma das oito melhores equipas da Europa. Em 35 anos de jornalismo, já vi crises leoninas bem mais dramáticas. Os adeptos leoninos fazem contas e os mais otimistas dizem assim: «Se só perdemos oito pontos em 23 jornadas, vamos perder dez pontos nas onze que faltam?!?» Nunca se sabe. Mas o raciocínio é lógico.
As convocatórias de Fernando Santos e Rui Jorge espelham o crescimento competitivo dos leões: Nuno Mendes e João Palhinha nos AA, mais Pedro Porro na seleção espanhola; Maximiano, Daniel Bragança, Pedro Gonçalves e Tiago Tomás nos sub-21 que vão jogar a fase de grupos do Europeu na Eslovénia e na Hungria. E João Mário, pelo que tem andado a jogar, podia perfeitamente ter sido chamado por Santos. É cá uma crise, esta do Sporting. Rúben Amorim não dorme.