A goleada de Varandas

OPINIÃO25.10.202107:00

Minoria ruidosa, e aqueles que para ela olhavam como sinal de esperança, percebeu que é só isso mesmo: uma minoria que faz barulho

FREDERICO VARANDAS queria as contas aprovadas e teve-as. Frederico Varandas queria um voto de confiança dos sócios e eles deram-no. Frederico Varandas queria passar uma mensagem de força para o exterior e, acima de tudo, para o interior do Sporting e no fim da noite de sábado a mensagem não podia ter sido mais forte. Frederico Varandas arriscou (não se tem dado nada mal o presidente leonino com o lema que o parece guiar desde a contratação de Amorim, o célebre pode correr mal, mas e se correr bem?) e venceu em toda a linha. De forma esmagadora. De modo inequívoco. Sem margem para dúvidas.
Não sei se alguém alguma vez olhou para a Assembleia Geral de sábado como uma mera Assembleia Geral de aprovação de contas. Mas sei que nunca olhou para ela dessa forma Frederico Varandas. Nem a encararam como tal os sócios do Sporting. Muito menos a oposição - a que conta, não aqueles que avançarão só porque sim... - ao presidente do Sporting, que a cinco/seis meses das eleições vai contando espingardas para decidir se avança ou não contra o atual presidente, porque esse, é claro, avançará, como só podia mesmo avançar tendo em conta o que foram os últimos quase quatro anos. Não, Frederico Varandas, os sócios e a oposição, mais ou menos declarada, olhavam para esta Assembleia Geral como uma espécie de barómetro ao sentimento das bases quanto ao trabalho da atual Direção. Porque não tendo nunca sido Frederico Varandas um presidente consensual, havia ainda quem acreditasse que, apesar dos excelentes resultados desportivos da última época (a melhor, no futebol e nas modalidades, do Sporting em muitos anos), os sócios poderiam não estar do lado desta Direção. Era uma crença sustentada, acima de tudo, em duas perspetivas (sabe-se hoje) altamente enviesadas: 1) o estado de alma das redes sociais, onde todos encontram espaço para verbalizar opiniões mas que são, maioritariamente, aproveitadas para criticar e quase nunca para elogiar; 2) o chumbo das contas em duas Assembleias Gerais anteriores, não pelo chumbo em si mas acima de tudo pelas dúvidas que deixaram no ar aqueles que, ficando em casa, permitiram que uma minoria mobilizada (não contra as contas mas contra Varandas) chumbasse, duas vezes seguidas, o documento apresentado pela Direção. Que dúvida era essa? Se Varandas conseguira, com os vários títulos nas modalidades e, acima de tudo, no futebol, tornar-se mais consensual junto do universo leonino. Era, no fundo, na ausência de resposta a esta pergunta que se movimentavam aqueles que viam (e alguns continuarão a ver, acredito) nas próximas eleições a oportunidade de destronarem o atual presidente do Sporting.
Pois bem, a Assembleia Geral de anteontem acabou, de vez, com as dúvidas. Varandas, já o escrevi noutro espaço neste jornal, fez uma jogada arriscada, sim, mas muito inteligente. Marcou a AG para um dia de jogo em Alvalade a apelou à maioria silenciosa que mostrasse à minoria ruidosa, e àqueles que para ela olhavam como um sinal de esperança, que era mesmo apenas isso: uma minoria ruidosa. A resposta foi bem audível. Cerca de 84 por cento dos sócios não só aprovaram de vez as contas do clube como mostraram, de forma bem evidente, estarem com Frederico Varandas. Ponto final.
Varandas saiu, portanto, bastante reforçado desta espécie de luta pelo poder. Não só porque viu estar certa a sua ideia de que a maioria dos sócios estava com ele, mas porque fez, de certeza, diminuir o número de possíveis adversários nas eleições de 2022. Sim, é verdade que ainda falta quase meio ano e muita coisa irá, de certeza, acontecer até lá. Aliás, basta olhar, sem ser preciso sair do universo leonino, para o que aconteceu a Bruno de Carvalho - passou de eleito com mais de 86 por cento dos votos a destituído por decisão de mais de 70 por cento dos sócios em pouco mais de um ano - para perceber quão voláteis são as maiorias, por grandes que sejam, num clube de futebol. Mas a verdade, aquela que saiu da Assembleia Geral de anteontem, é que apenas uma hecatombe tirará a reeleição de Frederico Varandas no próximo ato eleitoral do Sporting. Provavelmente, mesmo que a segunda volta seja aprovada até lá, logo à primeira...