A formação!...
Nas duas últimas semanas, e, muito em particular na que está a terminar, muito se tem falado em formação. Por um lado, Luís Filipe Vieira que, com lágrimas ou sem elas, sonha com um Benfica campeão europeu partindo de jogadores da formação, e, por outro, a formação do Sporting que, com dez jogadores dela oriundos, ao serviço da Selecção Nacional (e um outro - Dier - ao serviço da seleção inglesa) a tornou, não em sonho, mas na realidade, campeã europeia! Pode-se dizer que a formação do Sporting ganhou um campeonato da Europa!
Tenho sérias dúvidas que, pelo caminho que trilhamos, o sonho do Benfica se possa tornar realidade; tenho como seguro que, se parte daqueles jogadores tivessem feito as suas carreiras no Sporting (ou em qualquer outro clube português) não conquistariam um título daquela dimensão, como é aquele que ainda ostentam - campeões da Europa.
E faço estas duas afirmações porque entendo que, mesmo que tivesse havido ou venha a haver, dinheiro para aguentar os jogadores, o futebol português não tem competitividade que lhes permita atingir títulos dessa grandeza. Na época de 2017/2018, o campeão português, Sport Lisboa e Benfica, na fase de grupos fez zero pontos. Eu acho que isto diz tudo, não ficando muito por dizer.
No futebol português, sobre tudo aquilo que pode ser importante, não se fala. Sobre o resto, independentemente da maior ou menor importância do tema ou assunto, berra-se, fruto de uma arrogância, incompetência e ignorância que chegam a ser confrangedoras. E quando temos alguém que é o maior expoente do futebol nacional não descansamos enquanto não o reduzirmos a pó. Somos invejosos e ingratos, produtos de uma formação em que o padrão não é a excelência, mas a mediocridade do carácter e da inteligência.
A Federação Portuguesa de Futebol, que está acima dos clubes, ainda vai fazendo alguma coisa pelo futebol nacional, tanto ao nível da formação, coordenada por um um homem e treinador de excelência, como ao nível da seleção sénior. Ambas já com títulos significativos, fruto de um trabalho sensato e competente, sem grandes alaridos ou arrogâncias despropositadas. Temos bons treinadores e grandes jogadores. É só aproveitar, com bom senso, os técnicos e os praticantes.
Por seu turno, existe a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, outrora chamada, talvez mais adequadamente, de Liga Portuguesa de Clubes de Futebol Profissional. Na verdade, embora não pareça, são os clubes que formam a Liga, transportando para ela tudo o que têm de pior, a ponto de ela se transformar numa des...Liga! Agora já nem se fala em clubes, mas apenas em futebol profissional, como se os clubes tratassem do futebol profissional! Nem dentro, nem fora da Liga se discute o futebol profissional ou simplesmente o futebol!
A comunicação social também não ajuda - e cada vez menos - a tratar os assuntos respeitantes ao futebol profissional (e não só) de uma forma séria. Em vez de reflexão, o que existe são conversas de pátio, discussões de faca e alguidar ou de tascas de má fama, onde já nem o fado se canta.
Portanto, quando falamos na formação dos jogadores, eu encaro essa questão como sendo da maior importância, designadamente no que respeita ao meu clube, mas sempre com um sorriso nos lábios, porque essa conversa tem sempre subjacente a questão financeira, particularmente, olha-se a formação na perspectiva da sobrevivência dos clubes e não do seu desenvolvimento e competitividade desportiva. E quando é o dinheiro que impera nessas questões, é óbvio que a verdade desportiva está em causa, porque esta, quando mete o vil metal, já está comprometida.
A questão da formação em Portugal não se resolve de cada um por si ou olhando apenas para o próprio umbigo. Se não há dinheiro, vendem-se os melhores jogadores da formação, alguns ainda antes de se tirar qualquer rendimento desportivo dele. Se se quiser manter a formação, pergunta-se como manter, num país como o nosso, os melhores jogadores? Eu, para mim, tenho a resposta. Mas gostaria que ela fosse discutida por todos os clubes e seus dirigentes com frontalidade, realismo, bom senso, sem demagogia e com alguma educação. Será isso possível, neste momento?
Sinceramente, eu penso que não. Antes de nos preocuparmos com a formação técnica e física dos jogadores e mesmo da sua formação como homens, com princípios e valores, temos de nos preocupar com a formação de carácter dos que têm o papel de dirigentes no futebol português. Formadores, do ponto de vista técnico e físico, teremos em abundância, e ao nível dos melhores. Mas exemplos de carácter não teremos muitos ao nível de dirigentes.
Quer queiramos, quer não, o problema da formação é sobretudo um problema de recursos humanos na área da formação, embora as estruturas que apoiam também sejam importantes. Mas o exemplo do que afirmo é justamente o Sporting, que fez da formação um dos grandes orgulhos do Sporting sonhado por José de Alvalade, a partir de um campo pelado em frente à porta 10-A e meia dúzia de quartos construídos numa bancada. Obra de grandes treinadores e dedicados dirigentes. Os tais do meu tempo de que me orgulho. Do meu tempo que acabou.
E para não falar do Aurélio Pereira, que já não precisa dos meus comentários, vou recordar apenas um dirigente - Miguel Ribeiro Telles - que juntamente com o Professor Mil Homens, estupidamente afastado da formação - e outros grandes dirigentes como o José Manuel Torcato, que poderia continuar a ser útil, e outros, que elevaram formação a um patamar de excelência. Pois é: aquele grande sportinguista e dirigente de excelência, que tratava da formação com a dignidade que uma Academia merece, também ele saiu de Alvalade como um croquete. Pobre clube, onde se enraizou a ideia do pastel de bacalhau, frito em óleo requentado numa tasca ordinária!...
Querem fazer formação? Formem primeiro os dirigentes, explicando-lhes, como dizia alguém, que o carácter não é uma coisa que já não se usa como um berloque de um relógio!...
Uma nota final
Com pompa e circunstância foi apresentada a nova grelha da Sporting TV. Dezenas de convidados e colaboradores da Sporting TV. Não fui convidado, embora durante muito tempo tenha dado a minha colaboração, a uma televisão onde sempre fui considerado como da casa.
Respeito a nova política de comunicação do Sporting, cujos responsáveis aliás já vêm da campanha eleitoral, para unir os sportinguistas. Mas compreendo e aceito que não mereça o convite. Sem azedume ou amargura. Agora que foi feio, foi!...