A fisicalidade no líder político

OPINIÃO18.07.202004:00

É desconfortável como a fisicalidade em líderes políticos recupera agora a importância. Noutros tempos assim o foi, noutras culturas ainda o é, mas no meu tempo e cultura não me lembro de o ter sido. Há um culto restaurado de beleza e saúde no líder político que é marca de ditadura, de transmissão de ideal de invencibilidade, e até imortalidade. Este lamento remete, pois, logo para Bolsonaro, o imune a vírus, o que não os apanhava e se os apanhasse logo os venceria - «Sou um atleta», disse -, ou para Trump, que depois de ter sido visto a descer devagarinho uma rampa, como um velhinho, tem-se esforçado por reafirmar uma certa capacidade física. A isto se junta a ideia do macho indisponível para máscaras.


Acontece que estas ideias se expressam também de formas quase impercetíveis no discurso social. Recordemos os comparativos feitos às alturas dos primeiros-ministros português e espanhol, e aos presidente e rei, aquando da recente reabertura de fronteira. Eles, altos, nós, baixos. Li legendas e jornais importantes que era isto, justamente, que destacavam.


Sabe-se que preferimos a beleza. Desde logo à partida, porque nos atrai, mas também depois. É a ciência que o diz, como a que sustenta um artigo lido no Politico, a respeito de um estudo do MIT que  concluía que a aparência persuade as escolhas democráticas. Talvez tal seja pouco democrático, contudo é bastante humano, pouco a fazer. Nem todas as escolhas políticas são tão escalonadas, demoradas ou consolatórias como a do Papa…  


O melhor será aceitar a importância que a aparência, uma certa corporalidade, tem nas nossas decisões, contudo declinar por princípio elogios do belo e atlético em causa própria. É gente fora de forma por dentro.