A figura do ano...
Entendo que a saída de Rúben Amorim nunca deverá ser por questões financeiras. Não tem preço o lema que nos trouxe: onde vai um vão todos!
H Á quatro sábados que não escrevia, dando descanso aos meus generosos leitores: o primeiro ainda em Dezembro e o mais recente, já este ano, por razões profissionais; os outros porque coincidiram com o dia de Natal e de Ano Novo, em que este jornal não saiu! A todos, um bom ano, e muito particularmente, um bom ano desportivo para o Sporting Clube de Portugal!
Deixei, pois, passar o tempo do balanço próprio do fim de ano, mas também não foi preciso, porque, no que diz respeito à figura do ano, este jornal e a concorrência coincidiram na escolha que seria naturalmente a minha: Rúben Amorim! Foram muitos - mas não demais - os artigos que dediquei a este treinador, por quem tenho a maior estima e consideração, como homem, como profissional e até como comunicador. Não lhe faço nenhum favor, porque não lhe devo favores, como ele não me deve a mim. Apenas lhe estou grato, porque me devolveu a paixão que tinha perdido pelo futebol e explicou a todos os adeptos, e particularmente aos sportinguistas, porque a minha aposta num projecto teria de ser encarnada (no sentido, não da cor, mas de assumir a natureza humana) por uma personalidade como Rúben Amorim, a quem já designei de sir, numa analogia clara com Alex Ferguson, essa figura lendária do Manchester United e do futebol em geral.
Na verdade, e não é segredo nenhum, a importância que o treinador, na minha ideia, deve ter na concepção e execução de um projecto de uma equipa de futebol nos tempos que correm, e que pouco tem a ver com o nível teórico que adquiriram, pese o conhecimento teórico indispensável. Tem a ver, sobretudo, com as suas qualidades de carácter, inteligência (e não apenas espertice), liderança, comunicação, não falando em humildade, porque essa decorre naturalmente da inteligência. A arrogância é sinal exatamente do contrário...
Foi, na realidade, a figura do ano e como sportinguista apenas desejo que seja a figura de muitos anos para o futebol do Sporting. E que seja este o caminho noutras modalidades, que aliás já é seguido no futsal e no hóquei, como os exemplos mais frescos e mais retumbantes, nacional e internacionalmente.
Não sei quais os desejos, aliás legítimos, nem quais as ambições, também legitimas de Rúben Amorim no que respeita ao seu futuro, mas bem gostaria que realizasse no Sporting Clube de Portugal essas ambições e esses desejos, porque todos nós temos esses desejos e ambições para o Sporting Clube de Portugal. E estou certo que com ele o conseguiríamos, pelo que entendo que a sua saída nunca deverá ser por questões financeiras. Não tem preço o lema que nos trouxe: onde vai um vão todos!
... E A FRACA FIGURA DO FIM DO ANO!...
J ESUS e o Benfica lembram-me as histórias dos casamentos, quer por amor, quer por interesse. Jorge casou com o Benfica por interesse, porque aquele que se dizia (e com verdade) que era o seu amor, não o tinha querido até então. Esteve seis anos casado para os lados da Luz, até que o dono da casa de morada de família lhe pôs as malas à porta e o mandou dar uma volta ao bilhar grande ou ao Catar, para não ir para o Norte ou para o outro lado da 2.ª Circular.
Enganou-se o senhorio da Luz - o Sr. Vieira - e logo aproveitou o da casa de Alvalade - o Sr. Carvalho - dentro do princípio de que não há amor como o primeiro. Nem chegou a pousar as malas, nem as bagagens. O amor tomava o lugar do interesse, ainda que os valores materiais não tivessem sido descurados. Todos sabiam, e sabem, dos seus hábitos caros.
Do lado da Luz só faltou mesmo o seu apedrejamento na praça pública, porque os insultos, as injúrias e as difamações vindas de lá, quer dos diretores, quer dos cartilheiros Guerra e do ora deputado Ventura, foram incessantes, tendo aliás larga influência na sua nova relação. Não satisfeito, o pretensamente marido atraiçoado levou o despeito ao ponto de lhe mover uma acção de indemnização de catorze milhões, que em plena vigência do casamento de Alvalade terminou por um acordo. Nem um, nem outro tiveram vergonha em fazer esse acordo. O interesse voltava a vencer o amor e, neste caso, também a dignidade.
Terminado o casamento de Alvalade, uma viagem pelas Arábias, onde não impera a monogamia, e depois o Brasil, o Rio de Janeiro e todo o encanto do samba, do carnaval e das praias. Um casamento feliz com o Flamengo, com consequências alegadamente inalcançáveis por outros, mas que Abel desmistificou!...
O senhorio da Luz nunca se conformou e não fez o acordo por acaso. E, apertado pelos que queriam o seu lugar, foi ao Brasil buscá-lo. E veio: para render o triplo e arrasar! Espantado com as alterações das estruturas entretanto realizadas nas casas da Luz e do Seixal, disse num assomo coerente com os seus hábitos caros de que falei: agora só faltam bons jogadores. Na minha modesta, modestíssima, opinião terminou, com o balneário, a lua de mel que não se chegou a iniciar. Falei disto muita vez, certo que seria o balneário a despedi-lo.
E foi assim que terminou, sem honra, nem glória, aquela reconciliação judicial, e não só: demitido pelos trabalhadores do balneário, com a anuência do presidente/patrão, que ainda não esqueceu, para mal dele, o dito cheiro daquele local sagrado. Curiosamente, quem arrogantemente se referia ao balneário como algo inatingível pelos simples mortais e treinadores de bancada, não foi capaz de perceber que não o conquistou desde que voltou. Da bancada vieram os lenços brancos, mas foi do balneário que veio a machadada final, desta vez ajudada por quem ainda só descalçou uma bota e se não adaptou ao fato e à gravata de presidente!
Nem nas novelas, brasileiras ou portuguesas - e esta teve vários actores de um lado e de outro -, o fim seria tão óbvio!...
EDGAR VITAL
C ONHECEMO-NOS no Liceu Camões, no mesmo ano e na mesma turma. Com a mesma idade; fizeste 75 anos e eu, se Deus quiser, fá-los-ei em Abril. Ficamos logo amigos, porque miúdos de dez anos logo nos identificámos por uma paixão comum: o Sporting, a quem dedicámos uma parte substancial da nossa vida. Tu ainda mais do que eu porque o serviste, sem te servires, como atleta e depois como dirigente; eu também procurei servir o clube, sem também me servir dele, mas não posso deixar de reconhecer - e estar grato - pela projecção que o clube deu a algum mérito que possa ter.
Lembro-me bem da tua tristeza quando o Sporting acabou com o basquetebol após sermos campeões com aquela extraordinária equipa que tínhamos e que - parte dela - foi campeã no Queluz, se não me falha a memória. Curiosamente, foi por causa desse fim do basquetebol no Sporting que eu - que terminei o meu primeiro mandato como vice-presidente de João Rocha, mas fiquei por inerência no Conselho Leonino - tive a possibilidade de ser presidente do Conselho Jurisdicional da Federação Portuguesa de Basquetebol, com o então presidente da Direcção desta, general Hugo dos Santos. Não esqueço a influência que tiveste no convite e na minha aceitação. Foste e serás sempre uma figura na história do Sporting e particularmente do seu basquetebol.
Se a vida foi injusta para ti no final, ao menos deixou-te viver a felicidade e a alegria do regresso do basquetebol, e de forma vitoriosa. Mereceste e agora podes descansar em paz. Voltaremos um dia destes a reviver o jogo das caricas no passeio do pátio do Liceu Camões. Por agora, uma palavra apenas para o Edgar Vital: OBRIGADO!