A Europa que não nos engana
Os ‘grandes’ partem com naturais expetativas de apuramento na Liga dos Campeões, mas todos os três reclamam tempo de maturação
A prova do algodão. Provavelmente, ainda não o será para o Benfica, moralmente obrigado a vencer os israelitas do Maccabi Haifa a fim de começar a garantir serviços mínimos - leia-se eventual terceiro lugar, antes de atacar, já em Turim, a Juventus na luta direta pelo acesso aos oitavos -, mas a Liga dos Campeões está já aí para testar o real valor dos três grandes em contexto continental. As visitas a Madrid (Atlético) e Frankfurt (Eintracht) fazem disparar desde logo o nível de dificuldade respetivamente para FC Porto e Sporting, ainda mais depois dos sinais recentes dados por modelos a precisar de tempo e consolidação.
Conceição reverteu o losango para o 4x4x2 mais linear, com o acentuar no futebol direto e ênfase na segunda bola. O prémio foi o primeiro golo, marcado por Taremi, que desbravou o caminho diante do Gil Vicente. Sem Vitinha, Fábio Vieira e Sérgio Oliveira, a solução de recurso caiu com estrondo em Vila do Conde e fez com que as apostas em Marcano e Bruno Costa, sobretudo, fossem colocadas em pausa. Pelo investimento e pelo potencial, Carmo era questão de tempo. Já Bruno Costa teima em não afirmar-se, abrindo a porta a Eustaquio, que aproveitou a deixa, com duas assistências. Só o tempo dirá se chega, mas o exame no Metropolitano trará algumas respostas.
Amorim foi traído pelo mercado, a partir do momento que perdeu Matheus Nunes, um do seus jogadores nucleares, talvez o mais importante, a par de Pedro Gonçalves. A retoma no Estoril serviu para o estancar de uma crise que tinha já antes colocado os leões a oito pontos da liderança e lhes retirara margem de erro na Liga. O jogo da Alemanha - tal como o de Madrid para o FC Porto, embora aqui Conceição possa tentar capitalizar o lado emocional com as exibições e a injustiça da época passada - surge demasiado cedo. O Eintracht acaba de golear o Leipzig por 4-0, tem um ataque muito perigoso com Götze, Kamada, Lindström e Borré, entre outros, um ambiente abrasivo desde as bancadas e uma verticalização que criará problemas. Por outro lado, para o FC Porto, o Atlético, concorrente direto na luta pelo primeiro lugar, conta com manancial excessivo de talento tendo em conta o modelo extraído a partir da costela italiana de Simeone. As bolas paradas e o cinismo dos colchoneros no aproveitamento das oportunidades poderão causar estragos, e o habitual espírito combativo dos dragões terá de camuflar lacunas que ficaram do verão.
O Benfica, para lá do Maccabi, deixa-nos com a dúvida: até que ponto o modelo mais romântico de Schmidt não terá de levar múltiplos ajustes perante PSG e Juventus, equipas com qualidade suficiente para queimar rapidamente as linhas de pressão até à baliza de Vlachodimos e punir fortemente os encarnados? Se abdicar da filosofia nunca é bom, os encarnados terão de apontar a um nível de perfeição dificilmente atingível. A ver.