A dupla solidão
1 - Amanhã, no Funchal, o Benfica tem uma outra final. Diria , mesmo, e já que joga antes do Futebol Clube do Porto, tem a final. Como, aliás, e em outra perspetiva, o Marítimo tem, igualmente, um jogo bem importante. Este Marítimo tem três jogos em casa - Benfica, Famalicão e Rio Ave - e três jogos no continente - Boavista, Santa Clara e Vitória de Guimarães . E sabe que tem de fazer pontos para que não fique aflito para as contas finais esta Liga inédita. E o Benfica não pode ignorar que a disputa pelo terceiro lugar vai ser renhida e que o Futebol Clube do Porto recebe no Dragão este Sporting , que está a crescer bem, e que defronta o Sporting de Braga na derradeira jornada . E nesta mesma o Benfica e o Sporting confrontam-se num dérbi sem público e que pode ser determinante para as decisões finais do acesso direto às competições europeias de clubes. Na verdade faltam seis jornadas, dezoito pontos e há diferentes lutas pela Europa, suas competições e acessos, e decisões relevantes pela manutenção na Liga que ainda será NOS na próxima época. O que evidencia uma singularidade comunicacional por parte de uma empresa cotada na Bolsa e com especificidades quanto à estrutura do seu capital social. O que mostra que somos, mesmo, um País em que alguns , cada vez menos, se julgam mais espertos, porventura mais inteligentes e , poucos mas dizendo-se firmes, indiscutivelmente de uma arrogância perturbante! E a palavra humildade , tão ignorada, poderia ser aqui interiorizada. Diria, assumida. Mas o fundamental é o Benfica, este Benfica que nos provoca intensa dor, conquistar os três pontos na Madeira. Amanhã, Dia de São Pedro, o primeiro Bispo de Roma e, logo, o primeiro Papa. Sabemos que o seu nome original era Simão Pedro mas Jesus Cristo altera-o para Pedro, que significa pedra, rocha! E, amanhã, o Benfica tem de fazer sorrir a sua imensa alma e reafirmar a fé numa reconquista complexa e bem difícil. Mas com os três pontos no Funchal ainda é possível acreditar! Na nossa solidão, ou na convicção do nosso Padre António Vieira, na «felicidade da solidão».
2 - Sabemos, também com Pascal, que «se os homens soubessem o que dizem uns dos outros , não havia quatro amigos no mundo»! E lemos , em Nietzsche que «os insetos picam, não por maldade, mas porque também desejam viver . O mesmo acontece com os críticos: é o nosso sangue que pretendem, não a nossa dor»! E já Óscar Wilde nos advertia que «é perfeitamente monstruoso constatar que as pessoas dizem nas nossas costas coisas absoluta e inteiramente verdadeiras»! Recordei estas frases a propósito deste “momento da Nação benfiquista! Dos pontos perdidos à angústia que tomou conta de muitos de nós! A derrota de Luís Filipe Vieira na Assembleia Geral da passada sexta-feira é um sério aviso. Se olharmos politicamente para os votos, e sua distribuição, percebemos que os sócios mais antigos reconhecem o notável trabalho de recuperação e que os sócios menos antigos sinalizam negativamente o atual momento desportivo. O que significa que há uma divisão clara e que este tempo excessivo de resultados negativos e de exibições frustrantes se expressa num voto de desilusão e numa clara sanção. O que implica perceber que, aqui, não há a felicidade da solidão. E que esta inequívoca não felicidade também invade a alma de Luís Filipe Vieira. Sabendo que, na sua solidão decisória, cada ponto perdido mais do que uma imensa dor de alma é uma clara espinha na sua liderança! E sem que haja varinhas mágicas de comunicação que minimizem os pontos não conquistados , os golos sofridos e as exibições não conseguidas. E sabendo, igualmente, que, amanhã , arranca um novo empréstimo obrigacionista e que os sinais que dele brotarem são essenciais para a SAD do Benfica. Daí que, em Dia de São Pedro, há vitórias essenciais no Funchal e impulsos relevantes no primeiro dia de um novo empréstimo!
3 - Outra solidão, diferente diga-se, vive Bruno Lage. A terrível solidão de resultados. A perturbante angústia exibicional. E, por excelência, os rumores que ecoam, alguns deles excessivamente repetidos e nunca claramente desmentidos. Sabemos bem, desde Plutarco - no seu Como tirar proveito dos inimigos! - que «é imprevidente desprezar censuras que nos sejam feitas, mesmo que sejam destituídas de fundamento. Assim, se te difamarem, por falsa que seja a invetiva, não negligencies ou desprezes o facto». O que importa é resguardo, dolorosamente uma alta dose de benevolência, diria que ser engenhoso na gestão do silêncio já que o que «fala mal acaba sempre por ouvir pior»! E o importante é ter forte espírito, inequívoca convicção e fazer de conta que não se ouve. Ou que, até, se ignora o silêncio que arrepia. E se as críticas, que as há, surgem de pessoas que querem bem elas são, em regra, úteis e proveitosas. Mesmo que ditas com emoção. É , aqui, que reside a essência da decisão na solidão. Que é uma busca íntima de felicidade. Mas que, nesta atividade de treinador, e de grande equipa, implica pontos e determina vitórias. Olhando, sempre mais, para a nossa equipa e para o seu valor do que para a outra e a sua qualidade. Que é um dado adquirido já que está no principal escalão do nosso futebol. Agora é conciliar a admiração, que se reconhece, com o afeto, que tem de se reconquistar! Com três pontos no Funchal, amanhã! Dia de São Pedro!
4 - Trinta anos depois o Liverpool conquistou , de novo, a Liga inglesa. Cinco anos depois de ter assumido a liderança desta emblemática equipa, Jurgen Klopp tem razões acrescidas para sorrir. E nós que já percorremos aquela cidade, nos sentámos naquele mítico Estádio, sentimos aquele singular e único ambiente e memorizámos aquele hino/canção que nos arrebata a alma percebemos bem a festa que, mesmo em tempo de pandemia, tomou conta de uma cidade que se orgulha de ser a cidade dos Beatles e dos Reds. Sim desde 1965 o Liverpool, que antes combinava as camisolas vermelhas com os calções brancos, veste-se todo de vermelho ! E cantando sempre You’ll Never Walk alone! Sabendo que esta canção arranca dizendo que «quando você caminhar por uma tempestade mantenha a sua cabeça erguida»! Verdade assumida em Liverpool e em Lisboa. Ou em Chaves ou na Ericeira. Ou em Coimbra ou Viseu . Ou, também, no Rio de Janeiro e na Meda!!!