A diferença entre árbitros e arbitragem

OPINIÃO28.01.201903:01

O futebol português tem laborado num erro a que já me referi noutras alturas, mas a que vale a pena retornar. A páginas tantas, entendeu-se que haveria toda a vantagem em que o presidente do Conselho de Arbitragem (CA) da FPF fosse recrutado na APAF, órgão de classe dos árbitros. Percebe-se a bondade do raciocínio e a lógica de entregar as decisões a quem conhece por dentro o fenómeno, juntando-se a isto uma presunção de unidade dos árbitros em torno do seu Conselho.

O tempo tem-se encarregado de demonstrar que mesmo uma via seguida na melhor das intenções pode conduzir ao desastre. Porquê, se estavam, em tese, reunidas todas as premissas para que a nau chegasse a bom porto?

Porque houve um pecado original que redundou em fracasso: vindos da APAF, os sucessivos presidentes do CA da FPF fizeram uma confusão trágica ao pensarem que ao defenderem corporativamente os árbitros, algo perfeitamente legítimo na associação de classe de que proviam, estavam a defender a arbitragem. Ora, os árbitros - a parte - e arbitragem - o todo - não são confundíveis e o bem dos primeiros não significa, automaticamente, a vitória da segunda.

Movidos por lógicas corporativas, os Conselhos de Arbitragem permitiram que se instalasse uma cultura de pouca exigência que manteve no ativo elementos medíocres e impediu a progressão na carreira a candidatos promissores.

Hoje, e nem o presidente do CA da FPF se atreverá a desmenti-lo, temos um quadro de árbitros de qualidade mais do que duvidosa. Há alguns anos, até ao Apito Dourado, poder-se-iam imputar a lógicas corruptas os males das arbitragens. Nos dias de hoje, creio, estamos apenas perante incompetência pura e dura, fruto de uma geração que cresceu em regime de aviário, sem perceber o jogo e as suas motivações. Há uns anos havia uma expressão simples, «pisa mal» que se aplica que nem uma luva a uma série de árbitros-proveta que não têm a mínima noção do que é o jogo.

Pedro Proença, hoje presidente da Liga, herdeiro do talento de Carlos Canuto, Joaquim Campos, António Garrido, Carlos Valente e Vítor Pereira, não poderá ter uma visão da arbitragem portuguesa diferente desta. E será preciso que quem detém o poder arrepie caminho e assuma de uma vez por todas que defender os árbitros e defender a arbitragem são coisas muito diferentes…