A desconfiança como boa conselheira...

OPINIÃO29.04.201904:00

Pegue-se no exemplo de Guardiola e perceba-se o que falhou no FC Porto. Nesta altura do campeonato não há jogos fáceis...

Os jogos da fase final dos campeonatos são sempre muito diferentes dos outros. Todas as partidas devem ser vistas com inúmeros cuidados e só os tolos é que podem pensar em facilidades quando se chega a esta altura das Ligas. Tome-se por exemplo aquilo que aconteceu ontem em Burnley, onde o Manchester City, que disputa, palmo a palmo, a Premier League com o Liverpool, venceu por 1-0 depois de muito sofrimento. Para se ter uma ideia da dificuldade destes derradeiros jogos da época, veja-se com atenção as opções de Guardiola, pai do tiki-taka e tio do jogo bonito, nos últimos quinze minutos em Burnley. Pep Guardiola não teve complexos em mostrar a sua faceta assumidamente pragmática e tirou do jogo Sterling e Aguero, dois avançados, que substituiu por dois defesas, Stones e Otamendi. O mais importante, naquele momento, para Guardiola, era preservar a magra vantagem que lhe assegurava três pontos que são sinónimo de liderança. Quem quer ser campeão tem de estar alerta e desconfiado, nunca fazendo como Mofina Mendes, sob pena de acabar a chorar sobre o leite derramado.

O que aconteceu ao FC Porto, em Vila do Conde foi um acidente de percurso, é certo, face ao que o jogo tinha mostrado, mas só foi possível pelo visível relaxamento da equipa de Sérgio Conceição, quando os jogadores pensaram que o duelo estava ganho.

Já o Benfica, em Braga, entrou desconfortável no jogo e nunca se entendeu com a pressão alta dos arsenalistas. Na primeira parte, a equipa de Bruno Lage mostrou-se inibida, retraída e a acusar demasiado a responsabilidade de não desperdiçar a ajuda dada dois dias antes pelos dragões.

No segundo tempo, o que mudou? O Benfica soltou-se e começou a ganhar ritmo e confiança. Porquê? Essencialmente porque o SC Braga gastou demasiados cartuchos, do ponto de vista físico, nos primeiros 45 minutos. Era virtualmente impossível que os minhotos aguentassem a metade complementar com  a mesma disponibilidade e, quando, por falta de oxigénio, passaram a marcar apenas à zona, o Benfica teve finalmente hipótese de colocar no relvado o futebol versátil que tem sido a grande imagem de marca da era Bruno Lage.

Com a vitória de ontem o Benfica já é campeão? Nem por sombras. Quem dormir na forma sujeita-se. Não é FC Porto?