A década dos potentados

OPINIÃO29.07.202004:00

UM golo de Cristiano lançou a Juventus para a festa do novo scudetto consecutivo (!). O clube turinense fechou a década em glória depois de a ter iniciado com um embaraçoso 7.º lugar final a 24 pontos do Milan de Allegri, campeão em 2010-11. Desde então só tem dado zebra, para alegria dos megacampeões Gianluigi Buffon (dez scudettos), Giorgio Chiellini (nove) e Leonardo Bonucci (nove). Não há registo de uma hegemonia tão longa numa liga big five e, se nos restringirmos ao futebol minimamente competitivo, é preciso recuar aos dez campeonatos seguidos do Dynamo de Berlim de Jurgen Bogs (campeão da extinta RDA entre 1978 e 1988) para encontrar uma superioridade tão vincada. Com este triunfo a Juventus tem agora tantos campeonatos (36) como os seus dois maiores rivais juntos (Milan e Inter, 18 cada qual).

Mas não é só o futebol italiano que vive em regime de monarquia absoluta. Na tradicionalmente competitiva Bundesliga - frise-se: competitiva do 2.º lugar para baixo - o Bayern Munique, provavelmente o clube mais bem gerido do Mundo, vai em oito triunfos seguidos e já tem mais títulos de campeão (29) do que todos os outros clubes juntos (28). Em França, só a incrível proeza do Mónaco de Leonardo Jardim, campeão em 2016/2017 com Mbappé, Falcao, Moutinho, Bernardo, Lemar, Mendy, Dirar… impediu que o intratável Paris SG - aliás: Catar PSG - acumulasse agora oito campeonatos consecutivos. Note-se que a superioridade doméstica do Catar PSG é tão asfixiante que se a equipa ganhar, depois de amanhã, a final da Taça da Liga ao Lyon, completa o quarto superpleno (vitória nas quatro competições domésticas) nos últimos seis anos. E vejam que mesmo assim a França, no fecho da década, consegue apresentar quatro campeões distintos, só perdendo nesse particular para a Premier Inglesa, onde o primo árabe do PSG, o Manchester City (aliás: Abu Dhabi City) exerce um domínio não tão vincado sobre a (feroz) concorrência. Cinco campeões produziu a Premier nestes últimos dez anos, sendo um deles - o  Leicester de Claudio Ranieri - protagonista de uma das mais belas e surpreendentes fairy tales da história do futebol. Feliz a liga onde o peso de mais de mil milhões injetados numa só equipa - olá Pep Guardiola - não é suficiente para garantir um ascendente do género daquele que Juventus, Bayern e Catar PSG exercem nos respetivos feudos - e não se vislumbram mudanças nos tempos mais próximos, por muito que isso incomode Inter, Dortmund e Marselha.

Comparado com isto, a liga portuguesa nem fica muito mal na fotografia da década. É a única, entre os principais campeonatos europeus, onde não houve um clube dominante (Benfica e FC Porto empatadíssimos com 5 títulos)… mas também é a única onde, nos últimos 18 anos, só houve dois campeões. O que é péssimo: a falta de competitividade conduz à monotonia (e à previsibilidade) e esta mata à nascença o interesse das competições. Está nos livros.

O italiano Massimiliano Allegri e o espanhol Pep Guardiola, ambos com seis campeonatos em dez anos (Allegri: um com o Milan e cinco com a Juve; Pep: um com o Barcelona, três com o Bayern e dois com o Abu Dhabi City), merecem uma referência especial no capítulo dos treinadores, sem esquecer o penta do treinador norte-irlandês Neil Lennon ao serviço do Celtic Glasgow que, como a Juventus em Itália, ganha a Premier escocesa há nove anos consecutivos (!). Em Portugal, quatro treinadores conseguiram o bicampeonato: Vítor Pereira (uma derrota em 60 jogos…), Jorge Jesus, Rui Vitória e Sérgio Conceição; e dois foram campeões sem perderem qualquer jogo (André Villas Boas e Vítor Pereira).

Para o ano há mais (do mesmo, provavelmente).