A contabilidade das assistências
Tenho um problema com as assistências. Refiro-me à forma como são contabilizadas no futebol, somadas aos registos, tal como golos, faltas, desarmes, interceções ou remates, de forma que me parece imprecisa. Vejamos: um qualquer canto, por mais que seja direcionado ou respeite uma jogada treinada, não deixa de ser um passe para uma área de poucos metros quadrados na qual está uma dezena de jogadores, podendo ser facilmente diluída qualquer intenção inicial no passe; e isto excluindo da análise o mero pontapé ao calhas. Em todo o caso, se um avançado marcar, pronto, conta-se uma assistência para o autor do canto.
Por outro lado, um efetivo passe para golo, um jogador que isola um companheiro, um último passe à boca da baliza, só conta como assistência se resultar em golo. Ora, por que razão o assistente só deve ver o mérito contabilizado, reconhecido nos dados das provas, se o avançado marcar? Não fez o passe na mesma? Há, aqui, um desprezo pelo mérito que já não se usa.
Cada caso é um caso e cada desporto também. No basquetebol dá-se situação inversa, somando-se assistências às vezes sem mérito. Uma abertura que deixe alguém debaixo do cesto, um alley-oop ou um passe para um companheiro livre e em zona de tiro são assistências, sim - lá está, só se a bola entrar, o que no basquetebol me parece plausível atendendo à multiplicidade de jogadas -, mas na verdade decaem depois ao nível de um qualquer passe banal que possa ser feito antes de um lançamento que pontue. Note-se: se um jogador estiver marcado e apenas quiser passar a bola a um companheiro, tirá-la dali, e se esse companheiro encestar, aquele mero alívio passa a assistência. Há, então, assistências a menos no futebol e a mais no basquetebol. Há arbítrios que a frieza oficial da estatística ainda desconsidera.