A cidade dos

O que é maior, os Beatles ou o Liverpool FC? Não apresse a resposta. Consideremos as equivalências, os tamanhos no Mundo. Os Beatles, a maior banda de sempre. O LFC, um dos grandes clubes. Os Beatles são quatro, o LFC milhares, mas ambos incitam da mesma forma a elos geracionais. O cachecol que o pai dá ao filho. Barulhos. A coleção de discos com cabeludos na capa. Sons.

Pensemos, antes,  na cidade: quem lhe pertence mais? O LFC, pois claro. Porque lhe ostenta a denominação, e aonde quer que vá a ela volta. Os Beatles, não. O local de peregrinação nem é Liverpool, é Abbey Road, Londres.

Analisemos, agora, ligações diretas entre Beatles e LFC. O clube canta um tema de pub, You’ll never walk alone. Não é de Beatles. Mas Bill Shankly usava a banda para incentivar o heroísmo local. Está num livro, Passing Rhythms. Na bancada cantavam-se números 1 dos fab four. Hoje também, às vezes. A Imagine e a All you need is love. Contudo, os Beatles não eram do LFC. McCartney é do Everton, Starr do Arsenal, Lennon e Harrison eram de ninguém, tendo ficado deste último a piada: «Há duas equipas na cidade, e eu prefiro a outra». No tempo da banda nem o Liverpool era o que é, só começou a sê-lo nos anos 70. Há um jogador do clube, Albert Stubbins, na capa do Sgt. Pepper’s. Mas também um guru hindu, o Edgar Allan Poe, o Bob Dylan, a Marilyn Monroe e o Karl Marx.

Então: os Beatles são menos de Liverpool do que o LFC. Os Beatles são menos do LFC do que o LFC é dos Beatles. A cidade é deles e mesmo assim foi de  Londres que viajaram para o Mundo. O LFC não é deles porque eles nunca o quiseram. É nesta indiferença que os Beatles são maiores. Esta desajeitada comparação, porém, é o melhor elogio que consigo ao Liverpool de Klopp.