A ‘chicologia’ como guia espiritual...

OPINIÃO25.03.201900:41

A questão parecia pacífica. E pública. Há muito que tinha sido anunciada urbi et orbi, gerando um aparente consenso. Mesmo aqueles que não se tinham conformado com os pressupostos, acabaram nem por se rebelar contra a arquitetura jurídica da solução, nem contra os timings propostos. Quando começou a temporada de 2018/2019 toda a gente sabia que iam ser três os clubes a retroceder ao segundo escalão, por forma a abrir espaço ao Gil Vicente, que se somaria aos dois primeiros da Liga 2 na aventura da ascensão.
O processo do Gil Vicente - que povoa o imaginário do futebol português desde o tempo em que o veterano Mateus, agora no Boavista, era um jovem jogador, e que, por si só, daria para uma série televisiva do calibre de A Guerra dos Tronos - parecia estar à beira de uma merecida e pacífica reforma.
Certo? Errado!
Como estamos a falar do futebol português, onde a Chicologia continua a ser a principal fonte filosófica (Chicologia era a ciência do Chico Esperto, plasmada na doutrina do futebolês por essa figura ímpar que dava pelo nome de Valter Ferreira), era certo e sabido que alguém haveria de querer agarrar-se ao primeiro destroço que encontrasse a boiar, para não ir ao fundo. Assim, pelo que tem sido possível perceber em declarações cabalísticas e numa ou noutra citação sem citado, parece estar a formar-se uma tempestade que ameaça a homologação da presente edição da Liga e a integridade da edição que se segue.
Aquele clube que acabar a Liga de 2018/2019 na 16.ª posição, a que chamaremos o lugar do morto-vivo, irá fazer tudo e mais alguma coisa para reverter a decisão de integração do Gil Vicente no convívio com os maiores.
Do ponto de vista jurídico, sabendo-se que onde está um advogado há pelo menos duas opiniões, todos os cenários são admissíveis. Porém, numa perspetiva ética, as coisas mudam de figura. A integração do Gil Vicente foi decidida e assumida às claras, e quando se iniciou a Liga de 2018/2019 toda a gente sabia quais eram as regras do jogo, quantos subiam e quantos desciam.
Quando, por vezes, nos interrogamos por que razão ninguém, para lá de Badajoz, liga ao nosso campeonato, a resposta está na forma como quem nele participa o vê. Sem sentido de bem comum e à revelia do interesse da indústria do futebol. Uma coisa menor...