A caminho dos trinta
Já com seis pontos de avanço, o FC Porto pode disparar para o 30.º campeonato se vencer em casa o Sporting dentro de três semanas
GRANDE campeonato está a fazer o FC Porto. Apenas dois jogos não ganhos (Marítimo no Funchal e Sporting em Alvalade) no decurso de uma campanha que, para já, está ao nível do melhor que se fez em Portugal. E o melhor tem três nomes: o excecional Benfica de Jimmy Hagan (tinha Eusébio, Jordão, Nené, Artur Jorge, Simões, Vítor Baptista, Humberto, Toni, Jaime Graça…), que ganhou o campeonato de 1972/1973 invicto, com 28 vitórias e dois empates em 30 jogos; o excecional FC Porto de André Villas-Boas (Falcao, Hulk, James Rodríguez, Moutinho, Guarín, Otamendi, Fernando, Varela, Álvaro Pereira…), que ganhou o campeonato de 2010/2011 invicto, com com 27 vitórias e três empates em 30 jogos. E o FC Porto patinho feio de Vítor Pereira, que também foi campeão sem derrotas (24 vitórias e seis empates) apenas dois anos depois de AVB. Como se recordarão, os adeptos portistas embirravam um bocadinho com o futebol que essa equipa jogava. Manias de ricos, enfim.
Sérgio Conceição continua a fazer o seu caminho e podemos dizer que depois desta última jornada passou a ser o favorito n.º 1 ao título. A acontecer, será o 30.º para o clube, número redondo, e o terceiro para Conceição em cinco anos. Lembro que só três treinadores portugueses conseguiram o tri: Artur Jorge (FCP), Jesualdo Ferreira (FCP, único a conquistá-los consecutivamente) e Jorge Jesus (SLB). Seis pontos de avanço não são diferença irrecuperável, mas constituem almofada muito simpática num campeonato desequilibrado como o nosso. É um facto que o FCP está muito consistente no essencial - somar pontos - mas atenção que o seu jogo apresenta, aqui e ali, intermitências difíceis de compreender e insuficiências defensivas difíceis de disfarçar. O clássico com o Sporting no Dragão dentro de 20 dias poderá desequilibrar a balança a favor de Sérgio ou, pelo contrário, reabrir completamente a luta. Lembro que se há uma besta negra no consulado de Conceição, ela é o Sporting: o treinador portista já perdeu seis títulos (!) em confronto direto com os leões. Até ao clássico, o FCP joga em casa com o Marítimo e em Arouca, enquanto o SCP joga no Jamor com o Belenenses SAD e com o Famalicão em Alvalade. É claro que Rúben Amorim, depois de encaixar duas derrotas em três jornadas, está absolutamente proibido de perder mais pontos. A pressão é mais intensa em Alvalade e o mês de fevereiro não é para brincadeiras: FC Porto no Dragão no dia 13 e logo a seguir Manchester City em Alvalade para a Champions. Duas batalhas titânicas que exigem concentração e disponibilidade máximas. E que certamente deixarão marcas para o resto da temporada.
Será curioso ver como reage o campeão a estas duas inesperadas derrotas. Apenas dores de crescimento, baixa de forma normal, ou sintoma de algo mais? Para já, não têm os adeptos sportinguistas motivos para desanimarem, tão competitivo se tem mostrado o leão na era Amorim. Aguardemos a resposta hoje com o Santa Clara, que vergou o campeão há três semanas, na ilha de São Miguel. Rúben Amorim ganhou as duas últimas Taças da Liga e o Sporting ganhou três das últimas quatro. Favoritismo dos lisboetas perante um adversário que procura, em nome do futebol açoriano, a primeira final da história - aliás, das equipas insulares, só o Marítimo chegou a finais (duas vezes na Taça de Portugal, mais duas vezes na Taça da Liga… quatro derrotas).
Fábio Vieira, Otávio e Evanilson, três atuais titulares de um dragão endiabrado
DRAGÃO MANDA NO SÉCULO XXI
SE o Benfica foi a potência dominante no século XX, muito por força das gloriosas décadas de sessenta/setenta, o FC Porto tem desempenhado esse papel no séc. XXI. De 2000 para cá, o FCP tem mais campeonatos (11), que Benfica e Sporting somados (9) e quase tantos títulos (33) como os dois rivais juntos (37). Ademais, é o único com conquistas internacionais (4) e o único que mantém presença constante nas fases mais adiantadas da Champions. Sérgio aponta ao 30.º campeonato, à 18.ª Taça de Portugal e ao 8.º título internacional do clube (ele traçou como objectivo chegar à final da Liga Europa, e sabendo-se como o FCP encara as finais europeias - não as joga, ganha-as - é como se Sérgio tivesse assumido que quer vencer a prova). Difícil nesta altura imaginar o FCP a chegar ao fim da época de mãos a abanar… mas pode acontecer.
VLACHODIMOS, MAIS UMA VEZ
GRAÇAS À categoria do guarda-redes Odisseas Vlachodimos, que negou ao avançado boavisteiro Petar Musa três golos «feitos» (dois em lances de bola corrida, mais um penalty), o Benfica volta à final da Taça da Liga quase seis anos após a última presença (6-2 ao Maritimo de Nelo Vingada em Coimbra, com Rui Vitória a festejar no banco). Pode Nélson Verissimo agradecer ao guarda-redes a agónica qualificação de ontem no desempate por «penalties» porque se alguém deixou boa imagem em Leiria foi o Boavista. Os axadrezados foram mais atrevidos, mais intensos, mais perigosos e mais rematadores, mas esbarraram na categoria de Vlachodimos que, mais uma vez, salvou o Benfica com três defesas de grande nível. Ele tem sido, de longe, o melhor jogador encarnado.
Em fase de assimilação das ideias e processos de Nélson Veríssimo, os encarnados mostraram um futebol desprovido de audácia e creatividade: os jogadores pareciam presos, com medo de se soltarem, e nem as ausências de unidades importantes como Rafa, Darwin e Otamendi explicam a modéstia exibicional de um onze que, decididamente, não consegue mandar no jogo. Dizem os entendidos que em fases de mudança / reconstrução o que importa mesmo é ganhar e foi isso mesmo que Veríssimo conseguiu. Veremos quem lhe toca na final. Se for o Sporting, julgo que o Benfica terá de elevar o nível do jogo para poder ser feliz.