A aula de estratégia de Rúben Amorim

OPINIÃO26.04.202107:00

Desde Trapattoni que não me lembro de um treinador tão pragmático no futebol português. Rúben Amorim ’ganhou’ o jogo de Braga...

QUANDO, em desvantagem numérica desde o minuto 18 por expulsão de Gonçalo Inácio, Rúben Amorim decidiu, ao intervalo, tirar Paulinho e Nuno Santos, substituindo-os por Matheus Nunes e Neto, o Sporting pode ter dado um passo decisivo rumo ao título que lhe foge há 19 anos. A opção, à primeira vista conservadora, do técnico leonino criou condições para que a sua equipa aguentasse a onda arsenalista sem danos, e ainda pudesse espreitar, numa bola parada, os três pontos com que é premiada a vitória. No futebol há tempos para tudo e Amorim, apesar de estar em início de carreira, agiu com a frieza de um veterano, ao salvar os dedos de forma a que, a seguir, pudesse ir em busca dos anéis. Ao tomar a decisão de fazer tudo para manter incólumes as redes à guarda de Adán, o treinador do Sporting prolongou a vida às expectativas de ser feliz em Braga. E não se pense que a opção foi fácil de tomar, numa partida em que o empate saberia a derrota. Mas revelou um apurado sentido estratégico, ajudado pela nuance tática de passar do 3x4x2 para um 5x4 de bloco baixíssimo, à espera de um Hail Mary ganhador.
Em 2004/2005, num Benfica-Moreirense disputado na Luz, os encarnados comandavam o jogo por 1-0 e estavam a carregar sobre os cónegos, mas vulneráveis aos contra-ataques, quando Giovanni Trapattoni, a Velha Raposa, tirou Zahovic e fez entrar o trinco brasileiro Paulo Almeida. Do Terceiro Anel saiu, imediatamente, uma vaia imensa dirigida ao técnico italiano, que se manteve impávido e sereno e sorriu quando, estancada a possibilidade de sofrer o empate, ainda viu a sua equipa aumentar a vantagem, por Simão Sabrosa. No fim do jogo, Trap explicou que ao tirar pressão sobre a área contrária, ganhou controlo e espaço para voltar a marcar. E quanto à primeira grande assobiadela que ouviu na Luz, o técnico que viria a sagrar-se campeão limitou-se a dizer: «Sou pago para fazer o que acho melhor para a equipa, e não aquilo que os outros acham.» Quando um treinador, como aconteceu com Rúben Amorim, tem convicções suficientemente fortes para ir em frente com medidas que têm tudo para serem consideradas impopulares, merece respeito. E que ninguém duvide que o triunfo dos leões em Braga começou no gelo que corre nas veias do seu técnico.
 

JOAQUIM EVANGELISTA

Eleito por maioria esmagadora para novo mandato, o presidente do Sindicato dos Jogadores viu reconhecido pelos seus associados o trabalho desenvolvido aos longo dos últimos anos, em que foram superadas limitações financeiras e edificado um estatuto sólido no contexto do futebol nacional.
 

SEBA COATES

Mais uma exibição imperial, a ajudar o Sporting a chegar a uma vitória naquele que pode ter sido o jogo do título para os leões. Um central de mão-cheia, poderoso no combate corporal, superlativo nas alturas e com uma capacidade de liderança que não se via em Alvalade desde os tempos de André Cruz.
 

MATHEUS NUNES

Um golo que pode valer um título, num momento de enorme aperto para a sua equipa. Quando ganhou espaço pela direita e cerrou os dentes para chutar para o fundo das redes arsenalistas, transformando sofrimento em esperança, ouviu-se o rugido de milhões de leões por esse mundo fora.