A angústia do jornalismo desportivo
É urgente ter a coragem da rotura e de criar um projeto de futuro, com base no conhecimento e investimento. É tempo do Estado ir além do discurso
Ojornalismo em Portugal está doente. Se pensarmos em termos de Covid, o jornalismo generalista está internado com prognóstico reservado e o jornalismo desportivo está nos cuidados intensivos e em estado crítico.
Deixemos o pormenor das causas estruturais, que são clássicas, diversas, transversais e vão desde uma evidente inadaptação das realidades funcionais das redações aos novos tempos, aos novos mercados e às novas ofertas comunicacionais, até à notória incapacidade de investimento das empresas de jornais na sua reestruturação e, assim, no seu futuro.
Falemos das últimas oportunidades de recuperação e de prolongamento de vida.
Para entender o que se torna decisivo na construção do futuro, é fundamental conhecer o que a História nos ensinou. O que ela nos revela é que o crescimento do desporto, tal como o conhecemos hoje, na sua complexa estrutura profissional, se deveu em parte muito significativa ao acompanhamento, ao interesse, até mesmo ao envolvimento da imprensa e do jornalismo desportivo. Na infância de ambos, foram irmãos na mesma casa, com o crescimento, cada qual passou a viver sua vida, mas com uma relação íntima de compromisso mútuo.
A rotura desse compromisso, sobretudo numa fase em que as principais empresas de futebol, em que se tornaram os grandes clubes, garantiram a atenção especial das televisões e criaram os seus próprios canais de comunicação, que rapidamente se tornaram concorrenciais, com a gravosa atitude de tolerância das entidades reguladoras, levaram a um afastamento progressivo da relação e, pior, a uma progressiva desvalorização do papel da imprensa desportiva na rentabilização dos clubes, das empresas que os sustentam, e de todos os seus ativos, a começar pelos futebolistas (ídolos) que passaram a ter formas mais diretas e autopromocionais para se valorizarem e se popularizarem.
O futuro não pode ser, pois, projetado com base em pressupostos que só se tornaram possíveis num certo tempo e concreto contexto. O futuro obriga, hoje, à coragem da rotura com o passado e à aposta num novo projeto de imprensa desportiva, que não poderá ser autónomo e, antes, deverá viver em casa partilhada com outras plataformas comunicacionais complementares, num equilíbrio complexo e que deve ter por base o conhecimento das exigências de um mercado que, mais do que ser protegido e mantido como leal, tem de ser conquistado numa perspetiva de renovação geracional.
Sejamos crus e diretos: o estado crítico em que vive a imprensa desportiva só sairá dos cuidados intensivos para a morgue ou para a total recuperação da sua saúde. Queremos, obviamente, a segunda hipótese. Para que tal suceda precisamos que dois fatores essenciais se possam conjugar: conhecimento, sem o qual todas as apostas acabarão, sempre, por falhar e investimento nas novas tecnologias e em profissionais qualificados nas mais diversas áreas de intervenção comunicacional.
A escolha das pessoas certas para os lugares certos é, como sempre, decisiva para um bom resultado. A oportunidade de financiamento para garantir a mudança e, não tenhamos medo das palavras, a revolução comunicacional que o jornalismo desportivo precisa, é uma questão de vida ou de morte.
Conseguirá o Estado entender que é de verdadeiro interesse nacional abrir uma linha especial de financiamento para a inovação da imprensa, em geral, e da imprensa desportiva, em particular, ou irá preferir apenas repetir o seu discurso oficial que aponta a imprensa como um dos mais importantes pilares da democracia?
DENTRO DA ÁREA – A CORRENTE DE AR E O VENDAVAL
Qualquer corrente de ar se transforma num vendaval para este Benfica. O telhado voa e toda a frágil casinha de cristal fica exposta à devastação. A segunda parte do Benfica, no Bessa, deixou à vista toda a sua fragilidade psicológica. O Boavista tornou-se tão evidentemente superior que muito antes de ter chegado ao empate se percebeu que a vantagem benfiquista ao intervalo não iria chegar. Espera-se, agora, o impacto da devastação no jogo com um adversário como o Ajax. É provável que a equipa entre com medo de si própria.
FORA DA ÁREA – A MÁSCARA NAS ESCOLAS
O governo tomou esperadas decisões no alívio de restrições que procuravam conter a pandemia. De uma maneira geral, o governo tem gerido bem esta medonha situação pandémica e terá beneficiado dessa mesma intuição popular nas últimas eleições. Porém, um dos segredos do sucesso tem estado na comunicação. É essencial que as pessoas percebam as razões da sua limitação de vida. Ora, agora, ninguém percebe por que razão continua a ser obrigatório o uso de máscaras nas salas de aula, com reconhecido prejuízo da aprendizagem.