A ‘VAR’ vamos

OPINIÃO03.03.202305:35

Estranho muito o silêncio do Conselho Arbitragem [...] uma estranha e opaca ditadurazinha num País democrático

Ofutebol vive e convive (mal) com a ideia do erro alheio. Erram o jogador, o guarda-redes, o marcador de penáltis, o treinador, o médico, o dirigente e … claro está, aquele a quem mais custa perdoar o erro (se for contra nós): o árbitro.

O erro arbitral é objecto de todas as especulações e enviesamentos. É o ponto de acumulação de estados de alma díspares, parciais e contraditórios. O erro arbitral é, em regra, involuntário (não se pode exigir aos olhos de um humano que equivalham a 30 câmaras), e é variável em função da maior ou menor aptidão, experiência ou falta dela, e domínio ou descontrolo emocional.

A introdução do VAR foi um passo positivo na demanda da verdade desportiva. O que, porém, não o isenta de críticas. E porquê? Aqui o erro assume uma natureza diferente e proporções maiores. Mais grave e menos aceitável, logo, mais passível de desconfiança.

Há dois tipos de erros possíveis do VAR. O primeiro tem que ver com erros objectivamente factuais, que não deixam margem para dúvidas e, por isso, podem levantar suspeição. O segundo é o dos erros que têm algum grau de subjectividade e, como tal, de interpretações várias. Nestes, constatamos que, umas vezes o VAR interpela o árbitro, outras não, umas vezes manda-o ir ao monitor, outras nem por isso. Numas vezes cumpre o protocolo, em outras semelhantes manda-o às malvas.
 

O erro do VAR é mais grave e menos aceitável, logo mais passível de desconfiança 


Se, no primeiro tipo de erros grosseiros, podemos falar de distorção factual da verdade, por deficiência oftalmológica ou má-fé, é, neste segundo grupo, que existem posições dubitativas, habilidosas, voluntaristas.

Em qualquer caso, na arbitragem é sempre mais aceitável o erro de não ter visto o que aconteceu do que o erro (?) de ter visto o que jamais ocorreu. Aí a imaginação pode já não ser apenas incompetência. Com a agravante de o VAR (e essa figura penumbrosa do AVAR) ter tudo à disposição para só ver o que aconteceu. O caso da falta-agressão de Pepe ao atacante do Rio Ave, que virou falta deste ao portista que fez batota, é absolutamente paradigmático. Ou, nesta última jornada, a situação mais indiscutível no jogo no Dragão ter sido a única que não teve a devida consequência, de novo protagonizada por Pepe, talvez indultado por ser … aniversariante.

Nesta matéria, estranho muito o silêncio do Conselho de Arbitragem, que continua encapsulado na sua zona de isolamento e acha que não deve dar explicações a ninguém. Uma estranha e opaca ditadurazinha num país democrático.
 

Chiquinho pegou na bateria perdida de Enzo


FOLHA SECA
A orquestra

DIZIA o guru de gestão Peter Drucker que uma organização deve funcionar como uma orquestra. Por três razões: porque, tal como os músicos, todos devem ter presente a mesma partitura; porque todos são importantes para os resultados; porque na orquestra não há muitos chefes e chefias, antes liderança e colaborativa entreajuda, em função do que cada um tem a cargo.  Neste contexto, vejo bons sinais no Benfica. Com liderança, com cada instrumentista no palco a contribuir para uma partitura futebolística harmoniosa, vindos de um “camarim” sem hierarquias perversas, em que todos respeitam todos. O maestro Roger Schmidt descobriu o prodigioso violinista António Silva, deu a Grimaldo umas refinadas castanholas para um futebol ofensivamente inteligente, proporcionou a Florentino um piano para carregar e também tocar, foi buscar Aursnes a quem entregou um afinadíssimo sintetizador, encarregou João Mário de ser o primeiro violino, e deu liberdade às cordas do violoncelo de Neres. Gonçalo Ramos tem agora ao seu dispor um xilofone com “teclas” para cada contexto e Rafa é decisivamente o mestre entre o fagote e a flauta. Guedes toca com vivacidade no acordeão de que o treinador o encarregou. Até Vlachodimos afinou o imprescindível contrafagote. Chiquinho começou com a pandeireta e agora pegou na bateria que Enzo cá deixou perdida. Otamendi tudo orienta com a sua gaita-de-foles de boa cepa. Bah e Gilberto vão aperfeiçoando as suas sanfonas. A pouco e pouco, os novos reforços vão tendo oportunidade de tocarem com o cavaquinho e o berimbau.  Chega para ter sucesso? Não, mas é um bom caminho. Não esquecendo que o palco tem armadilhas. E cuidado com os homens do pífaro… 


JOGOS FLORAIS

«Sporting e FC Porto pagam 11 milhões um ao outro em troca de jogadores: “esta operação tem subjacente um forte racional desportivo»
Mais Futebol

Ai se tivesse sido com o Benfica...

Omédio Rodrigo Fernandes foi do SCP para o FCP por 11 milhões, que pagou igual quantia ao SCP pelo extremo Marco Cruz. Já antes, o Porto vendera Francisco Ribeiro e Rafael Pereira ao V. Guimarães, tendo o clube minhoto transaccionado Romain Correia e João Mendes para o FCP. Cadê os craques? Onde estão o racional desportivo e a transparência das permutas? Aqui fica a lembrança em tempos de memória curta, instantânea e conveniente. Ai se tivesse sido com o Benfica!... 


FAVAS CONTADAS
43-45

O segundo set no jogo de voleibol Esmoriz-Benfica, acabou aos 43-45! Demorou 51 minutos. Nunca tal tinha visto. A beleza deste desporto, em que não há contacto físico entre os atletas, ficou ali evidenciada. Uma boa hora televisiva que  vale mais do que os milhares de horas de poluição à volta do futebol.
 

 


FOTOSSÍNTESE
Alfa sem medo (alegadamente)

Alfa Semedo levantou alegadamente o braço para alegadamente suster um remate de Grimaldo alegadamente combinado de modo a que o árbitro, alegadamente desconhecedor de tal alegado arranjo, marcasse penálti. Para os alegados alegadores, eis um lance tão bizarro que - creio - alegadamente jamais viram um jogo de futebol. À mesma hora, na Madeira, Rui Patrício na baliza do Sporting deu um alegado frango, pelo que é de admitir que estivesse alegadamente a beneficiar o Benfica no acesso à Champions. O assunto voltou à TV. Requentadamente, numa alegada guerra de audiências televisivas, onde alegadamente vale tudo.