... a Champions sem rei?!
Pela primeira vez em 19 anos a máxima competição europeia pode arrancar sem a sua maior referência, o plurirrecordista Cristiano Ronaldo. Uma pena!
Otempo corre e Cristiano continua preso ao Manchester United. Aparentemente, nem um agente com a experiência e a habilidade negocial de Jorge Mendes consegue transferir um jogador com o estatuto de Cristiano para um clube com capacidade para lutar pela Champions. As pessoas esquecem-se, quando comentam o turbilhão diário de «noticias» e «novos desenvolvimentos» que alimentam este folhetim desde meados de julho, que Cristiano é o jogador mais caro da Premier e um dos mais bem pagos do Mundo. Segundo o credível Daily Mail, ganhará no United entre 17 e 18 milhões/ano. Contratá-lo e mantê-lo não é, pois, coisa fácil. E se não é fácil para os PSG e Chelseas desta vida, imagine-se para os outros. Creio que é esse o principal obstáculo à saída de Ronaldo, mesmo tendo em conta que o clube que o contrata sabe que também contrata a marca mais valiosa e rentável do futebol. Lembre-se o que sucedeu à cotação em bolsa da Juventus quando contratou CR7 - disparou de uma maneira extraordinária - e, mais recentemente, às ações do Borussia Dortmund assim que começou a correr o rumor de que Ronaldo podia ir para lá. Como bem sabe Aurelio de Laurentiis, presidente do Nápoles e experimentado homem de negócios, só a simples possibilidade de contratar uma megaestrela como o português é coisa para fazer correr rios de tinta… e de dinheiro.
Estando aparentemente fora da corrida, por motivos diversos, os clubes que o podiam contratar (sem prejuízo de uma reviravolta de última hora, ontem voltou a falar-se do Chelsea, que até perdeu em Southampton, mostrando como precisa de um matador…) parece óbvio que Cristiano só pode ir para outro clube (chame-se Nápoles ou Sporting) se aceitar uma redução drástica do ordenado. E escrevo isto partindo do princípio que nenhum dirigente e nenhum treinador minimamente sensato se oporia à possibilidade de ter Ronaldo, o maior goleador de todos os tempos, na sua equipa. Como dizia há dois dias Luciano Spalletti, treinador do Nápoles: «Mas quem não gostaria [podendo] de ter Ronaldo?».
O mais certo é que Cristiano continue no clube que, convém não esquecer, fez dele o melhor futebolista do Mundo: o Manchester United. Um clube colossal que vive momentos difíceis, de transição, de alguma indefinição, certo, mas cuja aura, grandeza e mediatismo nem sequer se discutem. Continuando em Old Trafford, CR7 falha a Champions pela primeira vez em 19 anos - uma pena! - mas continuará a ser seguido e apoiado por cerca de 700 milhões de adeptos red devils espalhados pelo Mundo. Digamos que há coisas piores. Erik ten Hag, assim que o mercado fechar, não terá outro remédio que devolver-lhe a titularidade porque ele sabe que Rashford, Sancho e Martial são bons rapazes mas não lhe dão o que Cristiano garante há duas décadas: golos.
Golos. Sempre o mais importante no futebol.
No Manchester United, Ronaldo jogará Liga Europa
O PODER DOS INGLESES
APremier veio cá buscar Darwin Núñez (Benfica), Fábio Vieira (FC Porto), Matheus Nunes e João Palhinha (Sporting) por cerca de 180 milhões de euros, uma gota de água no oceano de aquisições que os clubes ingleses promoveram neste defeso e que, no momento em que escrevo, está muito perto de atingir 2 mil milhões de euros, novo recorde do futebol europeu depois dos 1,7 mil milhões gastos por esta mesma Premier no verão de 2017. Se pensarmos que só um clube - Chelsea: 395 milhões - se prepara para suplantar sozinho os gastos somados das ligas italiana, francesa e alemã, é caso para dizer que compra quem pode e vende quem precisa. Aliás, tirando os clubes da Premier, PSG, Bayern e Real Madrid, não acredito que haja neste momento na Europa do pós-covid e da guerra na Ucrânia um clube que possa recusar uma proposta de venda acima dos 30 milhões.
SCHMIDT LEMBRA ERIKSSON DE 1982
COM o triunfo de ontem (3-2) perante um Paços de Ferreira muito desfalcado (12 baixas), mas bem organizado e combativo, Roger Schmidt somou a oitava vitória consecutiva (!) desde o inicio da época, naquele que é já o segundo melhor arranque da história benfiquista. A águia não foi famosa na primeira parte, facilitou muito no lance do 3-2, mas no final o público estava feliz: o Benfica é líder isolado e os adeptos, naturalmente empolgados com este esplendoroso arranque, começam a acreditar que este ano é que é!
O futebol que o Benfica tem apresentado não é um futebol de grandes e complexas elaborações táticas; nem o trainer alemão (simpático e comunicativo) fala do seu trabalho como se fosse uma coisa só ao alcance de luminárias e estudiosos. O Benfica de Schmidt lembra-me, pela simplicidade de processos (e também pela intensidade, verticalidade e tremenda eficácia goleadora, sempre o mais importante!), o futebol que o sueco Sven-Goran Eriksson trouxe para o Benfica em 1982 e que deixou meio país embasbacado. Não estou a comparar perfis, estilos e muito menos conjunturas e meios que cada um tinha à disposição (Eriksson tinha Bento, Pietra, Humberto Coelho, Bastos Lopes, Veloso, Carlos Manuel, João Alves, Shéu, Diamantino, José Luís, Chalana, Nené, Filipovic…). Mas não deixo de reparar que este alemão desempoeirado, ainda sem o plantel completo, já tem o segundo melhor arranque da história encarnada, só atrás das 15 vitórias iniciais do Benfica de Eriksson entre 22 agosto e 24 novembro de 1982 - dia em que foi travado em Zurique (0-0) num jogo dos oitavos de final da Taça UEFA.
Claro que não há campeões no início da época; como me parece evidente que nenhum dos seis adversários que o Benfica defrontou até agora pode ser considerado de elevada dificuldade (o Boavista no Bessa terá sido o teste mais exigente - passado com distinção); e sendo certo que Schmidt vai ter de começar a rodar jogadores sob pena de desgastar cedo demais o onze que para ele é mesmo base, continuo a achar que este início de época benfiquista tem algo de erikssoniano, um bálsamo para os adeptos ao fim de três anos de cinzentismo, falácias e desilusões.