Manolo Saiz afirma ser perseguido pela UCI e organizadores do Tour
Manolo Saiz, antigo diretor desportivo das equipas de ciclismo ONCE e Liberty Seguros, cuja carreira esteve envolvida pela Operação Puerto da qual foi absolvido, deu uma entrevista que está a ter impacto na comunicação social ligada ao ciclismo e nas redes sociais. O dirigente espanhol recorda a sua passagem como responsável na modalidade, afirmando que disfruta com a «agressividade» dos ciclistas que atualmente dominam o pelotão e aprofunda os motivos pelos quais não volto a dirigir uma equipa profissional.
«Os grandes monopólios do ciclismo, UCI e ASO (Amaury Sport Organisation) - entidade organizadora da Volta à França - não têm interesse que eu regresse. E não lhes interessa que volte porque sou uma pessoa dinâmica, que não me conformava com as coisas, porque tinha de lutar pelos direitos que nos pertencem e lutava por eles», lamenta.
Neste sentido, recorda que as equipas mantêm o mesmo convénio que foi assinado há 20 anos com a Volta à França. «Isso já é uma das razões pelas quais o Tour não quer que esteja no mundo do ciclismo», conclui.
O fundador da ONCE, que esteve na estrada entre 1989 e 2003, altura em que passou a designar-se por Liberty Seguros, sustenta que a sua equipa era a mais «limpa» do pelotão e sente-se magoado por nem os líderes da Volta à França nem membros proeminentes da UCI o tenham contactado após a entrevista que deu na televisão há alguns meses pela primeira vez em 17 anos. «Dei-lhes oportunidade para que me telefonassem e me dissessem; Manolo gostaríamos de falar cinco minutos contigo», conta.
E dá um exemplo recente para ilustrar a sua relação com algumas pessoas que atualmente dirigem o ciclismo; «Há poucos dias houve em Santander, a cerimonia de apresentação da Volta à Espanha na qual estive presente. Vi constantemente como Javier Guillén (diretor geral da Vuelta) me evitava. Ele não me queria ver, nem estar ao seu lado, nem mesmo olhar-me olhos nos olhos. As pessoas perguntam-me se eu guardo rancor e digo-lhes que não.»
Manolo Saiz questionado se está arrependido de algum das decisões tomadas no passado, prefere virar a página sobre «uma ferida que ainda está aberta», embora diga que vive de consciência tranquila. «Posso olhar para todos olhos nos olhos, posso falar com todos frente e frente, posso defender as minhas opiniões na cara e posso olhar para os meus, sobretudo para a minha família também de frente. Se a minha consciência me permitir viver tranquilo, tenho que pensar nela», acrescenta.
Aos 63 anos, Saiz vive pacificamente na Cantábria, onde gosta de cozinhar com o ‘Txoko’ (sociedade gastronómica) que vai criando com os seus amigos, embora siga muito pendente do ciclismo, a sua grande paixão.
Diverte-se com o espetáculo que dão Tadej Pogaçar, Jonas Vingegaard, principalmente com a Jumbo-Visma e frisa os nomes de Wout Van Aert e Mathieu Van Der Poel; «Todos eles deram uma nova dimensão ao ciclismo de ataque e ao ciclismo de improvisação», diz Manolo.
Na lista de talentos acrescenta o espanhol Carlos Rodriguez, que considera estar a competir «muito perto do limite em todas as situações», e Juan Ayuso, que vê com «maior capacidade de progressão». No entanto considera que o ciclismo espanhol tem um problema na sua base, sobretudo no desporto amador, que não está «à altura» face à situação desta modalidade noutros países europeus.
Graduado pelo INEF (Instituto Nacional de Educación Física) gosta do ciclismo agressivo da nova geração de ciclistas e do trabalho em equipa, uma das marcas da ONCE, mas não gosta do carater extrovertido que alguns ciclistas apresentam atualmente. «O ciclismo deveria ser mais interno e não tão externo. Não gosto que os ciclistas coloquem o que treinam no Strava (rede social para atletas). Deve ficar para a interioridade e análise das pessoas que devem analisar, não para o publico em geral», argumenta.
Também critica que os organizadores das grandes voltas deem destaque ao pavé (troços de paralelepípedos), sterrato (troços de terra batida) e exigentes paredes nos últimos quilómetros das etapas. «Isso é ciclismo de estrada e todas as coisas são muito boas para viver em corridas de um dia, mas não em corridas por etapas», argumenta.
Considerado para muitos como um revolucionário pelos seus métodos inovadores relacionados com a preparação física e pela visão do ciclismo como desporto de equipa, Saiz sente a falta do pelotão profissional; «É algo que carrego dentro de mim», admitindo que gostaria de voltar para dirigir de novo uma equipa profissional. Entretanto continua a recordar momentos que viveu na equipa ONCE, como o ataque de Miguel Indurain em Mende na Volta à França de 1995, sem esquecer as vitórias conquistadas na Volta à Espanha.
Manolo Saiz nasceu em Torrelavega em 16 de outubro de 1959, além de diretor desportivo no ciclismo foi membro do conselho de administração do Real Racing Clube de Santander e um dos impulsionadores do circuito World Tour.