Jorge Fonseca: «É a medalha do sofrimento e treino»

Judo Jorge Fonseca: «É a medalha do sofrimento e treino»

JUDO20.08.202323:40

«Não foi o que queria, mas… pronto», começou por desabafar Jorge Fonseca a A BOLA após a final do Grand Prix de Zagreb, onde, com uma medalha de prata, regressou aos pódios no Circuito Mundial, mesmo perdendo, por wazari, face ao sérvio Aleksandar Kukolj (23.º do ranking).

Adversário que só defrontara uma vez, quando, e também na final, se sagrou bicampeão mundial em Budapeste-2021. Um mês mais tarde era bronze nos Jogos de Tóquio. Momentos de glória do olímpico do Sporting que pareciam longínquos na sua memória.  

A última vez que Fonseca, atualmente 21.º do ranking, havia subido ao pódio no Circuito tinha sido no Grand Slam de Ulan Bator, Mongólia, em junho de 2022, tendo também arrebatado a prata.

Depois uma lesão num estágio da Seleção afastou-o da competição até final da época, deixou-o fora do Masters de Jerusalém-2022, e do início da atual temporada – em janeiro faltou ao Grand Prix de Almada, onde tinha o título a defender.

Regressou em fevereiro no Grand Slam de Telavive (7.º), prova em que tornou a lesionar-se. Retornou em junho no Grand Slam de Mongólia (7.º), mas daí até agora, sempre longe do seu melhor nível. «Sim, estou de volta ao pódio, mas queria mais...», reforça.

Ainda assim, depois de tudo o que passou, o que é que esta medalha significa neste momento. «Muito! Significa muito porque trabalhei bastante para ela. Lesionei-me, estive oito meses parado. Depois voltei, mas as coisas não estavam a correr muito bem. Por isso posso dizer que esta medalha foi uma mistura de trabalho e sofrimento. Tentava regressar ao que era antes, mas nada acontecia como queria. Por isso digo que é uma medalha de sofrimento e treino», vai contando o judoca de 30 anos.

Após o primeiro combate com o alemão Louis Mai [47.º], em que teve de ir a prolongamento [5.23m] e ele tentou-o desgastar fisicamente, pareceu que, a partir daí, foi-se sentido cada vez melhor e mais confiante no tatami. Tornou-se mesmo dominador, como acontecia antes. De tal forma que resolveu tudo mais rapidamente com os três adversários que se seguiram até à final. Sentiu-se assim?

«O primeiro combate custou um bocado», responde rindo-se. O alemão fazia muita força e não me queria deixar fazer judo. Tentou cansar-me, mas depois tornei as coisas mais fáceis. Foi também a partir daí que tudo começou. Passei a sentir-me mais confortável. Era aquele Jorge de antigamente, com as coisas a fluírem e a aproveitar todo aquele momento e sensações».

«Após o primeiro combate pensei para mim: ‘Ah, estou bem! Agora vamos começar a trabalhar’. Sentia-me física e mentalmente bem. Aquele combate foi muito importante para o resto da prova», revela Fonseca que somou a sétima medalha num grand prix (1+2+4).

Aliás, cinco delas aconteceram precisamente em Zagreb (0+2+3) e a primeira de todas as que conquistou no Circuito Mundial (2+4+10), em 2014, também foi celebrada na capital croata.

«Vou contar uma coisa: depois de voltar da lesão não estava a acreditar em mim. Foi um período complicado em que tudo saía mal. Agora começa a ser um bocado melhor. Estou a ganhar ritmo competitivo. Ficar oito meses afastado da alta competição é horrível. Mas tenho trabalhado para recuperar esse ritmo e regressar ao Jorge que era antigamente. Esse é o objetivo», garante.  

Além desse ritmo, também me pareceu que está com mais resistência para resistir quando os combates se prolongam. «É verdade, isso também faz parte do treino que tenho feito no clube com o Pedro [Soares, igualmente selecionador nacional]. Mas ainda cometo alguns erros... A resistência não está a 100 por cento. Digamos que se encontra a 80/85 por cento, mas já dá para perceber que existe uma evolução. Agora há que continuar para chegar aos 100», refere já mais animado.       

E como foi a final contra o sérvio Aleksandar Kukolj? A cerca de 1 minuto do fim já tinha dois castigos e estava obrigado a atacar para não levar o terceiro. E depois ele apanhou-o num contra-ataque quando só faltavam a 36s. «Estava a sentir-me confiante naquilo que pretendia fazer e foi então que ele se meteu intencionalmente a jeito para que eu atacasse».

«Esteve taticamente bem. É o mesmo adversário que defrontei na final do Mundial de Budapeste», recorda. «Sabia que se eu fizesse aquela técnica podia contra-atacar… Era um erro que eu não podia cometer, mas estava com dois castigos e decidi arriscar. Arrisquei e agora custa-me um bocado. Depois ainda aproveitou para gastar tempo no chão [22s]», finalizou Jorge Fonseca que esta semana irá participar num estágio internacional em Valência, Espanha.