«Portimão é nível de F1, espero que tenha um novo GP»
O antigo campeão mundial, Emerson Fittipaldi, está em Madrid como embaixador dos Laureus, cuja cerimónia que distingue os melhores do ano se realiza amanhã
O primeiro brasileiro a tornar-se campeão mundial de F1, Emerson Fittipaldi, é um dos embaixadores dos Laureus, que, hoje, realizam a cerimónia anual onde são distinguidos os melhores do desporto. Antes de saber quem vai receber o óscar e ciente de que Max Verstappen é um dos favoritos em Madrid, o brasileiro esteve no Palácio Cibeles, local onde se vai realizar a gala, e falou sobre o momento atual, o tetracampeão do Mundo e, claro, de Portugal que tem no coração, sem poupar elogios ao Autódromo Internacional do Algarve (AIA).
«Vivemos um momento muito especial na F1, porque é um momento muito competitivo. A Liberty Media, que comprou a organização ao Bernie Ecclestone está a fazer um trabalho fantástico de promoção da Fórmula 1. Espero que Portugal vai ter futuramente um grande prémio! Portimão é uma ótima pista! Porque é nível Fórmula 1, está perfeita para a Fórmula 1. A infraestrutura, a pista… Tem tudo lá. E já teve F1. Durante o Covid. Então, espero que Portugal tenha de novo GP de F1», justificou o ex-piloto, referindo-se aos dois anos, 2020 e 2021, em que o AIA recebeu o Mundial e apadrinhou duas vitórias de Lewis Hamilton.
A fila para falar com Fittipaldi é enorme, mas o brasileiro responde pacientemente. «A F1 está a crescer muito, no mundo todo, o automobilismo, de modo geral. Muitas categorias, muitos jovens. Karts, Fórmula 4. ..Eu tenho ido muito para os Emirados Árabes. Lá vê-se muito bem o desenvolvimento. Como na China. Todos os países que estão com a Fórmula 1 estão a desenvolver o automobilismo», disse.
Fittipaldi foi campeão mundial em 1972 e 1974, este último título com a McLaren, equipa com a qual mantém até hoje uma ligação. « Eu torço pelo Lando Norris e o Piastri, quero que eles ganhem sempre. Mas reconheço que o Verstappen ainda ontem mostrou a sua qualidade com aquela pole position... Tirou da cartola, a pole position, na última volta!»
A personalidade do neerlandês, além da sua qualidade, pode ser um trunfo para uma modalidade que esteve órfã de um ídolo? «Eu acho que cada piloto tem sua personalidade. O Verstappen é um fora de série. Eu tenho o maior respeito e admiração, porque ele tem um talento excecional. Se vocês se lembrarem do Grand Prémio no Brasil, eu estava lá, em São Paulo, no ano passado, saiu lá de trás. Chuva, seco, troca pneus. E ganhou! Ele mostrou que é um piloto extremamente talentoso. Obviamente, eu sou suspeito, porque eu fui o primeiro campeão mundial com a McLaren e quero sempre que os seus pilotos ganhem», confessa sorridente.
«Cada um tem carisma, jeito, uma personalidade diferente. Hoje, na F1 há muito controlo dos relações públicas, assessores. Quando eles estão a falar, antes das corridas, isso não deixa às vezes ver como eles são», lamentou o brasileiro. «Como ser humano, como atleta», acrescentou. «Aqui vimos todas as modalidades, campeões de todos os desportos. E quando eles saem de uma competição, têm aquela adrenalina que os faz falar, eles querem falar. E a Fórmula 1 tem de dar mais liberdade», disse.
E quantas multas pagava Fittipaldi, se fosse hoje piloto, com as novas regras da Fórmula 1, sobre palavrões e tudo o resto? Sorriso aberto do campeão. « Eu... Estaria quebrado. Sem dinheiro nenhum. Eu acho que eu estaria falido. Literalmente», assumiu.
Mas não seria o único, atira em jeito de consolo. «Todos nós, na Fórmula 1, na minha época, estávamos quebrados. Mas eu acho que a Liberty Media, que é um mundo de comunicação, eles vão ter mais abertura... Eu acho que isso vai mudar para o futuro. Espero que isso aconteça. Porque é bom o público conhecer o piloto. Conhecer a personalidade. Eles têm de sentir emoção, eles têm de extrapolar, faz parte do desporto! Vejam a Nascar, por exemplo. Eu acho o máximo, o piloto sai e às vezes tem zangas nas equipas, até batem uns nos outros. Bom, isso também não está certo, mas tem de ter emoção. Isto é uma bênção de Deus, podermo-nos expressar, como seres humanos. Com os palavrões não posso dizer que defendo, mas reclamar, falar da equipa, do carro, quando o carro não está bom, eu acho que tem que ser», repetiu o ex-piloto de 78 anos.