Diogo Ribeiro voltou aos treinos: «Parecia que não sabia nadar»
Fotografia André Filipe

Diogo Ribeiro voltou aos treinos: «Parecia que não sabia nadar»

NATAÇÃO12.03.202401:09

Gozadas as férias depois do Mundial de Doha, o duas vezes campeão cumpriu o primeiro treino rumo aos Jogos Paris-2024. CAR Jamor homenageou-o. Sem mãos para tantos autógrafos e selfies

Após três semanas de merecidas férias, duas das quais no Panamá a tentar pensar em tudo menos em natação, Diogo Ribeiro regressou, ontem, aos treinos no Jamor, onde, desde há dois anos, se preparara todos os dias.

Dispensado da sessão matinal, à tarde foi momento de voltar a aprender a nadar, como o próprio brincou. O que o campeão mundial de Doha dos 50 e 100 mariposa não esperava era a homenagem que os responsáveis do complexo, entre os quais o coordenador do CAR Jamor José Serrador e o chefe de instalações aquáticas Carlos Rebelo, a que se juntou o diretor do Centro Desportivo Nacional do Jamor Paulo Pires, lhe haviam preparado.

Fotografia André Filipe

O selecionador nacional Aberto Silva mantivera segredo sobre o momento que começou com a equipa ainda dentro de água, junto ao cais, no final do treino enquanto no ecrã gigante passavam imagens das conquistas. Ribeiro saiu de água e foi arrumando as coisas mas, a pouco e pouco, começaram a chegar vários miúdos das escolas de natação para lhe pedir autógrafos e selfies. Quando deu por si, estava rodeados por dezenas de jovens, e menos jovens, nadadores. Tudo parara por ele.

Homenagem que se estendeu ao treinador Albertinho e os seus adjuntos Igor Silveira, Samie Elias, ao fisioterapeuta Daniel Moedas e ao colega de clube e Seleção Miguel Nascimento, os quais, além de lembranças, receberam uma flor. Com os pais na bancada a entrarem também na festa, acabou por ser com enorme salva de palmas que o atleta do Benfica foi para o balneário. Parecia que ganhara outra medalha.

«É a primeira vez...»

Surpreendido com esta receção? «Sim, não estava à espera. Pensava que era apenas mais um treino normal e no final acabou por acontecer isto. O meu treinador já sabia mas não me disse, como é óbvio. O Alberto fez bluff, como se não soubesse nada quando lhe perguntou o que é que estava aqui a fazer…», afirmou a A BOLA Diogo enquanto mais jovens, já no balneário, lhe pediam novamente autógrafos em folhas de papel arranjadas à ultima hora, numa touca (molhada) ou na fita dos óculos de natação. Todos queriam também uma fotografia ou simplesmente dar os parabéns, com pais a passarem sorridentes e, quem sabe, a pensar: será que o meu filho…

Fotografia André Filipe

«Estou muito feliz. A sentir que as pessoas também olham para isto. Só tenho de agradecer ao Centro Nacional do Jamor», diz o velocista. Aconteceu-lhe o mesmo quando ganhou a prata dos 50 mariposa no Mundial Fukuoka-2023? «Não, esta é a primeira vez. Nessa ocasião também colocaram imagens a passar no ecrã da piscina, mas esta é a primeira vez que, realmente, teve uma visibilidade deste tamanho».

«A minha vida já mudou»

Os títulos tiveram um impacto grande? «Sim, agora quando passo na rua já me conhecem. Antes era diferente, mas agora sou campeão do mundo dos grandes, não é? Já não é só de juniores [tricampeão em 2022]. É completamente diferente e estou muito feliz», reforça.

Férias longas nesta altura da temporada foi um luxo? «É verdade, mas estava a precisar depois do Mundial. A cabeça também necessita de descansar. A meio de uma época nunca tive três semanas de férias, só mesmo no verão. Sabe bem nos países exóticos é onde é agora verão. Deu para recuperar o que precisava, vim mais descansado. Enquanto estive de férias procurei não pensar muito na natação, foi mais na vida pessoal», vai contando. «Tive aulas na mesma, online, trabalhos da escola para fazer, marcar testes. Foi quase tudo fora da vida de atleta», acrescenta.

Fotografia André Filipe

Referiu que passou a ser reconhecido na rua. Pensa que a sua vida vai mudar muito até aos Jogos? «Acho que já mudou. Mais do que isto creio que é impossível». Perdeu um pouco da sua privacidade? «Sim, se calhar já não posso fazer algumas coisas que fazia antes. Também tenho de ter mais cuidado com a parte pública, até porque sei que a qualquer momento posso estar a ser observado. É apenas saber lidar com isso e estou disposto a fazê-lo. Quem atinge estes resultados não pode continuar a pensar que vai continuar tudo na mesma e não ser reconhecido», considera enquanto mais meia-dúzia de crianças aguardam por autógrafos e selfies.

Fotografia André Filipe

Com imediatismo que provocou acredita que esta preparação para os Jogos será diferente de todas as que já viveu? «Claro!» Terá aí também de se adaptar e reservar porque a sua popularidade atingiu nível que nunca viveu? «Sim, mas agora há outras coisas por detrás dos resultados. Vão-me colocar maior pressão, tenho mais contratos, patrocínios, prémios por objetivos… Vamos ver como corre. O que espero dos próximos meses é muito trabalho. Irei procurar melhorar as partidas. Os treinos vão ser mais focados nisso. Não posso sair tão atrás deles [nas provas] e tenho de conseguir estar ao lado no percurso subaquático. Não é para sair na frente, mas para ser mais competitivo nesse sector e também na viragem para não perder tanto tempo. Será necessário treinar bem tudo para estes jogos olímpicos», revela.

Um mês para voltar ao normal

«Agora é começar do zero. Hoje até parecia que não sabia nadar», conta rindo-se. «Mas é normal e sabemos que temos de insistir. Dentro de três semanas a um mês já me sentirei bem. É continuar a treinar e ver até onde isso me irá levar... Só voltarei a parar após os Jogos, e mesmo se formos ao Europeu — ainda não sei se vamos — não é será para parar. É para manter o plano de treinos e não baixar de forma», revela quem está apurado para Paris-2024 nos 50 e 100 livres e 100 mariposa.

«Regressei na sexta-feira e como estive um tempo fora, parece que isto é o dia três depois do Mundial. Quanto mais tempo passar acredito que todo este imediatismo baixará. É normal. Mas sim, por enquanto todos passos que dou tem sido isto assim [autógrafos e fotografias], param-me, querem conversar, dão-me os parabéns. Mas também sinto felicidade com tudo e espero conseguir orgulhar mais o país», rematou.