Volta a Portugal Carvalho destapa «tentativa de desestabilização» e 'Fred' de consciência tranquila
António Carvalho (ABTF-Feirense) protagonizou o ‘mistério’ do dia na Volta a Portugal, ao revelar, no final, ter sofrido um episódio que interpretou como tentativa de desestabilização antes da mítica etapa da Senhora da Graça, e que pretende levar o caso – não desvendado na íntegra, só foi polvilhando algumas pistas - «até às últimas consequências»
«Vinha a sofrer, muitas das vezes com as pernas a rebentar durante a subida, mas só pensava ‘tenho de fazer isto’, por mim, pela minha família, pelo presidente [do Feirense] e por todas as pessoas que me apoiam e apoiaram. O que se passou? Não irei falar: foi algo de muito grave, alguém me tentou desestabilizar para o dia deste sábado e desta etapa. Não se faz isso nem ao pior inimigo», foi a acusação não plenamente concretizada deixada aos jornalistas no Monte Farinha pelo corredor de 33 anos, natural de São Paio de Oleiros.
Instado a desvendar o mistério e o caso, Carvalho só deixou a porta entreaberta. «O que se passou? Envolve a minha situação profissional, tem a ver com a minha família, e, acima de tudo, com a minha profissão. Não sei quem o fez, nem eu nem a equipa. Eu, a equipa e os patrocinadores iremos levar isto até às últimas consequências, por ser algo tão grave e me tentarem desestabilizar. E aproveito para dizer a seja quem for que fez isso que a Volta a Portugal não é nada mais, nada menos, acima do que somos como pessoas. Acima de tudo, estamos nós, enquanto pessoa. E estão as nossas famílias. A Volta é simplesmente, apesar de todos os portugueses a adorarem, simplesmente mais uma corrida».
«Ameaças à família ou riscarem-me o carro? Se me riscassem o carro, nem que fossem €50 mil ou €100 mil, pouco me diria, ou nada. Foi mais grave. Não foi ameaça. Nada mais vou revelar. Já falei com o meu diretor desportivo, ainda na sexta-feira. Este sábado, dei conhecimento do sucedido ao presidente e ao patrocinador. Falámos os quatro, e eles apoiaram-me a 100 por cento. E isso é que é o mais importante. Irei pensar na etapa de domingo, mas não vou mentir que durante este dia e na corrida esse teme me veio à cabeça. Estou de consciência tranquila. Só pensava ‘como é que alguém tem coragem para fazer o que fizeram a uma pessoa’? Quem o fez, não pode ter escrúpulos, nada deve ter», foi tudo quanto revelou a propósito o terceiro classificado na Volta-2022.
«Em relação a Viana do Castelo e a domingo, vou dar tudo de mim, independentemente de ser segundo, terceiro, décimo… ou mesmo último. Disse isso a todos os que me apoiaram antes da partida da etapa, em Paredes: não quero saber do resultado, quero dar o máximo de mim, como fiz neste dia. Cheguei à Senhora da Graça no limite dos limites. Cheguei mesmo exausto, mas no ‘crono’ irei dar o melhor de mim pelos patrocinadores que apoiam este projeto e por todos os que me têm apoiado nas vitórias, que não são muitas, mas sobretudo nas derrotas», concluiu quem foi nono na tirada que acabou no Monte Farinha, a 1m38s de James Whelan, e é agora quarto da geral, a 1m06s de Colin Stussi.
Já Frederico Figueiredo (GlassDrive-Q8-Anicolor), segundo na Volta-2022, recordou, no final, o coletivismo dentro da equipa numa etapa em que até quase ao final esteve no grupo de candidatos a vencê-la, mas ‘rebocou’ o russo Artem Nych, seu companheiro de equipa, que partia para a tirada melhor classificado.
«A ideia era eu atacar numa zona e passar para o grupo da frente. A descer o Alvão, os fugitivos ganharam tempo, já tinham três minutos à melhor. O Jimmy [James Whelan] estava na corrida pela vitória na etapa outra vez. Guardei energias para a Senhora da Graça. O Artem [Nych] passou aqui um momento menos bom: esperei por ele porque também estava a discutir o pódio e pode vencer a Volta. Não guardo rancores, é o que é: é ciclismo. Há valores dentro de uma equipa que se devem cumprir»
«Se estou desiludido com esta Volta? Não saio desiludido. Vinha com um grande objetivo, mas no dia da serra da Estrela [Torre] as coisas acabaram por não sair, devido, também, a muitas situações, muitas marcações, e depois fiquei um pouco bloqueado. Depois, também um dia menos bom a nível geral da equipa. Tentámos dar a volta na etapa da Guarda, foi mais um dia em que pensávamos sempre no Frederico», disse o corredor da Glassdrive-Q8-Anicolor, 12.º classificado na 9.ª e penúltima etapa da Volta, este sábado, e sétimo da classificação geral, a 2m01s do líder, Colin Stussi (Vorarlberg).
«Pensarem em mim para vencer a Volta e esta prova acaba por ser o preço de ter feito um ano muito positivo. Mas a época não é só a Volta, não é só uma corrida. Estou contente por estar mais um ano na luta da Volta e ter contribuído para o espetáculo», concluiu ‘Fred’, de consciência tranquila.