Camila Rebelo: Um namor(ad)o olímpico
Fotografia Simone Castrovillari/FPN

Camila Rebelo: Um namor(ad)o olímpico

NATAÇÃO06.01.202411:49

PARTE 2 - Além dos 200 costas em que já carimbou o visto olímpico, nadadora do Louzan irá também tentar qualificar-se para os Jogos de Paris-2024 aos 100 costas, mas sonha viver essa experiência na companhia do seu ídolo desde adolescente

Após o Louzan ter subido em femininos em 2022/23, depois do Europeu competiu, pela primeira vez, no Nacional de clubes da I Divisão [ficou em 6.º]. Ter disputado a I Divisão era algo que ambicionava há muito tempo?

— Posso dizer que tanto tenho muito orgulho na equipa feminina do Louzan como na masculina. Mas as minhas meninas são especiais. Gosto muito delas. Antes do Covid fomos pela primeira vez campeãs da III Divisão. Depois na II não ganhámos logo, só na temporada seguinte, por isso isto tem sido um crescimento. Somos uma equipa muito unida. Quando uma precisa de alguém as outras aparecem logo para ajudar. E não só no treino, mas também fora. Apesar de sermos um clube pequeno já somos bastante boas, por isso vencemos a III e a II Divisão. O essencial numa equipa é sermos unidas e nesta somos.

— Se bem que ainda não tenha celebrado a presença nos Jogos de Paris-2024, vê-se a nadar até Los Angeles-2028? 

— Eu gostava! [risos]. Tenho 20 anos e creio que ainda sou nova para a modalidade. Portanto, mais quatro anos, pelo menos, não é de todo absurdo e conto continuar. Pelo menos desejo ficar. Por isso penso que sim. É forte uma possibilidade. 

— Daqui a mês e meio tem o Mundial de Doha, para o qual está apurada aos 100 e 200 costas. Será a última grande competição antes dos Jogos de Paris-2024. O que é que pretende nesse momento?

— Venho de um pico de forma e dois meses na natação é um período difícil para conciliar as intensidades e voltar a ter outro, mas vou trabalhar para tentar perceber se consigo fazer o melhor resultado em algumas das minhas provas. Talvez nos 100 costas, mas passará sempre por fazer o melhor. 

Mas o sonho [olímpico], esse surgiu principalmente em 2016, quando comecei a ter maior noção do que eram os Jogos e como funcionava na natação.

Fotografia Simone Castrovillari/FPN

— Apesar de já ter mínimos A aos 200 costas para os Jogos ainda não alcançou os B aos 100, o que permitirá nadar duas provas em Paris-2024. Deseja alcança-los no Mundial?

— Estou a 3 décimas... Gostava bastante e vou tentar fazê-lo. Quando vamos aos jogos olímpicos tentamos nadar mais do que uma prova. Até para vivenciar ainda mais a competição. Mas sim, vou procurar conseguir o mínimo B.

— Essa possibilidade de disputar duas provas seria, provavelmente, mais do que um dia sonhou em estar nuns jogos olímpicos. Recorda-se de quando foi a primeira vez que ambicionou ser olímpica?

— Acho que desde criança, mas tornou-se maior realidade em 2022, quando fiz 2.11m em Coimbra aos 200 costas. Mas o sonho, esse surgiu principalmente em 2016, quando comecei a ter maior noção do que eram os Jogos e como funcionava na natação. Depois, em 2020/21, em Tóquio, ver o Gabriel [Lopes, nadador do Louzan] apurar-se e concretizar esse sonho [200 estilos] foi excelente. Por isso, se o conseguir em duas provas será ainda maior. 

— E como é que alguém de Poiares acabou a nadar na Lousã? 

— A minha mãe pôs-me na natação logo aos dois anos na Lousã, em 2005 ainda não havia piscina em Vila Nova de Poiares. Mais tarde surgiu uma piscina em Poiares, mas como gostávamos do que tínhamos no clube [Louzan Natação] ficámos. 

Tem sido ótimo. Existe um equilíbrio bom para conciliarmos o trabalho e o namoro.

— A natação é uma modalidade que exige muitas horas de treino e ainda mais complicado se torna quando se está a tirar medicina. Deve ter um horário superpreenchido…

— Sim, sim...

— Então um namorado [Gabriel Lopes] que também tem essa vida e sabe o quanto custa ajuda?

— [Gargalhada] Já faltava essa pergunta… [risos]. Sim, ajuda. Saber o que passo todos os dias e igualmente fazê-lo comigo obviamente torna tudo mais fácil. É um apoio extra que tenho e muito bom. Inicialmente até poderia ter sido algo que não iria correr bem, mas desde cedo fomos bastantes respeitadores dos espaços de cada um: onde é para treinar, estudar, e estarmos juntos é para isso e só isso. E tem sido ótimo. Existe um equilíbrio bom para conciliarmos o trabalho e o namoro. 

Fotografia Simone Castrovillari/FPN

— Ainda que o Gabriel já tenha estado nos Jogos de Tóquio e esteja a tentar chegar a Paris existe o sonho de nadarem ambos nos Jogos?

— Claro! Mesmo se o Gabriel não fosse meu namorado queria que o meu colega de equipa tivesse comigo nos Jogos Olímpicos. É para isso que treinamos. Tudo é possível. 

Em várias entrevistas disse que ele era o meu ídolo, a pessoa mais próxima de mim que chegou onde eu, um dia, desejava chegar. Por isso digo que vivo da mesma maneira. Como sempre, continuo a desejar que faça o seu melhor.

— E vamos ter de convencer o Gabriel a ir até Los Angeles-2028?

— [risos] Isso já não é comigo… É duro e ele já tem 26 anos… 

Fotografia Simone Castrovillari/FPN

— Sofre-se muito mais na bancada quando o namorado está na água a tentar fazer marcas, qualificações, que vá mais longe, se apure para a final, bata o recorde? Mais do que quando era apenas o colega de equipa? Sente isso e sabe se ele também o sente? 

— Fôssemos namorados ou não ele, como colega de equipa, estaria lá para me apoiar. Como sempre esteve. Eu, particularmente, quando vou para uma prova, seja eliminatória ou final, vou só comigo. Não penso quem está ou não a ver. E quando é ao contrário, claro que estou lá para apoiar, mas não consigo dizer que seja mais ou menos do que era antes de sermos namorados. Apesar do Gabriel ser o Gabriel, o ídolo de todos os nadadores do Louzan — foi quem chegou mais longe no clube —, creio que já vibrava com as provas dele da mesma forma que vibro agora. Em várias entrevistas disse que ele era o meu ídolo, a pessoa mais próxima de mim que chegou onde eu, um dia, desejava chegar. Por isso digo que vivo da mesma maneira. Como sempre, continuo a desejar que faça o seu melhor. 

Camila Rebelo: «Estudo mas sou profissional»

6 janeiro 2024, 11:10

Camila Rebelo: «Estudo mas sou profissional»

PARTE 1 - Qualificada para os Jogos de Paris-2024, a nadadora do Louzan foi, em dezembro, a principal figura da Seleção no Europeu de Otopeni em piscina curta, onde chegou a duas finais, três meias-finais e bateu quatro recordes nacionais. Diz que não conseguiria só nadar e que gosta de estudar, mas prefere guardar os livros nas provas.

— Uma última pergunta, A maior parte dos nadadores olímpicos portugueses das últimas quatro edições dos Jogos fez uma tatuagem dos aros olímpicos em alguma parte do corpo. Já pensou se também o vai fazer? 

— Só vou pensar nisso quando lá estiver. Gostava de o fazer, isso é verdade, mas só pensarei no assunto, escolher e marcar com tatuadores após ter nadado e tocado na parede da piscina. Depois de concretizar o sonho.