Alentejana está de volta às estradas da planície

Ciclismo Alentejana está de volta às estradas da planície

CICLISMO20.03.202310:44

Ao falarmos da Volta ao Alentejo recordamos que o ciclismo se encontra ligado à região desde o inicio do século passado. Através dos apontamentos que fazem parte da história, ficamos a saber que no Distrito de Évora, foi fundado em 1902 o Clube Velocipedista Eborense. No Distrito de Beja, surge a vila de Cuba que entre 1904 e 1909 organizou várias competições e dispunha de uma pista, situada no Rossio de S. Brás. No distrito de Portalegre, existem documentos referentes à realização de uma prova de resistência em 1921, organizada pelo Portalegre Tiro e Sport. No Alentejo Litoral, encontra-se Sines que em 1904 recebeu uma corrida que teve a presença de ciclistas da Vidigueira.

Anualmente realizava-se em Évora o Circuito da Muralhas, organizado por Manuel Francisco, mais conhecido por “Manuel da Gaita”, antigo ciclista do Juventude Sport Clube, apaixonado pela modalidade que possuía uma oficina de reparação e venda de bicicletas em Évora. Para organizar a corrida, andava pelos estabelecimentos da cidade a solicitar donativos, o dinheiro oferecido era colocado num talego tradicional feito de pano, a que juntava a colaboração da câmara e das juntas de freguesia da cidade. Manuel da Gaita sonhava realizar uma corrida por etapas para a qual tinha duas alternativas; Volta ao Distrito de Évora ou Volta ao Alentejo. Nas conversações mantidas com o vereador do desporto da Câmara Municipal de Évora, Joaquim Mendes, a ideia avançou para a segunda hipótese que tinha como objetivo desenvolver a modalidade e promover o Alentejo em todas as suas vertentes. Em novembro de 1982 foi criada uma comissão composta por Joaquim Mendes e António Gavela, vereadores da Câmara Municipal de Évora, Manuel da Gaita, Manuel Couto, Armando Lacerda, Manuel das Lãs e António Adegas, a que se juntou mais tarde Aníbal Oliveira para coordenar a logística e manter contactos com a Federação Portuguesa de Ciclismo e Associação de Ciclismo do Sul. As conversações estabelecidos com as câmaras municipais e empresas do Alentejo para patrocínios, resultaram em pleno e em meados de março estava definida a 1.ª Volta ao Alentejo. Nessa altura foi convidado para integrar a comissão Fernando Emílio, com a responsabilidade de contactar os órgãos de comunicação social e as equipas, dada a sua experiência na área, por ser jornalista/radialista na Rádio Comercial.

A  1.ª etapa realizada no dia 29 de junho de 1983 (dia da cidade) foi o tradicional circuito das Muralhas com 28 km que teve como vencedor, Joaquim Carvalho (Lousa), com Paulo Ferreira (Lousa) que ao ganhar no ultimo dia o contrarrelógio Montemor – Évora sagrou-se vencedor da classificação geral. O corte de trânsito na estrada nacional 114, gerou um enorme problema, porque para viajar entre Montemor e Évora e vice versa, a alternativa obrigava a passar  por Arraiolos e percorrer mais 15 km que o normal.

A “Alentejana” como carinhosamente passou a ser conhecida, abriu em 1989 as portas às equipas estrangeiras, cabendo a primazia aos espanhóis da SEUR, de Maximino Perez, um madrileno que foi o diretor desportivo estrangeiro que mais vezes esteve presente na Volta ao Alentejo e um dos promotores para a vinda das inúmeras equipas estrangeiras.

Um dos pontos altos da Volta ao Alentejo e que projetou definitivamente a corrida, foi presença de Miguel Indurain, vencedor de cinco Voltas à França. A 20 de fevereiro de 1996, Alfredo Barroso, diretor geral da “Alentejana”, Fernando Emilio e de Armando Oliveira, que exercia as funções de coordenador, viajaram para Vélez Málaga, final da 2.ª etapa da Volta a Andaluzia. Depois de um dialogo com Echevarría e Indurain, ficou confirmada a sua presença em Portugal apenas pelas despesas de alojamento.

Mas nem tudo foram rosas, a 10 dias de começar a corrida em Sines, a UCI decidiu não autorizar a presença de Miguel Indurain, porque a prova não era internacional e seria um descredito para o ciclismo o penta vencedor do Tour estar presente numa corrida nacional. Valeu a influencia do Dr. Artur Moreira Lopes que por várias vezes foi o diretor da corrida, que com o seu prestigio junto das instancias internacionais, resolveu a situação com o presidente da UCI, Hein Verbruggen, com o pagamento de 25 contos para que a corrida fosse inscrita no calendário internacional. Três dias antes da Volta ao Alentejo se iniciar a 28 de abril, os organizadores da Amstel Gold Race que se corria no dia 27, atrasaram em uma hora a partida, situação que tornava problemática a presença de Indurain, em virtude do ciclista ter de comparecer no aeroporto de Bruxelas a tempo de embarcar no avião para Lisboa. Apenas um reduzido numero de pessoas sabia desta situação, que colocava em duvida a comparência de Dom Miguelon à partida em Sines. Felizmente tudo correu pelo melhor, o ciclista espanhol acabou por vencer duas etapas e a geral da Volta ao Alentejo, com o seu irmão Prudêncio Indurain a ganhar três das oito etapas.

Mais de 70 jornalistas fizeram a cobertura do evento, registando-se a presença do L’Equipe, Gazzetta dello Sport, AS, Marca, Diário Basco, televisão espanhola (TVE), Agência EFE e Europa Press, a que se juntaram os jornais, televisões, rádios nacionais e locais. A entrada do engenheiro Alfredo Barroso, presidente da Câmara Municipal do Redondo como responsável da Volta ao Alentejo a partir da 4.ª edição, veio dar maior projeção à corrida que deu um salto qualitativo em termos organizativos, que se refletiram na expansão e divulgação do evento. Os convívios que se realizavam nos finais das etapas, tinham por objetivo divulgar a nossa gastronomia e cultura, com atuação dos grupos corais de cantares alentejanos, ranchos folclóricos, poetas, contadores de histórias e artistas locais. Inúmeros jornalistas encontram-se ligados à promoção da Volta ao Alentejo, Guita Júnior, Homero Serpa, António Ramalho, Ricardo Tavares, Vítor Serpa, Alves Henriques, Santos Neves, Manuel Madeira, Martins Morim, Neves de Sousa, Alves Carvalho, Filomena Martins, Pilar de Carvalho, Rui Tovar, Ana Paula Marques, Cândido Gago, Paulo Renato Soares, António Pedro, Justiniano Vargas, Mário Simões, Luís Aresta, Teixeira Correia, Sousa Casimiro, Firmino Paixão, Luís Almeida, Márcio Santos (Káká) e muitos mais que prestigiaram a Alentejana. Destaque paras inúmeras rádios locais de todo o Alentejo, algumas do Algarve a que se juntava o Radio Clube de Matosinhos e Radio Festival do Porto.

Quando no dia 26 de março se completar a 40.ª edição da Volta ao Alentejo, Évora recebeu o final por 32 vezes, seguida de Redondo e Beja com duas, Marvão, Grândola, Santiago do Cacém e Reguengos de Monsaraz uma. Beja foi por nove vezes a cidade de partida, seguida por Vendas Novas com quatro, Évora, Castelo de Vide, Portalegre e Serpa com três.

Em duas edições a “Alentejana” visitou Espanha, em 1994 com a etapa Moura – Mérida com triunfo de Manuel Liberato (Tavira), no dia seguinte realizou-se a ligação Badajoz – Borba. Em 1995 a 6.ª etapa Elvas – Valência de Alcântara teve como vencedor o espanhol Antonio Vargas (Castellblanc), seguiu-se Valência de Alcântara – Castelo de Vide. Nas 39 edições já realizadas existem 38 vencedores, apenas o espanhol Carlos Barbero (Movistar) ganhou por duas vezes  em 2014 e 2017.

A Volta ao Alentejo inicia-se na quarta-feira em Beja e finaliza no domingo na Praça do Geraldo em Évora.

ETAPAS

1.ª Etapa Beja – Ourique                                           168,8 km

2.ª Etapa Castro Verde - Grândola                            170,8km

3.ª Etapa Vendas Novas – Estremoz                         191,4 km

4.ª Etapa Crato - Castelo de Vide                              146,6 km

5.ª Etapa Monforte – Évora                                       154,9 km

                                                           Total               832,5 km