Sporting: Adán, culpado ou inocente?
Futuro de Adán volta a ser tema após as recentes exibições (IMAGO)

Sporting: Adán, culpado ou inocente?

NACIONAL12.12.202308:20

O dilema dos leões: reforçar aposta na experiência ou pensar na linha de sucessão? Futuro do espanhol de 36 anos volta a ser questionado. Ivkovic, a A BOLA, iliba guardião: «Se o tiras da baliza... acaba a carreira»

A confiança e respeito dentro do balneário mantém-se inabalável. O estatuto, esse, é intocável. Desde o primeiro dia em que vestiu a camisola dos leões. O mesmo não tem acontecido para quem olha de fora. E nos dias que correm não há volta a dar: Adán tornou-se num dilema. Não por aquilo que o experiente espanhol fez na sua primeira temporada em Alvalade, brilhante e decisiva, coroada com a desejada conquista do título nacional, mas sobretudo pelo rendimento nos últimos dois anos. Com alguns jogos mediáticos. Pela positiva e, claro está, pela negativa. É, por isso, este histórico recente que preocupa o universo leonino, sobretudo se tivermos em linha de conta o futuro de um guarda-redes que tem 36 anos. 

Adán já sofreu 15 golos nas primeiras 13 rondas da Liga (IMAGO)

E a falta de consistência e segurança, em alguns momentos chave, que eram supostas para um guarda-redes com a sua idade, experiência e calibre, levantam algumas dúvidas olhando para o futuro… imediato. Nota prévia: o Sporting não está no mercado em busca de um guarda-redes. E esse cenário nunca se colocará na reabertura do mercado em janeiro. Adán é o escolhido e o titular dos leões. E nem os 15 golos sofridos nas primeiras 13.ª jornadas retiram a confiança de Amorim no espanhol. Que, curiosamente, chega a esta fase perto de fazer história nos leões. Adán está a nove jogos de igualar as 154 partidas de Ivkovic, guarda-redes estrangeiro com mais jogos pelo emblema leonino. E foi perante esta onda de incerteza em torno do atual guardião leonino que A BOLA contactou o croata, hoje com 63 anos, que se mantém atento ao percurso dos leões. Ivkovic, de forma taxativa, iliba Adán do momento que este atravessa.

«Sofrer 15 golos em 13 jornadas não é nada de especial. Últimos 3 jogos não correram tão bem, pois perderam dois jogos e é aqui que surge o problema. Numa situação destas quem tem de pagar as contas primeiro é sempre o guarda-redes. Quando falha um ponta-de-lança não há problema… mas quando um guarda-redes falha salta sempre mais à vista. Mas o mais  importante é que o Sporting está na frente. E se neste momento não está muito bem terá de ser a equipa a ajudar, a estar do lado dele. Um guarda-redes nunca joga sozinho!», lembra o guardião croata, sem qualquer tipo de hesitações:

Se ele fosse um problema não estaria há tanto tempo no Sporting. Por isso é passageiro. Claro que uma equipa que quer vencer um campeonato tem de ter um bom guarda-redes mas a equipa é um conjunto

Tomislav Ivkovic diz que nos maus resultados é sempre o guarda-redes a ser visado (IMAGO)

«Se ele fosse um problema não estaria há tanto tempo no Sporting. Por isso é passageiro. Claro que uma equipa que quer vencer um campeonato tem de ter um bom guarda-redes mas a equipa é um conjunto. Ainda que um guarda-redes, individualmente, possa decidir jogos, a sua experiência também um ponto forte. Mas nunca será determinante, pois já vi muitas equipas a ganhar, como por exemplo o Vítor Baia no FC Porto, o Casillas no Real Madrid, que começaram com 18 anos e foram campeões. A qualidade é o mais importante. Se tiver experiência ainda melhor.»

Pecado em Guimarães

Se na temporada passada Adán esteve debaixo de fogo em jogos marcantes, como em Alvalade, na Liga Europa, diante do Mittylland — numa má reposição colocou a bola nos pés de Ashour — com o FC Porto (final da Taça da Liga) em que foi muito mal batido num remate de Eustáquio ou no fatídico  (e decisivo) jogo com o Marselha (Liga dos Campeões) no qual o Sporting perdeu por 1-4 e o espanhol acabou por ser expulso, essa desconfiança não se perdeu no arranque de 2023/2024 apesar do rendimento positivo dos leões que, convém lembrar, continuam na frente do campeonato e ainda com aspirações em todas as provas. 

Os 20 golos sofridos (em todas as competições) nos 17 jogos em que foi opção foram determinantes para que o tema voltasse a estar em cima da mesa. E que teve o seu ponto mais alto no passado sábado, em Guimarães, numa derrota por 2-3, na qual o guarda-redes acabou por não fechar o ângulo no decisivo remate de Dani Silva que deu o triunfo aos vimaranenses. 

Um pecado penalizador que, de resto, se juntou a outros, já cometidos esta temporada, nomeadamente em lances de bola parada, com Álvaro Djaló e Mattheus Oliveira respetivamente, que resultaram em golos nos jogos com o SC Braga (1-1) e Farense (3-2). Ambos para a Liga e que levantaram algumas dúvidas quanto ao posicionamento e agilidade do espanhol. 

Os deslizes esta época

SC Braga, 1-Sporting, 1 (4.ª jornada). O primeiro lance que mereceu algum tipo de contestação a Adán esta temporada aconteceu no empate com o SCBraga, no dia 3 de setembro. O livre direto foi muito bem batido por Álvaro Djaló, aos 78’, mas muitos acusam o guarda-redes de ter comprometido ao reagir tarde no lance que valeu o empate aos bracarenses

Farense, 2-Sporting, 3 (7.ª jornada). Aos 55’ no jogo de 30 de setembro, no Estádio de São Luís, em Faro, muitos apontam que faltou um bocadinho assim a Adán para defender o livre de Mattheus Oliveira, na altura o 2-2 com os algarvios já reduzidos a 10. Terá sido o lance a merecer esta época maior contestação ao guarda-redes espanhol do Sporting

V. Guimarães, 3-Sporting, 2 (13.ª jornada). Na jornada do passado fim de semana o Sporting permitiu o 3.º golo vimaranense, marcado por Dani Silva, ao minuto 80. O jogador do Vitória surgiu pelo lado direito e conseguiu colocar a bola entre Adán e o primeiro poste, que não estaria bem defendido. Por isso surgiram as críticas mais recentes ao camisola 1 dos verdes e brancos

Voltemos ao ponto inicial: neste momento não existe dilema na mente de Rúben Amorim. Não só pela sua importância dentro de campo, mas também fora dele. Adán não perderá o estatuto face às recentes exibições, mas a médio prazo o leão vai preparando uma linha de sucessão. Com dois candidatos dentro do plantel: Franco Israel, já internacional uruguaio, de 23 anos, segundo da hierarquia (e que terá, por certo, uma nova oportunidade já esta semana em mais uma jornada europeia, diante do Sturm Graz) e Diego Callai, de apenas 19 anos, muito mais verdinho, é certo, mas em quem, em Alcochete, muitos auguram um futuro brilhante. 

Uma mudança imediata na baliza é algo que, para já, parece estar fora de hipótese. Ivkovic lembra as consequências que uma mudança dessas poderia trazer.

Tomislav Ivkovic somou 154 jogos nos leões e é o guardião estrangeiro com mais jogos nos leões (IMAGO)

Se tiras um guarda-redes com experiência que está a jogar há muitos anos num clube só existe uma solução: se o tiras da baliza, acaba a carreira. Não há outro cenário. Se apostamos num guarda-redes mais jovem tem de se apostar até ao fim. Não é 1, 3, 5 jogos, tem de ser durante todo o campeonato

«É muito simples. Se tiras um guarda-redes com experiência que está a jogar há muitos anos num clube só existe uma solução: se o tiras da baliza, acaba a carreira. Não há outro cenário. Se apostamos num guarda-redes mais jovem tem de se apostar até ao fim. Não é 1, 3, 5 jogos, tem de ser durante todo o campeonato. Por isso essa decisão tem de ser muito bem pensada. Há que colocar tudo na balança e ver qual é o lado que mais pesa», disse Ivkovic, uma referência na baliza dos leões, que contabilizou 154 jogos e que brilhou entre os postes leoninos de 1989 a 1993.