CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Final foi retrato da época
O FC Porto levantou a Taça de Portugal, consumou a dobradinha numa cidade que diz muito a Sérgio Conceição (bem como ao adjunto, Vítor Bruno...) e assim terminou a mais estranha temporada da história do futebol português. Sem certezas de como será a próxima – com público, com menos público ou sem público – formulam-se aqui votos de que rapidamente chegue a vacina que nos devolva o que tínhamos ainda há meia dúzia de meses. Porque, sem vacina, está visto que andaremos numa guerra de gato e rato com o vírus, que cada vez que desconfinamos faz questão de avisar-nos que continua a andar por aí.
O jogo de ontem, na Lusa Atenas, foi o retrato de uma temporada em que o Benfica teve tudo para ser feliz e quem riu no fim foi o FC Porto. Com todo o mérito, aliás, baseado num futebol sem elevada nota artísticas, mas com raça e caráter que chegaram para as encomendas. A jogar desde o minutos 38 com uma unidade a menos, os dragões foram solidários e souberam ferir o adversário onde este já se tinha revelado, nas provas nacionais (Portimonense e Santa Clara, por exemplo) e na Champions (é lembrar Leipzig), de confrangedora debilidade: nas bolas paradas.
Títulos de 2019/20 bem entregues, vira-se a página e surge a pergunta: Quantos, dos 29 jogadores que pisaram ontem o Cidade de Coimbra, vão fazer parte dos plantéis de Benfica e FC Porto na próxima época? Por razões diversas, os da Luz porque entram amanhã na era do segundo advento de Jesus e vão mexer profundamente no plantel; os do Dragão porque vão colocar no mercado muitas das unidades nucleares da equipa, que estão à beira de terminar contrato, a final da Taça representou o fim de um ciclo.
Mas o futebol tem este condão extraordinário, a glória, sempre doce, dura um momento e a derrota é ultrapassada com as projeções de um futuro risonho.
Hoje, todas as esperanças, de todos os clubes, são legítimas, as aquisições serão fantásticas, e aos adeptos, que sorvem sofregamente cada novidade com a alegria de uma criança a abrir um pacote de cromos, é vendida uma ilusão que faz parte do encanto do desporto-rei.
Quando a bola começar a rolar a sério, o choque com a realidade ditará a sua lei, e o trigo separar-se-á do joio.