Feridas ainda por sarar
João Neves e Aubameyang. Foto: IMAGO/Sports Press Photo

O MISTER DE A BOLA Feridas ainda por sarar

NACIONAL12.04.202422:21

Vitor Manuel, treinador, analisa a vitória das águias frente ao Marselha

Vitor Manuel. Foto: ASF/PRESS PHOTO AGENCY

1. Golo à Romário

Havia expectativa para perceber se o futebol da equipa estava consolidado ou se os jogos contra o Sporting tinham sido uma exceção à regra. Na primeira parte deu sinais positivos, mesmo sem ser deslumbrante, perante um Marselha que vive um caos interno, oitavo na Ligue 1, com muitas lesões, com o quarto treinador da época. Rafa desbloqueou com um golo ‘de bico’, golo à Romário, muito difícil. Leva 20 golos, está a um de igualar o seu melhor registo.

O Benfica na primeira parte teve o jogo sempre dominado, quer em ataque controlado quer em transições, onde Rafa, Di María e Neres criam muitos desequilíbrios e Tengstedt, pela sua movimentação, abre espaço para os seus colegas, embora peque na finalização. Foi uma primeira parte boa, sem ser brilhante. O guarda-redes francês não teve muito trabalho. Não foi um Benfica muito inspirado, como nos últimos dois jogos contra Sporting.

2. Intervalos que valem mais que uma vitória

Há intervalos que são mais importantes que uma vitória, e o intervalo deste jogo foi carregado de emoção, com a grande homenagem que o Benfica fez a um gentleman do futebol mundial, Eriksson, que tive o privilégio de defrontar como treinador. A homenagem é carregada de emoção, simbolismo, onde o Benfica honrou o seu passado, dignificou o seu presente e olhou também para o futuro. Foi um homem marcante no futebol português e mundial, e viu-se um Estádio da Luz arrepiante. Parabéns ao Benfica.

3. Apagão na segunda parte

Benfica entrou bem na segunda parte, fez o 2-0 numa excelente combinação entre Di María e Neres. Depois o Marselha transformou-se, quando o Aubameyang passou para o centro do terreno: aí houve um crescimento, com Veretout a transportar muito jogo, é um jogador acima da média nesta equipa francesa. Aparece o golo do Marselha, e o Benfica teve mais dificuldades, havendo quase um apagão.

Houve alguma displicência de António Silva e Aubameyang soube aproveitar, não é por acaso que é o melhor marcador da Liga Europa. Era um jogo controlado, e o 2-0 não é o mesmo que 2-1. Benfica a partir daí entrou em falência física e emocional. Houve uma má gestão do jogo, poderia ter fechado mais o jogo, tornando-o mais confortável.

4. Eliminatória em aberto

João Neves e Florentino foram os melhores, tiveram de ir apagando os pequenos incêndios quando o Benfica já não tinha capacidade de resposta às ameaças no último terço. Schmidt só fez duas substituições e o Benfica precisava de mais sangue novo. Não o fez, o Marselha reentrou no jogo e a eliminatória ficou em aberto. Benfica é melhor equipa, continua por cima da eliminatória e pode jogar com dois resultados favoráveis na segunda mão, mas o ambiente no Velódrome com o fanatismo dos adeptos a empurrar a equipa pode ser fatal.

A equipa teve dificuldades nas bolas paradas e terá de corrigir esse aspeto, porque o Marselha tem jogadores de grande índice físico que podem fazer a diferença nesse tipo de lances. O treinador também tem de ajudar a equipa, mas não o faz com esta gestão dos jogadores. Não deixa de ser estranho o jogo acabar e o Benfica ser assobiado, e parece-me que o alvo foi Schmidt, não a equipa.