«Creio que o Barcelona não comprava árbitros, mas procurava influenciar designações»
Javier Tebas é o presidente de La Liga (IMAGO)

Entrevista exclusiva A BOLA «Creio que o Barcelona não comprava árbitros, mas procurava influenciar designações»

FUTEBOL18.02.202408:00

Presidente da LaLiga, Javier Tebas não tem papas na língua quando se trata de falar dos dois maiores escândalos do futebol espanhol.

Desde que há dez anos assumiu a presidência, Javier Tebas revolucionou a LaLiga. Tornou-se num dos dirigentes mais influentes do futebol europeu e mundial e é inimigo declarado do projeto da Superliga. A BOLA abordou o dirigente espanhol para uma entrevista, cuja segunda parte pode ler neste domingo.

-O caso Rubiales prejudicou a imagem do futebol espanhol?

-Muitíssimo, sobretudo aos dirigentes do futebol, que colocou em má situação. Sempre suspeitei que, algum dia, qualquer coisa grave iria suceder de tal forma que, quando foi eleito presidente da Federação não lhe dei os parabéns e, por escrito, disse-lhe que não o fazia porque achava que ele não tinha a capacidade suficiente para exercer essas funções, algo que ficou confirmado não só com as lamentáveis cenas do Mundial feminino, mas por muitas outras coisas que fez anteriormente. Para ocupar esse lugar é preciso ter uns certos valores, mas de verdade e não só de boquilha, ficou provado que o cargo era demasiado grande para uma pessoa como ele. 

-Pelo menos, reconhecerá, que Rubiales bastante fez pelo futebol feminino…

-Os que mais fizeram e estão a fazer são os clubes onde, na grande maioria, as equipas femininas são uma secção do futebol masculino, é a eles a quem temos de agradecer pela dedicação ao desenvolvimento da modalidade. É verdade que no Mundial o selecionador acertou, conseguiu que a Espanha tenha conquistado o título, mas, como no futebol masculino, a base de tudo são os clubes que se esforçam por ter as melhores jogadoras para depois as por à disposição da seleção.

-E do caso Negreira, que opina?

-O pior que tivemos e teremos na história do futebol espanhol, é inacreditável que um clube pague ao vice-presidente dos árbitros durante tantos anos. Eu creio que o Barcelona não comprava os árbitros e é muito difícil demonstrar que o fizesse, mas o que sim procurava era ter influência nas designações, nas subidas e descidas de categoria, algo que para mim já é suficiente para considerar muito grave o que terá sucedido.

-Se isso que acontecesse agora, quais seriam as medidas que tomaria LaLiga?

-Abriríamos um inquérito disciplinar e o clube seria castigado com a descida de divisão.

-Porquê a UEFA e a FIFA não atuam no caso?

- Há um processo judicial em curso e esperam a que este termine para então tomarem as suas próprias decisões. 

-O que é que acontece para que, na liga espanhola, todas as semanas haja fortes discussões sobre as arbitragens?

- O que sucede é que há demasiada tensão no setor arbitral em boa parte criada pela Real Madrid TV, nos muitos anos que já estou no futebol nunca tinha visto nada parecido e não é por culpa do VAR mas sim como consequência do grande ruido que se ouve, o Real Madrid examina com lupa tudo o que os árbitros fizeram durante os últimos dez anos , logicamente durante esse tempo alguns erros terão cometido mas se todos os clubes fizessem o mesmo com as suas televisões, não poderíamos viver, seria irrespirável. Com isto está a criar-se um ambiente que em nada ajuda à necessária regeneração do mundo arbitral e da governança do futebol espanhol.   

-Xavi diz que, por culpa das arbitragens, a competição está adulterada, está de acordo?

-Isso são coisas que se dizem como consequência da tensão que se vive e de que antes falei e da pressão das conferencias de imprensa, Xavi está enganado, a competição não está adulterada e o que temos de fazer, entre todos, é baixar esse clima de tenso nervosismo.

-Que opina do VAR?

-Ajuda muito, mas com o clima incendiário em que vivemos é difícil ver e reconhecer essa ajuda, pelo menos já detetou muitos fora de jogo que teriam passado desapercebidos e interveio em muitas jogadas em que deu justiça ao que realmente tinha sucedido, isso talvez seja o mais fácil, mas para mim suficiente para justificar a sua existência.