CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Atenção, não é só uma gripezinha… (artigo de José Manuel Delgado)
Na Dinamarca, o público regressou aos estádios e o Parken de Copenhaga, com capacidade para 28 mil espetadores, acolheu três mil adeptos para um jogo da I Liga local. É um sinal de esperança, que chega de um país onde a Covid-19 está controlada – há 565 casos ativos numa população e 5,7 milhões – e a normalidade parece mais próxima.
Ontem, dei conta neste espaço das limitações que a Espanha está a estudar para, logo que possa, também abrir os estádios, e no caso de ‘nuestros hermanos’ são exigidos dados pessoais e de localização, suscetíveis de apanhar rapidamente o fio à meada das cadeias de transmissão.
Por cá, com os números a subir acima da média da maioria dos países ‘desconfinados’, o governo intensificou as restrições na Área Metropolitana de Lisboa, uma medida que, quanto muito, terá pecado por tardia. E os ajuntamentos que se viram no Porto, em Braga, em Setúbal e no Algarve, não prenunciam nada de bom para o futuro próximo. Parece confirmar-se que, ultrapassada a primeira fase de medo, os portugueses precisam de sentir uma orientação firme para não descambarem numa falta de sentido cívico que pode custar-nos vários meses de sacrifícios.
Mas, voltando ao tema do regresso do público às competições desportivas, se da Dinamarca nos chega um exemplo de equilíbrio e bom senso e se em Espanha estão a estudar medidas capazes de fazer coabitar a paixão pelo futebol e a saúde dos adeptos, nos balcãs meteram os pés pelas mãos. A organização de um torneio de ténis, com as bancadas cheias, e na base de tudo ao molho e fé em Deus que é só uma gripezinha (Bolsonaro não faria diferente…), iniciativa de Novak Djokovic, provocou uma série de infeções por Covid-19, inclusivamente em quatro tenistas, o campeoníssimo Djokovic, e ainda em Coric, Dimitrov e Troicki. «Foi tudo na melhor das intenções», desculpou-se Djokovic. Pois, acredito que sim, mas de boas intenções está o inferno cheio…
Por cá, é preciso ter calma e refrear os ímpetos. Está à vista de todos que os acontecimentos de massas trazem perigos acrescidos de contágio, sejam eles festas de aniversário, ‘botellónes’, espetáculos de humor ou música, ou jogos de futebol. E para perigos iguais, medidas iguais. Sem exceções, para que não se pense que vivemos num país de filhos e enteados…