CRÓNICAS DE UM MUNDO NOVO Assim, ninguém leva a sério a I Liga (artigo de José Manuel Delgado)

Para dar ao futebol português uma pequena hipótese de não perder, definitivamente, o contacto com os ‘Big Five’, torna-se imperioso criar condições para que a internacionalização da nossa I Liga seja uma realidade. Esta medida faz parte, aliás, de um protocolo de intenções para o futebol português, apresentado há uns meses, e muito bem, por Fernando Gomes, presidente da FPF. Mas do querer ao poder vai uma distância como daqui até ao infinito, e mais além.
 

Para encontrarmos mercado que pague para ver o nosso campeonato é preciso que sejam preenchidos vários requisitos:

- A qualidade dos jogos tem de melhorar, e isso só será possível reduzindo o número de participantes; não temos país económico para o país desportivo em que alguns insistem, e desta desconformidade resulta uma competição que por mais que tentem maquilhá-la continua muito pouco atrativa, quando comparada com as congéneres mais bem apetrechadas.

- Os dirigentes têm de abandonar a idade da pedra e agir de forma pelo menos cordial. Como é possível pretendermos vender um produto que, segundo quem o faz, é corrupto e vive inquinado de todos os males? Como é possível vendermos um produto de bancadas nuas, em muitos dos estádios? Como é possível vender um produto que dá mais atenção aos insultos permanentes entre dirigentes e afins, do que ao futebol e aos seus artistas?

- E, finalmente, como é possível vendermos um produto que não sela pela equidade, que não cuida de saber, com rigor, qual o nível de cumprimento das obrigações, que não escrutina quem chega caído do céu e compra por tuta e meia uma SAD, com todas as intenções menos as que deveriam estar presentes?
 

O caso do Desportivo das Aves é mais um duro golpe na imagem da I Liga. Quem leva a sério uma competição onde é possível acontecer uma situação assim, com um clube profissional a ameaçar com faltas de comparência? É evidente que a SAD do D. Aves está cheia de culpados. Mas quem lhes entregou a SAD também tem culpas no cartório e a Liga, que tipo de regulação fez, que medidas tomou, nesta crónica de uma vergonha anunciada?
 

Estupidez, segundo Albert Einstein (pelo menos a frase é-lhe atribuída…) é fazer as coisas da mesma maneira e esperar resultados diferentes.

Esta definição assenta como uma luva ao futebol português…