Fernando Mira: a aventura de um treinador português nas Honduras

Honduras Fernando Mira: a aventura de um treinador português nas Honduras

INTERNACIONAL01.01.202217:07

Fernando Mira, técnico com longa história na Naval, de 1993 a 2016, aventurou-se pela primeira vez fora do país, aceitando um convite do português José Almeida, que estava com funções diretivas no CD Vida das Honduras. Em alguns meses conseguiu fazer com que o clube de La Ceiba discutisse o título como não o fazia há muito tempo. Apesar de ter liderado a fase regular, acabou por cair nas meias-finais com o Olimpia, que seria obreiro do tetra, novamente sob comando do argentino Pedro Troglio, agora contratado pelo San Lorenzo.

Mira, de 59 anos, regressou a Portugal para gozar as férias natalícias mas já com a certeza que voltará às Honduras apesar de privado de luxos e do maior tesouro chamado família. Mesmo com a saída de José Almeida para o Emelec, do Equador.
 

«Foram meses de adaptação difíceis, na compreensão do país, da sua cultura, apreendendo vivências e costumes. Tudo muito diferente de Portugal. Socialmente adaptei-me aos poucos com muita observação e comunicação, vendo essas dificuldades das pessoas em redor. Problemas sociais e económicos, mas também muito força e espírito de sobrevivência. E, mais que tudo, um grande amor a um clube que está acima de tudo», reconhece, partilhando a satisfação pelos contornos da missão que abraçou.

«Isso ajudou-me a ser o mais profissional possível e dedicar-me o máximo ao trabalho diário no clube para conseguir êxito e dar alegrias aos adeptos e a um povo apaixonado por um clube que andava adormecido. Foi fantástico ver a felicidade nos seus rostos», invoca, mesmo que tocado pela saudade.
 

«Para mim irá continuar a ser uma experiência muito difícil. Os meus dias são tristes pela ausência dos meus filhos e não ter por perto diariamente a minha companheira», aclara.

O título que fugiu...
 

Fernando Mira viveu a ilusão de um título que seria algo marcante para o clube e cidade e de impacto profundo nas Honduras já que o CD Vida é mais um clube formador e de cariz social do que um emblema vencedor ou altamente titulado. Foi campeão apenas em 81/82 e 83/84…Ficou perto agora…mas outras forças se levantaram.
 

«Foi tudo muito enriquecedor, porque cheguei com total desconhecimento da realidade do país e do futebol mas cedo fiquei convencido da qualidade e potencial do jogador hondurenho, que é muito forte fisicamente e tem técnica. Poderia recomendar vários, tanto da minha equipa como de outras. Havendo um melhor trabalho de bases muitos chegariam a grandes clubes mundiais», desvenda, desprovido de perspetivas de treinar em Portugal em realidades satisfatórias.
 

«É difícil treinar em Portugal por imensos fatores. Não chega a haver reconhecimento porque as oportunidades são nulas. Os clubes vivem atolados em dificuldades e surgem aquelas ajudas a troco de algo. Assim as coisas se passam independentemente do valor deste ou daquele. Vejo grandes treinadores com provas dadas e continuam desempregados. E têm de fazer milhares de quilómetros para demonstrarem o que valem. Não faltam exemplos de grandes trabalhos. É difícil, mas puxa pelo nosso espírito de superação», atira, já consciente do que é a sina do treinador português: triunfar longe de portas.