Espaço Universidade Vamos regressar ao futuro!... 2 (artigo de José Neto)
O tempo meramente passa e a vida não se satisfaz com uma existência inerte. Por isso é necessário, especialmente nos dias de hoje, saltar duma ilusória segurança e caminhar na direção onde possa desaguar a esperança.
À medida que vamos convertendo na distância os passos desta mudança, transportamos ensinamentos, memórias e imagens que nos vão exigindo competências, evocando a nossa real identidade daquilo que somos, donde vimos e para onde vamos…
Nessa viagem do tempo, encorpamos ações que se se virem repetidas se vão transformando em hábitos. Se normalmente no dia-a-dia construímos hábitos simples e rotineiros, porque não construir também hábitos que promovam o entusiasmo, a confiança, a dignidade, a coragem, a felicidade, etc.?…
É claro que temos neste tempo marcado pela pandemia, de moldar as nossas atitudes com base numa resiliência operativa (a tal teimosia saudável que referi no número anterior), para fazer das adversidades, como refere Charles Colton (1777-1832), o “trampolim para a maturidade”.
Assim como os grandes navegadores devem aos temporais e às tempestades e não aos mares calmos e estado de bonança a sua reputação, também sabemos que os mais capazes são aqueles que se adaptam à mudança e vencem os obstáculos.
E é precisamente neste tempo cinzento e cravado duma certa nostalgia, que temos de ir ao fundo dos desejos e cortar com algum egoísmo social e sacar o que nos resta, sempre com um espírito positivo e circunscrito aos valores da afetividade, honestidade e integridade, dirigindo os nossos pensamentos para o que vale a pena, evidenciando o poder do exemplo como oxigénio que sustenta a convicção.
Quantas são as vezes que as pessoas sofrem do fracasso, não por falta de capacidades, mas fundamentalmente por falta de convicções e que, sendo experimentadas bem podiam vir a ser bem-sucedidas.
Conta-se que nos tempos da longa conquista do Império Romano, um dos generais ia encarcerando todos aqueles que eram infligidos pela derrota, passando ao estado de aprisionados nas masmorras.
Num cair da noite e verificando o estado impossível de conter tantos reféns acumulados, atormentados pela desgraça dum estado crítico de fome, frio e dor, tendo de terminar com aquele flagelo, reuniu a sua legião, dirigindo-se para a escuridão das masmorras, lançou aos escravos um repto, formulando-lhes duas oportunidades:
“Aqueles que quiserem morrer com dignidade e altruísmo podem subir a este palco, ostentar sobre o corpo os símbolos da vossa região e os meus infalíveis arqueiros soltarão uma seta que inapelavelmente atingirá o vosso coração e cairão sem dor; contudo, aqueles que quiserem ultrapassar aquela porta, (apontando para uma grande porta, que estava praticamente embebida em sangue que escorria sobre a mesma de forma abundante, notando-se ainda partes de corpos esfacelados com músculos e caveiras), repito, aqueles que quiserem ultrapassar aquela porta, podem optar para o fazer.”
É claro que ninguém quis passar pela porta, tal o cenário sanguinário previsto para o exterior da mesma.
No final, depois de todos terem expirado, o general exclamou para os seus guerreiros:
“Que pena, ninguém quis passar aquela porta. A seguir estava a estrada da liberdade. Foi o medo e a falta de convicções que os matou.”
Não nos deixemos atormentar. Sabemos todos que as pessoas movidas pela passividade e quietude sucumbem mais depressa às suas desculpas e submetem-se de forma mais drástica aos seus temores.
Temos de encontrar um sinal da tal luz que um dia para nós brilhará ao fundo do túnel, cintilando como um sinal de esperança.
Talvez explorando como exemplo em tom de motivação intrínseca uma frase que a melhor equipa râguebi no mundo (All Blacks), frequentemente exaltava:
Whãia te kahurangi; ki te tuohu koe, me he maunga teitei. – “atira-te às estrelas para que, se as falhares, atinjas uma nobre montanha.”
(continua)
José Neto: Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador.