Espaço Universidade É preciso acreditar (artigo de José Neto, 123)
Muito embora a fadiga competitiva aliada a longas viagens e jogos de intensidade elevada em curtos intervalos de tempo possam causar algumas quebras de rendimento, nem sempre essa densidade competitiva é uma causa maior para explicar racionalmente o fundamento dum resultado negativo. Por vezes acontece o contrário como se tem vindo a notar em algumas equipas do topo do nosso campeonato da 1ª Liga.
Exemplos vários em que essas equipas conseguem uma elevada capacidade adaptativa, reinventando comportamentos assertivos em que a base reside no poder da consciência para a reconstrução da forma desportiva, acolitado pelo estado de crença para a obtenção do sucesso.
Uma cultura de honestidade, autenticidade, ética, resiliência e altruísmo faz com que os jogadores se batam e lutem com a bravura dum guerreiro e que outra matriz de treino puramente biológico, é insuficiente para autenticar.
Nesta fase final do campeonato a luta pela conquista dos objetivos, quer para a conquista do título ou a presença na Liga dos Campeões, Liga Europa, manutenção, o peso das espectativas avança e por vezes pode-se assistir a um rasto de incerteza e intranquilidade e as equipas entrar numa espiral de dúvidas sobre si próprias, ocasionando um estado crítico em que o medo de perder supera a vontade de ganhar, sobrando para o elo mais fraco essa inquietude de raciocínio, desânimo, défice de concentração, insegurança, resultando um presságio devastador.
Por isso, entendo que as equipas que mais sejam capazes de ultrapassar as exigências competitivas de forma emocionalmente mais equilibradas, identificadas com a génese do seu estado de alma e confiança a converter, na felicidade em o realizar, na motivação em se envolver e no orgulho coletivo a desempenhar, claramente estarão mais próximas do êxito.
É preciso acreditar?!... SIM. Como tenho habitualmente afirmado, uma das estratégias para a obtenção da vitória, advém dum estado de crença como força motriz de intencionalidade operante e como refere “Ghandi”: acreditar em algo e não o viver, é ser desonesto.
As equipas onde esse estado de confiança, motivação, espírito de coesão, atenção e concentração, associadas a esse estado de crença, permitem acudir e sustentar uma felicidade ganhadora, que por natureza perdura mais no tempo, e como todos sabemos as equipas felizes são aquelas que ganham mais vezes, transportando da vida para o treino e do treino para o jogo um relato ancorado duma consciência autenticada pelos hábitos onde imperam o entusiasmo, confiança, alegria, otimismo, capaz de ver estimulado os mecanismo do reencontro do êxito pensado com o sucesso conseguido.
É claro que tudo isto faz parte dos conteúdos duma nova visão do treino, sendo de fundamental importância associar às vertentes tático-físico-atléticas uma ordem experimental ao nível psicológico, mental e comportamental.
A título de exemplo e com base de experiências de êxito pessoalmente confirmadas, a técnica de visualização criativa dos gestos técnicos, associada a imagens mentais de sucesso, são um reforço insubstituível como fontes de convicção para o êxito. Ainda a administração no microciclo semanal de estratégias comunicacionais associadas a técnicas de relaxamento muscular progressivo, capazes de transmitir paz, serenidade, tranquilidade, ajudando a libertar tensões acumuladas, vendo fortalecido o domínio da autoconfiança, o controle de emoções, a capacidade de autocontrolo, sendo capaz de selecionar os melhores níveis de eficácia na tomada da decisão. A acrescentar o estudo e a formulação de objetivos de conquista, análise dos rankings individuais/coletivos de sucesso ... etc,… serão fontes para um desempenho superior.
O conhecimento a todo o momento se vê renovado, mas os processos que estão na base do treino orientado para o sucesso, não são novos. Já nos finais da década de 70 o nosso querido Professor Doutor Manuel Sérgio (meu pai afetivo), a propósito do conceito do treino desportivo dizia: “não pode haver preparo físico independentemente do modelo de jogo, adiantando que na preparação física, técnica, tática, psicológica, o todo é uma referência constante pela sua complexidade, onde a ciência e a consciência não se podem limitar aos gastos neuromusculares e energéticos”. Por isso, continuava: “a importância de trazer à planificação do treino não apenas a educação de físicos comprovadamente atléticos ou técnicos estruturalmente eficazes, ou táticos substancialmente competentes, mas a educação do que está para além do jogador que é o homem como pessoa”. E completava ainda o Professor: “estamos em confronto com pessoas pelo movimento intencional de transcendência, em que do corpo em ato emerge a carne, mas também a paixão, o sangue, o desejo, o prazer, a rebeldia, as emoções, os sentimentos – tudo isto visando a transcendência ou a superação”.
Muito mais se poderia acrescentar a este domínio. Não pretendo dar lições a quem quer que seja. Registo, contudo, a atenção para o perfil de liderança do líder e a aposta no seu estatuto vencedor, sem usar as desculpas para esconder as fraquezas nem os lamentos para afagar as ideias, sendo capaz de convencer não apenas pelo bom uso das palavras, mas de surpreender pelas atitudes e claro, com o sentido da humildade para aprender e da competência para partilhar … ali reside o campeão!...
OBS – No final da época cá estarei para tentar justificar algumas das razões anotadas, não deixando contudo, de refletir noutros elementos de possível interesse, tais como: efeito Covid – rendimento; tempo útil de jogo; estudo da eficácia ofensiva/defensiva; jogos realizados sem público; relação comunicacional Árbitro/V.A.R.; Efeitos das “chicotadas psicológicas”, …etc …etc…
Este Futebol amado … sempre de conhecimento renovado!... BEM HAJAM!...
José Neto: Metodólogo de Treino Desportivo; Mestre em Psicologia Desportiva; Doutorado em Ciências do Desporto; Formador de Treinadores F.P.F./U.E.F.A.; Docente Universitário/ISMAI.