Qin, o chinês meio anjo meio diabo (vídeo)

Natação Qin, o chinês meio anjo meio diabo (vídeo)

NATAÇÃO28.07.202321:51

Quando, na segunda-feira, Haiyang Qin, de 24 anos, ganhou o ouro nos 100 bruços (57,69) mas não bateu o recorde do mundo (56,88) que o britânico Adam Peaty – uma das principais ausências do campeonato – fixou nos Mundiais de Dwangju-2019, contou que sabia que tinha mais para dar, era possível fazê-lo e seria o próximo objetivo.

Pelo meio o chinês voltou a sagrar-se campeão nos 50 bruços, mas, esta quinta-feira, realizou algo que nem o incrível Peaty logrou concretizar: vencer 200 bruços e tornar-se no primeiro homem num Mundial a conquistar as três distâncias. Melhor. Em qualquer estilo. E para que a façanha tivesse um impacto ainda maior, concretizou-a com recorde do mundo: 2.05,48m.

Retirou 47 centésimos aos 2.05,95m que o australiano Zac Stubblety-Cook, campeão olímpico em Tóquio e do mundo em Budapeste-22, realizara há mais de um ano em Adelaide e mantinha-se imbatível há quatro. Agora teve de se contentar com a prata (2.06,40), ficando o bronze para o americano Matt Fallon (2.07,74).

«Aprendi muito com a meia-final de ontem porque todos sabemos que o Zac tem uns 100 metros finais muito fortes. A minha força é a velocidade e tenho bastante confiança nela», referiu Quin.

«Também sabia que caso tocássemos na parede juntos aos 150 metros, nos últimos 50 queria ir com ele. É por isso que sei que a minha velocidade é a minha força», acrescento quem após ganhar a prova sentou-se em cima das boias e abriu os braços ao mundo antes de os fletir para mostrar os volumosos bíceps. E ao sair da água voltou a encarar a pisina e repetiu o gesto.

Haiyang conseguiu ser o primeiro a virar aos 150m finais e de imediato disparou. Stubblety-Cook acredtou na sua ponta final e bem tentou ir buscá-lo nos últimos 30m, mas não esperava que o asiático mantivesse a velocidade durante tanto tempo e nunca chegou, verdadeiramente, a ameaçar a liderança.

«As pessoas têm dois lados. Dentro delas têm um bocadinho de anjo e um bocadinho de diabo, por isso, esta tarde, houve uma espécie de luta entre eles», vai contando Qin.

«Disse para mim: ‘Talvez possa perder esta prova, já tenho duas medalhas de ouro’ [são três porque também ganhou a estafeta de 4x100 estilos]. Mas depois, antes da competição, voltei a dizer: ’Quando estou na piscina não há derrotas, Não quero ser um perdedor, tenho de ganhar’. Foi por isso que usei a minha velocidade e confiança para vencer», concluiu.

Isto num sexto dia da natação pura no Mundial de Fukuoka que terá conhecido a sessão de finais mais democrática desde domingo passado, pois os cinco títulos em disputa foram repartidos por cinco países.

Nada que, no entanto, tenha alterado alguma coisa no medalheiro. Aí a Austrália continua a dominar (10 ouros+5 pratas+1 bronzes), seguida pela China (5+0+5) e com os Estados Unidos a terem apenas três títulos (3+13+9) apesar do total de 26 pódios.

Até a França (3+0+3), mas agora já sem mais provas para o tricampeão Léon Marchand (200 mariposa, 200 e 400 estilos), e a Grã-Bretanha (2+2+2) ameaçam os norte-americanos no top 3, ainda que sábado contém com Katie Ledecky nos 800 livres.  

Porém, neste dia mais democrático, quem não abriu mão do seu domínio foi Mollie O’Callaghan, de 19 anos. Após o ouro nos 100 livres, e estafetas de 4x100 livres e 4x200 livres, a australiana defendeu com sucesso o cetro ganho aos 100 livres (52,16s) em Budapeste-2022, acabando ladeada no pódio pela nadadora de Hong Kong Siobhan Haughey (52,49) e a neerlandesa Marrit Steenbergen (52,71).

E, por incrível que pareça, passou a ser a única mulher a ter juntado os títulos dos 100 e 200 livres numa só edição desde que o campeonato começou em Belgrado-1973. Já lá vão 50 anos.

Quem imaginaria um domínio tão grande de alguém que ainda há cerca de cinco semanas deslocou um joelho – esteve em sério risco de nem sequer ir aos trials australianos - , continua a recuperar da lesão e em Fukuoka só queria divertir-se a nadar e ficaria feliz com o que conseguisse.

CLASSIFICAÇÕES

Dia 6

Masculinos

200 bruços – 1.º, Haiyang Quin (Chn), 2.05,48m RM; 2.º, Zac Stubblety-Cook (Aus), 2.06,40; 3.º, Matt Fallon (EUA), 2.07,74.

200 costas – 1.º, Hubert Kos (Hun), 1.54,14m; 2.º, Ryan Murphy (EUA), 1.54,83; 3.º, Roman Mityukov (Sui), 1.55,34.

4x200 livres – 1.º, Grã-Bretanha (D. Scott, M. Richards, J. Guy, T. Dean), 6.59,08m; 2.º, Estados Unidos (L. Hobson, C. Foster, J. Mitchell. K. Smith), 7.00,02; 3.º, Austrália (K. Taylor, K. Chalrmers, A. Graham, T. Neill), 7.02,13.

Femininos

100 livres – 1.ª, Mollie O’Callaghan (Aus), 52,16s; 2.ª, Siobhan Haughey (Hkg), 52,49; 3.ª, Marrit Steenbergen (Pb), 52,71.

200 bruços – 1.ª, Tatjana Schoenmaker (Rsa), 2.20,80m; 2.ª, Kate Douglass (EUA), 2.21,23; 3.ª, Tes Schouten (Pb), 2.21,63.