Entrevista A BOLA: «Foi incrível estar no meio de tantas lendas»

Andebol Entrevista A BOLA: «Foi incrível estar no meio de tantas lendas»

ANDEBOL29.06.202300:32

Gabriel Conceição tem 18 anos, diz que «cresceu nos pavilhões», não fora o pai treinador, e mãe e a madrinha também ligadas à modalidade. Todavia, foi na variante de praia que mais deu nas vistas no Europeu da Nazaré, sendo eleito Jogador do Ano de andebol de praia pela Federação Europeia (EHF). Um galardão recebido esta segunda-feira na gala que reuniu os campeões em Viena, Áustria, na qual Gabi, assim é conhecido, privou com os ídolos que o inspiram a querer «ser profissional» da modalidade.

«Agora já digeri o momento, foi mesmo muito bom. Ainda é incrível, foi espetacular estar ali no meio de tantas lendas, tantos ídolos…», recordou em conversas com A BOLA. «Claro que cheguei à fala com alguns. Fiquei na mesma mesa com o rookie do ano, o esloveno Domen Makuc, central do Barcelona, aí falámos. Depois estivemos todos juntos a conversar na pista de dança. Foi muito bom. Cresci numa época em que a França dominava o andebol internacional, por isso ver o Daniel Darcisse [campeão olímpico] com quem pedi para tirar uma foto, ou o Kentin Mahé [Veszprém]. Falei com o Timur Dibirov [Zagreb], ponta que fez parte do sete ideal. Sinceramente tinha vontade de conhecê-los a todos, pois só estava habituado a vê-los pela televisão», contou, entre risos o central sem esconder a vontade de, no futuro, «jogar andebol profissionalmente» e alinhar nos mais «competitivos campeonatos do mundo», como o francês ou alemão, ou em «qualquer equipa que esteja nas competições europeias».

Não é o caso do FC Gaia que vai deixar ou do Póvoa AC que vai representar em 2023/2024, mas a motivação extra para jogar nos pavilhões do campeonato primodivisionário. «O andebol português está a crescer. O de pavilhão entrou na minha vida aos três ou quatro anos. Comecei uns treinos no Santa Isabel, que era um clube mais vocacionado para os femininos, mas o meu pai era treinador lá. Depois mudei para o Ideal Clube Madalenense, do qual a minha madrinha era treinadora. Quando fecharam as portas à formação e mudei para o FC Gaia», resumiu o central natural de Canelas, Vila Nova de Gaia.

Agora reside em Esmoriz, cidade do voleibol que também praticou, tal como a natação. «A paixão pelo andebol sempre foi diferente, adoro esta modalidade», vincou o estudante de Educação Física e Desporto na Universidade da Maia que também cedo se rendeu à variante de praia, na qual foi MVP do Europeu em que Portugal terminou na quarta posição, a melhor classificação de sempre. E aí é as cores do EFE Os Tigres que Gabi defende. «Antigos atletas do meu pai criaram o clube e disseram ao meu pai para me levar a experimentar. No sétimo ou oitavo ano da escola, os meus colegas foram e eu também. É um desporto espetacular», exulta, empolgado.

Conhecido por «jogar sempre de chapéu», o andebolista tem um que é especial. «Há uma regra que diz que os bonés têm de ser todos da mesma cor na equipa, n’Os Tigres sou o único a usar, por isso jogo sempre com o mesmo. É um castanho que usei desde os primeiros anos no andebol de praia. Como correu bem, é o chapéu da sorte», relatou quem também tem rituais da boa fortuna para os jogos de pavilhão.

«Nesse dia, gosto de acordar para almoçar, relaxo um pouco antes de ir para a concentração hora e meia antes do jogo. Tomar um café e como um chocolate sempre, não pode faltar! Depois vou para o balneário e penso no jogo», descreve, em jeito de remate, quem espera ter muitos doces para comer como andebolista.

As regras do areal

As «tomadas de decisão» na variante de praia ajudam ao estratega que o central tem de ser no pavilhão. No entanto, para se jogar no areal há especificidades que Gabi fez questão de explicar. «As equipas têm sempre quatro jogadores dentro de campo, um deles têm uma camisola diferente e como se fosse o guarda-redes. Mas quando vamos para o ataque já são três atacantes e o guarda-redes sai, dando lugar a um especialista cujo remate vale dois pontos. Os golos dos outros jogadores para valerem esses mesmos dois pontos têm de ser em aérea ou em piruetas. É muito desafiante», exulta o jogador de 18 anos, prosseguindo a lição.

«Jogamos à melhor de três sets, em partes de 10 minutos. Se formos para 3.º set será em shoot outs, ou seja em penáltis. Aí estará um jogador a pisar a interceção da linha dos 6 metros com a linha lateral e um guarda-redes que, por norma, é o melhor a passar a bola. A outra equipa tem um guarda-redes ou um defensor na sua baliza. Quando o árbitro apita, o jogador passa a bola ao guarda-redes e tem de correr no campo, a bola não pode cair ao chão e assim que tiver a bola na mão só pode dar três passos e tem de rematar. Se terminar empatado segue-se para morte súbita com os shoot outs», finaliza.