Entrevista A BOLA a Patrícia Sampaio: «Estou a viver o meu melhor ano!»

Judo Entrevista A BOLA a Patrícia Sampaio: «Estou a viver o meu melhor ano!»

JUDO22.06.202323:29

Com cinco pódios nas seis provas que disputou no Circuito Mundial em 2023, não contando com o Mundial de Doha, Patrícia Sampaio, de 23 anos, tem sido a grande sensação e garante de medalhas da Seleção. Após ter iniciado a época como 26.ª do ranking dos -78 kg, é agora 11.ª e pisca o olho ao top 10. Entre a conquista da primeira prata no passado fim de semana no Grand Slam do Cazaquistão e o Grand Slam da Mongólia, que começa esta sexta-feira, A BOLA conversou com a olímpica do Gualdim Pais sobre o que considera ser o melhor ano da carreira e as suas ambições.

- Em Astana conquistou a sua quinta medalha [1+1-3] em seis provas do Circuito Mundial em 2023. Se há cerca de um mês, antes do Campeonato do Mundo de Doha [9.ª], já estava feliz, como se sente agora que conseguiu a primeira de prata no Circuito.

- Sim, foi a quinta medalha, mas também a primeira final num grand slam [a de ouro foi no Grand Prix de Portugal, em janeiro]. Depois do que me aconteceu no Mundial, em que fiquei triste com a minha prestação - levava expectativas maiores tendo em conta o ano que estava a fazer - precisava desta motivação. Após Doha nem fui de férias. Continuei a treinar. Por isso este resultado foi quase perfeito. Precisava deste reforço de confiança.  

- Já viveu muitas finais de Europeus de cadetes [vice-campeã], juniores [bicampeã] e sub-23 [campeã]. Nesta primeira final num grand slam sentiu algo diferente pelo momento? 

- Acho que não. Era à mesma um bloco de finais, como já disputei este ano. A única diferença é que quando chegamos à final a medalha está garantida. Só que para mim isso não é suficiente. Estou lá para ganhar.

- E depois de ter ficado com a prata sentiu que foi insuficiente? Sentiu que fazendo um balanço até teve um dia positivo?

- Foi um ótimo dia, mas sou naturalmente uma pessoa insatisfeita. É isso que me leva a chegar mais longe. Nunca me contento com o que alcancei, quero mais, mas foi uma excelente prova. Sobretudo os combates anteriores. Houve pessoas que me disseram que nunca me haviam visto lutar assim. Penso que estou a viver o meu melhor ano de sempre. Tanto em termos de resultados como de performance. Mesmo a final, considero que estava a correr bem [havia imposto dois castigos à japonesa], até aos 20s em que perdi [imobilização]. O resto, o combate foi meu. Por isso quando perdi fiquei tão chateada. Sentia que era algo que estava nas minhas mãos e deixei fugir. Mas espremendo o dia todo, tratou-se de uma boa prestação.

- Quando lhe dizem que nunca a viram lutar como nesta época, referem-se especificamente a quê?

- Sempre fui determinada, mas talvez agora consiga que isso transpareça mais. Dizem que a minha expressão é de alguém totalmente focada no que está a acontecer. A minha mãe conta que até a cara que faço quando entro para combater lhe mostra que as coisas vão correr bem, assim com pela maneira como entro no tapete. Além do mais, creio que estou mais automatizada nas estratégias e técnicas que treino e na construção da pega. Está tudo mais limado, mas é claro que tenho de continuar a trabalhar. Ainda existem falhas.

- E num momento em que se sente tão bem, qual é agora o caminho? A próxima grande prova é o Europeu [novembro], mas, este fim de semana, começa a 100% a qualificação olímpica para Paris-2024.

- Este ano tenho tido a sorte ou então estarei a fazer alguma coisa melhor – não sei explicar a razão de não sofrer a lesões que sofri nos anos anteriores. E estou a aproveitar isso, com uma preparação continua, sem interrupções e cirurgias e semanas parada. Portanto, acima de tudo, o que mais desejo é continuar sem me magoar gravemente, pois pequenos toques existem sempre. Se assim for, o resto acontece naturalmente. Tenho uma grande ambição de ganhar uma medalha no campeonato da Europa e espero concretizá-la este ano. É a única que falta nos Europeus. Também tinha a do Mundial, mas essa não a consegui. Depois ainda haverá o Masters, que é muito importante visto pontuar bastante para o ranking e para a qualificação olímpica. Só que, até lá, haverá mil provas de apuramento nas quais pretendo manter este registo de estar na luta pelas medalhas e boas prestações. Estive a ver os vídeos dos combates que fiz nesta última prova, o Grand Slam do Cazaquistão, e fiquei mesmo orgulhosa de como tudo decorreu.

- Acredita que a partir desde fim de semana na Mongólia, em que os pontos para o apuramento olímpico passam a valer 100 por cento, o nível competitivo de todas as etapas do Circuito Mundial irá subir?

- Esta temporada já tem havido provas muito fortes, quase todas a que fui eram, assim será esta, em que volto a surgir como uma das quatro cabeças de série. Todos querem ter o máximo de pontos possível, por isso, o nível será certamente forte a partir de agora. Mas mesmo nas competições anteriores estiveram sempre as judocas top da categoria. E agora também já cá andam as russas.

- Mantém-se na 11.ª posição do ranking mundial, mas depois de ter ganho a medalha de prata teve a esperança de passar a figurar no top 10 dos -78 kg?

- Antes de atualizarem o ranking fui confirmar a lista e já estava à espera que não subisse. Mas para mim o mais importante é mesmo passar ao top 8, de forma a garantir que serei sempre cabeça de série. E, lá mais para a frente, desejo alcançar o top 4. Era esse o objetivo que tinha para os Jogos de Tóquio antes de me lesionar, quando já estava no top 8. No entanto, por agora estou focada nas oito melhores. Se as coisas continuarem assim o resto acontecerá naturalmente, ainda que a dado momento, chega-se a um patamar do ranking em que passa a ser muto difícil subir porque quem é 4.ª ou 5.ª tem uma quantidade absurda de pontos. Para se entrar aí são necessárias medalhas nas grandes provas como o Mundial [2000 pts para o ouro] ou Masters [1800 pts]. Ao pé destas a do Europeu [700] não vale muito.

- E gostaria de chegar ao Europeu de Montpellier já no top 8?

- Seria bastante bom, mas penso que, neste momento, se fosse disputar o Europeu já surgiria no top 8, pois nas dez melhores estão uma brasileira, outra japonesa e uma chinesa. Não tinha pensado nisso como um dos meus objetivos até ao campeonato da Europa, mas até poderá tornar-se. O que quero é estar constante e consistentemente no top 8 do ranking. Não sei quando, mas desejo atingir esse patamar e manter-me lá. Já a medalha que ambiciono ganhar no Europeu, é um objetivo com data certa, mas algo que até mantenho um bocadinho quase só para mim. Não partilho muito o que desejo, mas é a ambição que trago comigo para este ano. Para além das outras provas, essa é uma que quero muito conquistar.