«Pódio é o objetivo»

Volta a Espanha «Pódio é o objetivo»

MAIS DESPORTO25.08.202302:23

O currículo em grandes voltas atribui a João Almeida, aos 25 anos, legítimo estatuto de destaque entre os seis corredores portugueses na 84.ª Volta a Espanha, que se inicia amanhã em Barcelona. O ciclista da UAE Emirates parte para a segunda participação na Vuelta com a quinta posição na estreia em 2022 como fasquia e, como afirma nesta entrevista exclusiva a A BOLA, com a tranquilidade conferida pelo terceiro lugar na última Volta a Itália. 

- Com que objetivo(s) parte para a sua segunda Volta a Espanha consecutiva, depois de ter sido quinto classificado na estreia?  

- Numa equipa como a nossa torna-se obrigatório lutar pelos primeiros lugares, sabendo que o percurso é carregado de montanha e o pelotão é fortíssimo e que parte para a corrida com as mesmas ambições, o que a tornará ainda mais competitiva. Estou confiante, disposto a dar o meu melhor com o objetivo de terminar nos lugares do pódio. Se o conseguirei?… No final faremos as contas.

- Em que estado de forma chega à corrida, a sua segunda grande volta esta temporada?

- Como sempre, darei o meu melhor. Depois de uma temporada longa com resultados que deixam satisfeito, assim como à equipa, realizei uma preparação adequada ao perfil da corrida. Resta-me colocar tudo na estrada, o que fomos preparando nos últimos tempos, dando o máximo na hora das decisões e pedir que não tenha azares como quedas furos ou avarias nos momentos mais importantes das etapas.

- Como analisa o percurso da Vuelta?

- As grandes Voltas e as principais competições apresentam normalmente percursos bastante duros para proporcionarem espetáculo e audiências televisivas. Cabe aos ciclistas terem força e pedalada para que isso aconteça e para todos fiquem satisfeitos. As duas primeiras semanas são brutais, com seis chegadas em altitude, a que se junta o contrarrelógio individual em Valladolid, com 25,8 km de extensão, que é adequada, e com um percurso plano para especialistas que não desgosto. E poderei dizer o mesmo das etapas de montanha.

TEMOS UMA EQUIPA FORTE

- Quais são os pontos fortes e decisivos da corrida?

- Sem dúvida, as chegadas em altitude no Tourmalet, Angliru e Laguna Negra. Será importante a quem for superior no Tourmalet conseguiur defender-se no Angliru, que é uma subida diferente de todas as outras, longa e com rampas muito acentuadas que obrigam a várias mudanças de ritmo. Podemos juntar a estas a penúltima etapa, na Serra de Guadarrama, um verdadeiro tormento com dez contagens de montanha.

- Quem considera, além de si, mais apto a discutir os primeiros lugares da classificação geral?   

- Uma corrida que apresenta os vencedores das últimas quatro grandes voltas tem de forçosamente ser bastante competitiva. Entre os nomes de referência aponto Jonas Vingegaard, Primoz Roglic, Remco Evenepoel, Geraint Thomas e Juan Ayuso. Mas também Thymen Arensman, Mikel Landa, Santiago Buitrago, Emanuel Buchmann e Aleksandr Vlasov e Enric Mas.

- Com tantos nomes sonantes a enfrentar, como avalia a composição da sua equipa?

- Estou bastante satisfeito com o grupo que me acompanha, temos um bloco forte. Ao Rui Oliveira junta-se Jay Vine, Fisher Black e Marc Soler, que dão grande solidez ao bloco, Sebastian Molano para as chegadas massivas e Domen Novak, que tem experiência nas grandes voltas e substitui o Ivo Oliveira que se encontra doente. E claro, o Juan Ayuso, que corre em casa e tentará lutar a meu lado por um lugar no pódio.

AYUSO PARTE MAIS FRESCO

- Reconhece alguma incompatibilidade de interesses entre si e o Ayuso com a liderança partilhada da equipa?

- Nada disso, nenhum problema. Dividiremos a liderança da equipa e aquele que estiver mais bem posicionado na geral terá o apoio de toda a estrutura. A situação já foi devidamente analisada e será a estrada a colocar todos no sítio certo. O facto de Ayuso ser espanhol não o torna prioritário, embora reconheça que teve uma época menos agitada e sobrecarregada, com muitos menos dias de competição. Vou começar a Vuelta com 54 dias e 8500 km de competição, enquanto ele tem apenas 19 dias e cerca de 2400 km, o que é sem dúvida uma boa vantagem, embora os estágios tivessem sido feitos em conjunto.

- Como observa o extenso contingente de corredores portugueses nesta Vuelta?

- A presença do Nelson Oliveira, do Ruben Guerreiro, do André Carvalho e do Rui Costa, além da minha e a do Rui Oliveira, é bastante motivadora. Contamos com o apoio do público português, que assistirá pela televisão, e principalmente o que se deslocar para ver as etapas ao vivo, as que passarem mais próximas da fronteira.

- Como analisa a sua temporada e que importância terá tido o percurso até aqui para o estado de forma física e anímica em que se apresenta nesta Vuelta?

- Estive bem na Volta ao Algarve. Apesar de o 6.º lugar na geral ter ficado um bocado distante do que esperava, porque estive na luta pelo pódio, o resultado no contrarrelógio foi abaixo das expectativas. Na Tirreno–Adriático travei uma boa luta com Roglic e o segundo lugar atrás dele, com mais 18 segundos, deveu-se às bonificações. Também foi bom o terceiro lugar na Volta à Catalunha, que serviu de preparação para Giro. Neste, reconheço que Roglic e Thomas estiveram uns furos acima, e o terceiro lugar na geral e a vitória na Juventude deixaram-me feliz e com a ideia de dever cumprido. De resto, estes resultados na Volta a Itália deixaram-me mais tranquilo, sou agora um corredor ainda mais sereno e convicto das mais capacidades…

- E depois do Giro?

- Na Volta à Polónia fui segundo com mais um segundo do que Mohoric, e que felicitei no final pelo desportivismo com que venceu. E nos Mundiais esperava ter feito melhor no contrarrelógio [23.º] e na prova de fundo, mas nesta tive de abandonar completamente esgotado devido às dificuldades do percurso, que eliminou 122 dos 173 ciclistas que alinharam à partida.

- Que opinião tem sobre a recente Volta a Portugal? 

- Gostei imenso de acompanhar a corrida. Muito aberta e competitiva, com um percurso exigente que permitiu um maior equilíbrio de forças e colocando de lado os problemas de dopagem vividos nos últimos anos, que quer se queira quer não afetavam em termos de imagem os ciclistas portugueses que correm em equipas estrangeiras. Foi uma boa corrida que transmitiu uma boa imagem do ciclismo português.