Sporting-Porto: contra quem?

OPINIÃO15.01.201903:00

1«És uma encomenda. Vieste aqui encomendado pelo Benfica!» foi o que o árbitro do Tondela - Sporting ouviu a si dirigido e que valeu a expulsão nos momentos finais ao seu autor, ex-jogador e agora, pomposamente designado, team manager, Beto. Dado o facto de tal interjeição em forma de asserção ter acontecido muito perto do momento em que o jogador Acuña viu o quinto cartão amarelo - assim ficando impedido de defrontar o Porto - é provável que tenha havido alguma relação de causa-efeito.
Naquele singelo momento de jogo floral, eis-nos perante duas faces da mesma moeda (se quiserem, em vez de moeda, podem chamar-lhe outra coisa): por um lado, tudo o que de mal há ou haverá é culpa do Benfica, qual visão mefistofélica da águia; por outro lado, tudo o que de comovente existe passa pela união de facto entre leões e dragões. De um lado, a maldição; do outro lado, a mansidão.
Então não é que a decisão (entre outras) do árbitro - obviamente encadeado pela Luz - ao entender que o pobre argentino Acuña foi merecedor de um cartão amarelo, teve, afinal, o ‘dedo’ do Benfica! Será que Beto achou que, ardilosa e intencionalmente, ‘a encomenda’ do Benfica queria livrar o Porto do argentino para que, assim, os nortenhos tivessem a vida facilitada?
Tanta fantasia, tamanha obsessão!… haja ao menos lógica, mesmo que em tais devaneios.
Nesta última jornada, não me admiraria de ouvir ou ler mais umas tantas quimeras, a propósito da compulsiva culpabilidade do Benfica. Por exemplo:


- Será que Fábio Cardoso, em Ponta Delgada, pediu ao árbitro para trocar um penálti contra o Santa Clara pela sua expulsão, tudo, evidentemente, porque o rapaz andou alguns anos pelo Estádio da Luz?
- Será que houve uma manobra concertada de oferta de ‘vouchers’ de ingressos e tremoços, para o Benfica encher o Estádio de São Miguel com 12.500 espectadores, bem como antes de outros ‘vouchers’ para sportinguistas e portistas não irem a este estádio quando as suas equipas lá jogaram, como se poderia induzir dos números então verificados (SCP, cerca de 7.000 e FCP, pouco mais de 4.000)?


- Pergunto-me, ainda, se terá havido uma tramoia de uma qualquer senhora viúva intermediária do Benfica para pagar aos jogadores do Porto para perderem em Alvalade. Ou para empatarem. Ou para ganharem. É que 1X2 sempre é mais seguro…


E, tempos atrás e lembrando o jogo que detonou a crise de Alcochete, será que Rui Patrício ao dar o frango da época no Funchal, no derradeiro e decisivo momento, foi ‘desiluminado’ por uma qualquer fada benfiquista?

2Volto ao ambiente tão amigo e festivo do clássico Sporting - Porto. Abraços, beijos, salamaleques, comentaristas unidos, comentadores distraídos, Sport TV de braços abertos, autocarros das equipas quase a chegar em jeito de atrelado (ou de side-car?), claques apáticas, tudo sob um céu azul luminoso.


Prélio enfeitado com estatísticas para todos os gostos e não esquecendo o tão almejado recorde de vitórias seguidas. A propósito, tanto alarido e tão sôfrega excitação por causa de se poder bater o número que Jesus alcançou no SLB (18 jogos), que, embora seja uma bitola significativa, não se compara ao mais notável e quase inigualável recorde que pertence exclusivamente ao Benfica. Refiro-me às 29 vitórias seguidas no Campeonato Nacional (1971-72 continuadas, ininterruptamente, em 1972-1973), que é também recorde europeu. Sim, no campeonato, isto é, sem contar com joguinhos da Taça e da Taça da Liga que, apesar de tão maldita, é, para efeitos de recorde, aproveitada para somar ao campeonato.


Estive a ver o sonolento e cinzentão clássico: resultado nulo, como é habitual e era previsível. A considerada, até há pouco, máquina de fazer golos, o SCP de Keizer, não marcou e o Porto concluiu 180 minutos contra os adversários da capital sem ter ‘molhado a sopa’. Um resultado que maximizou os pontos perdidos por ambos (4), que deixou o FCP um pouco menos longe e o SCP um pouco mais longe.
Ao observar o antes, o durante e o depois desta partida, veio-me à memória uma história que se conta sobre o último Arquiduque dos Habsburgo, Oto von Habsburg (1912-2011), que tive a honra de conhecer. Indiferente ao futebol, ter-lhe-ão perguntado o que ele acharia do encontro que se iria disputar numa certa noite entre a Áustria e a Hungria, ao que ele respondeu «contra quem?». Pois não é que unidos pela obsessão até ao tutano de anti-benfiquismo, imagino já uma reacção idêntica perante a pergunta de que iria haver um Sporting - Porto. «Contra quem?». Aqui respondo eu: contra o Benfica…

3Concluida a primeira volta, o FC Porto parte com uma significativa vantagem, há que reconhecê-lo. Bem sei que não vale a pena chorar sobre leite derramado, mas bastaria o Benfica ter ganho ao Belenenses em campo neutro e ao Moreirense na Luz e estaria líder neste virar de página. Mesmo com alguns empurrões de VAR ou de seu apagão, os portistas foram mais estáveis e regulares, elementos primordiais para liderar uma classificação. Não que tenham feito uma categórica primeira volta (ganharam 7 vezes por um golo de diferença, ou seja em 50% das vitórias e perderam 5 pontos em Lisboa), mas apresentaram uma melhor defesa e um meio-campo de combate. Já o Benfica que é a equipa com mais golos marcados (37, isto é, 3 à frente do FCP, 4 e 5 do SCP e Sp. Braga), revelou uma irregularidade danosa e uma vulnerabilidade incompreensível entre o meio-campo e o sector defensivo. A mudança de treinador poderá vir a revelar-se positiva e encorajadora, ainda que na segunda volta tenha de defrontar seis dos sete primeiros classificados fora da Luz, para o que não é despiciendo saber-se se haverá ou não reforços (literalmente falando) durante este mês.


Nesta primeira metade, o Benfica foi perdulário com os mais ‘pequenos’ e amealhador com os mais ‘grandes’, ainda que devamos considerar que já fez todos os jogos em casa com estes últimos.


Vejamos, então, a classificação seccionada:


4Uma vitória confortável nos Açores, onde os outros grandes tiveram manifestas dificuldades e beneficiaram de erros arbitrais. Gostei do modo como Bruno Lage montou a equipa. Gostei da pressão à saída da bola imposta sobre o Santa Clara. Pareceu-me uma equipa menos tensa e menos tolhida psicologicamente. Não fora a manifesta ineficácia na segunda parte do jogo e o resultado teria sido bem mais dilatado.
Hoje, há um teste sério à ‘nova equipa’: o mata-mata em Guimarães a contar para a Taça de Portugal, uma espécie de antecâmara do jogo na sexta-feira para a Liga entre as mesmas equipas, que não é um mata-mata, mas onde há o risco de vir a ser um ata-ata. Curiosamente, uma dose dupla entre um treinador interino que, afinal, acaba por não o ser e um treinador não interino de quem muitos falaram para o Benfica.