Se o Sporting ganha fevereiro pode mesmo ganhar o título
O treinador do Sporting, Rúben Amorim, tem contrato até 2026. SÉRGIO MIGUEL SANTOS/ASF

Se o Sporting ganha fevereiro pode mesmo ganhar o título

OPINIÃO21.02.202400:05

Amorim não conseguiu apenas pôr a equipa a jogar bem, conseguiu também unir os sportinguistas. Mas abordagem a futura saída era desnecessária...

São três jogadores importantes para nós e, num mês e meio, poderá decidir-se tudo. Vai ser um mês complicado e essa é a maior preocupação que temos. Arranjaremos soluções. Eu estou mais preocupado em preparar a equipa e usar cada minuto para salvaguardar esse mês de janeiro, para depois voltarem estes jogadores. RÚBEN AMORIM

Ganhar um mês, ou dois meses, porque a tarefa árdua que se impôs ao Sporting começou logo nos primeiros dias de 2024, altura em que três jogadores fizeram as malas para jogar provas continentais - Ousmane Diomande e Geny Catamo no Campeonato Africano das Nações ao serviço de Costa do Marfim e Moçambique; Hidemasa Morita pelo Japão na Taça Asiática - pode mesmo ser um passo de gigante para a conquista do título. Para superar a prova com distinção há uma última etapa a jogar em Vila do Conde, no domingo, com o Rio Ave. E superando-a, os leões de Rúben Amorim passam por dois meses que se adivinhavam extremamente complicados 100 por cento vitoriosos no campeonato. Faltarão depois mais três meses até às contas finais mas terá de assumir-se o Sporting, mesmo que o discurso continue a ser cauteloso e politicamente correto, como o mais sério candidato a ser campeão nacional.

As pessoa devem festejar e ficar felizes mas têm de saber que nem em 1.º estamos… As grandes equipas ficam conhecidas é por ganhar títulos. Quinta há outro jogo e depois Vila do Conde. Não há motivo para euforia. Temos de ganhar o título, não ser a equipa que marca mais golos! RÚBEN AMORIM

Rúben Amorim, mestre a comunicar, bem pode dizer que um resultado muda tudo, que equipa que marca muitos golos não significa por si só que será a equipa que vai ganhar o título… mas não pode negar que marcar muitos golos ajuda muito a lá chegar. E não pode negar também que pela forma como está a jogar, a sua equipa, e por isso com o seu cunho e mérito, é nesta altura a que mais solidamente assume a candidatura ao título. Nesta altura, e aproveitando a época para uma analogia política - para contrapor às analogias futebolísticas tão em voga para comentar debates entre candidatos a primeiro-ministro -, lidera as sondagens. E arrisco que provavelmente ganhará à boca das urnas.

O mais difícil é substituir os que vão para as competições [CAN e Taça Asiática]. (…) Consoante as lesões com a sobrecarga, torna-se problema. (…) Quando os outros voltarem das seleções fica mais calmo. RÚBEN AMORIM

Os adeptos do Sporting entraram no novo ano com a prudência de quem entra em terreno arenoso, movediço, pelas ausências dos três titulares que foram para as seleções e porque o calendário assim o ameaçava. E saem de fevereiro (cuidado ainda com Vila do Conde…) mais convencidos de que podem ser campeões. Olham para a defesa e veem que na ausência de Diomande afirmou-se Eduardo Quaresma; que na vez de Morita recuou Pedro Gonçalves para a melhor fase goleadora da época, mantida agora no ataque após o regresso do japonês; que os leões formam uma equipa sólida em todas as fases do jogo, na defesa e no ataque, nas transições ofensiva e defensiva - mais do que uma equipa sólida, uma unidade que não se cansa de batalhar junta, que soma as individualidades numa comunhão única em que toda a gente sabe o que está a fazer, com um propósito que se percebe e compreende mas que é difícil de parar.

Obra de Amorim, que conseguiu com isso unir também os sportinguistas. Frederico Varandas também tem de agradecer-lhe a paz que o clube atravessa e que já fez esquecer os conturbados tempos que se viviam em Alvalade a cada jogo, a cada assembleia geral, praticamente sempre que alguém respirava.

Não havia necessidade

Obviamente que, se não ganharmos títulos, sairei pelo meu pé. Mas isso já era a nossa conversa de sempre. Não por não conseguirmos ganhar, mas porque dois anos seguidos sem ganhar títulos não pode acontecer. RÚBEN AMORIM

Rúben Amorim, no entanto, também teve o seu momento menos feliz no meio de tanta batalha ganha nestes já quase dois meses. Seria mesmo necessário levantar a questão da continuidade, ou neste caso da saída, nesta fase tão decisiva? Não. E isso terá ele mesmo reconhecido, porque assim levantou a questão e assim a deixou cair, negando dar continuidade nesta altura a um tema que, no entanto, estou em crer que vai mesmo levantar-se no final da época…

Já sabemos que se o Sporting não for campeão - ou será apenas se não ganhar qualquer título? - Amorim sai de cena. Mas tem contrato até 2026 e foi quando questionado sobre isso que não se percebeu como seria a saída, porque pode o Sporting reclamar o que por direito terá a receber e há muitos milhões a cumprir até ao final do vínculo.

É legítimo que o treinador do Sporting tenha ambições para lá das que podem levar o leão ao título nacional, que passados quatro anos de êxitos sonhe em voar para lá das fronteiras de uma liga periférica, às portas de uma temporada em que muitas portas, sedutoras, se vão abrir. Mas o clube passaria bem sem aquela abordagem no discurso em finais de janeiro. Vale que tudo está a correr bem. E como já disse, tem tudo para correr ainda melhor - assim continuem a jogar os meninos de Amorim.