O mais vitorioso em 2023
Luís Castro e Cristiano Ronaldo (Imago)

EDITORIAL O mais vitorioso em 2023

OPINIÃO29.12.202310:06

Luís Castro é um treinador excecional e uma pessoa normal, sem tiques de vedetismo

Luís Castro termina o ano civil de 2023 como treinador com mais vitórias, a nível mundial. Ao serviço do Botafogo e do Al Nassr, o técnico de Vila Real somou 51 triunfos (que ainda podem ser 52...), superando Pep Guardiola (46), Jorge Jesus (45) ou Carlo Ancelotti (43). Sejamos, porém, intelectualmente honestos: uma coisa é jogar a Premier League ou La Liga e a Champions, outra é disputar os campeonatos do Brasil (ou da Turquia, no caso de Jesus) e da Arábia Saudita, realidades diversas, abordadas, também, com meios muito diferentes. Mas uma coisa é certa, Luís Castro teve mais um ano de afirmação como treinador de primeira linha, e ficará para a história do futebol brasileiro o apagão do Botafogo depois da sua saída para a Arábia Saudita. Por vezes, a importância de um treinador, e a influência que tem num determinado grupo de jogadores e nos adeptos, não é devidamente realçada, mas a falência do Botafogo, que no pós-Castro se negou a dar força a Bruno Lage e entrou numa espécie de democracia batafoguiana que só podia dar em asneira, mostra como o técnico é, invariavelmente, a âncora de um projeto que só terá sucesso se for capaz de compatibilizar as prerrogativas dos dirigentes, que mandam no clube, com a visão do técnico, que sabe que tipo de jogador precisa para colocar em marcha o seu modelo de jogo.

A Luís Castro, que subiu a corda da vida a pulso e como treinador teve êxito por onde passou — FC_Porto B, Desportivo de Chaves, Rio Ave, Vitória de Guimarães, Shakhtar Donetsk, Botafogo e Al Nassr —, por se tratar de alguém que recusa o sensacionalismo, não cria conflitos com os adversários e prefere que os resultados do seu trabalho falem por ele, em vez de ser ele a falar dos resultados do seu trabalho, creio que nunca foi dado o reconhecimento devido àquilo que tem conseguido.

Valha o que valer (e alguma coisa há de valer!), esta distinção oficiosa de ser o treinador do Mundo com mais vitórias em 2023 surge como uma espécie de tira-gosto, que mascara o amargo de boca de não andar nas parangonas, como sucede a outros com muito menos obra feita para apresentar. É o preço que se paga quando se é, ao mesmo tempo, um treinador excecional e uma pessoa normal, sem tiques de vedetismo, que conhece as prioridades e sabe viver com os pés bem assentes no chão.