Humildade

Nicolía conhece bem Di María mas não conhece Pedro Gonçalves: rapaz natural de Vidago que a mãe criou dentro dum campo de futebol

Natural o apoio demonstrado por Nicolía ao seu Benfica, palavra de união na hora da derrota; compreendo até o poio a Di María, mesmo depois do soco a Pedro Gonçalves: o campeão do mundo é companheiro de clube, compatriota do argentino, ídolo do hoquista que já várias vezes demonstrou a admiração pelo camisola 11 dos encarnados. Não compreendo o ataque a Pedro Gonçalves, que por acaso levou um murro de Di María - terá provocado o argentino, podem supor alguns; não sabemos, sabemos que os dois estavam juntos, até poderão ter trocado palavras, e depois o benfiquista agrediu o sportinguista.

«Um grande que tenta manter-se um rapazinho, apesar de já ter ganho tudo (humildade)», escreveu sobre o compatriota. «Um rapazinho que se acha grande e que não ganhou nada», acrescentou sobre Pote.

É verdade, Di María é um astro do futebol mundial, uma mais-valia de qualidade extrema e mediática para a Liga Portuguesa, mas isso não lhe dá o direito de bater nos adversários e encostar a cabeça aos árbitros. Mas como sai impune, pode pensar que tem caminho livre para fazê-lo (só que isso não é mostrar a humildade de que fala Nícolía e que eu acredito que Di María tenha; ter estatuto não pode permitir tudo).

Nicolía conhece bem Di María, mas não conhece Pedro Gonçalves: um rapaz natural de Vidago que cresceu dentro do campo de futebol do clube da terra, onde a mãe, dona Maria da Conceição, trabalhava como roupeira do clube e, de forma humilde, criou os filhos - sim, viviam no campo de futebol. Subiu a pulso, do Vidago seguiu para o Chaves, do Chaves para o SC Braga e do Minho para Espanha (Valência) e Inglaterra (Wolverhampoton), de onde, ainda muito jovem, acabou por ter de voltar a Portugal para o Famalicão. Daí para o Sporting foi um salto e em Alvalade, humilde, joga onde o treinador pede e não reclama, só joga e bem, marca golos e faz assistências. E, Nicolía, não é verdade que o rapazinho não tenha ganho nada: ganhou uma Liga e pode vir outra a caminho; uma Taça da Liga e uma Supertaça. Claro que o currículo não se compara, nem de longe, com o de Di María, até porque nunca esteve num clube que lhe permitisse títulos internacionais. Mas talvez ainda vá a tempo… E Portugal nunca foi campeão do mundo mas talvez também ainda vá a tempo - com Pedro Gonçalves? Por que não? O rapaz é humilde e trabalhador, pode também ainda ir a tempo.

Vem isto a propósito do dérbi que o Sporting ganhou ao Benfica e que o coloca quatro pontos acima do Benfica na reta final do campeonato. São quatro pontos, ainda não são sete, como já ouvi muita gente dizer. Porque para serem sete será preciso (fazendo as contas com vitórias encarnadas e julgo ser assim que Rúben Amorim, avisado, as faz) ganhar o jogo em atraso ao Famalicão e antes, já na sexta-feira, o encontro com o Gil Vicente. Também para fazer as contas do título os clubes têm de saber manter a humildade.

SELO DE GOLO

Geny Catamo é repetição neste espaço mas vem a propósito. Não apenas pelos dois golos que marcou no dérbi  mas também por ser exemplo de humildade, de quem veio de Moçambique bem novinho para nunca desistir de cumprir o sonho.