Ética ou ignorância? Cada um escolhe
Hugo Viana no Sporting-FC Porto. Foto: Miguel Nunes

Ética ou ignorância? Cada um escolhe

OPINIÃO28.12.202309:39

Falar de ética obriga a ser imparcial e a analisar todas as circunstâncias, caso contrário, a ética perde-se para sempre

Num campeonato sempre exigente, em luta por títulos e com fugas das descidas de divisão, há valores e comportamentos que têm de ser sempre valorizados e respeitados.

Quando se pretende colocar o nosso futebol num patamar de excelência, sem esquecer que jogadores portugueses são admirados e nas ligas mais poderosas são reconhecidos como ídolos, não podem acontecer situações de terceiro mundo, com atitudes inaceitáveis e sistemáticas. Usando provocação de rua, desvirtuando passados antigos e recentes que são verdadeiros tesouros de qualidade, fica a impressão de uma invasão a relembrar atitudes que envergonham o passado dos clubes que, agora, esquecendo o que conquistaram e como aqui chegaram, continuam a manchar o que representaram.

A relação de competitividade é natural, desde que a relação institucional seja exemplar, de respeito e de saber receber. Como ninguém dá o primeiro passo, sempre acreditamos que os mais recentes dirigentes conseguiriam dar ao diálogo a prioridade essencial. Todos procuram a vitória, mas cumprindo as regras e nunca perdendo o saber estar e fazer. Se fora das quatro linhas se exige respeito, num espaço onde as emoções se vivem em momentos intensos, mas depois com um regresso tranquilo, como deve ser em todas as localidades, no relvado é obrigatório que joguem dando o máximo, com os princípios que separam a violência sem sentido da paixão do adepto, conseguindo manter o equilíbrio que permite uma boa relação entre clubes e adeptos.

Claro que, muitas vezes e pela pouca qualidade global da nossa arbitragem, por mais elogios que se apresentem, são um dos lamentáveis focos de incêndios de extrema dimensão. Sempre ocorreram casos tristes de conflitos (até com mortes inaceitáveis), porém, o comportamento de cada um tem de se erguer numa base de respeito, de civismo, independentemente da equipa preferida. Em todos os clubes há exemplos de talento máximo como jogadores, mas também com a capacidade para distinguir as atitudes que nunca se podem perder. Tristeza e alegria, misturam-se muitas vezes, em segundos, porém, o nosso futebol perdeu alguma da convivência entre os presidentes que representavam outro jogo mais importante porque alimentam o futuro. Infelizmente, o futebol também passou a integrar referências sem a sobriedade necessária em cargos de responsabilidade e os árbitros mudam de critérios de semana a semana, o que alimenta fogueiras de ódios, onde só deveria existir cooperação o saber vencer e perder.

No presente, estamos a passar fase de suspeição, de inclinações clubísticas, com deriva das entidades mais importantes do nosso futebol a cair numa teia de aproximação, mas também de afastamento. A imparcialidade vive com muita dificuldade perante um fanatismo diversificado a cada semana. Por outro lado, para as entidades do nosso futebol vieram alguns elementos sem grande dimensão (que continuam a deixar obra que se releva imperfeita, oportunista e destrutiva), assim como alguns indícios de eventuais lóbis para favorecer umas cores e tentar penalizar as outras. As relações e almoços que, em determinado tempo, englobavam todos os presidentes de clubes, atingiram situações que potenciavam o diálogo e a solidariedade: que saudades!

No último Sporting-FC Porto, existiram muitas ocorrências: mudança de critérios do VAR e do árbitro, com as provocações sistemáticas do banco leonino, assim como terem desligado os elevadores de acesso aos balneários, para que a equipa do audiovisual conseguisse aceder rapidamente à cabine, para dar com celeridade informações ao treinador e jogadores sportinguistas, provocando atraso de minutos para atrasar a comunicação azul e branca sobre estratégias.

No entanto, o presidente do Sporting tinha garantido receber exemplarmente os adversários, o que foi registado como falta de dignidade, incluindo as provocações aos dragões. Se as relações entre os dois clubes eram de forte tensão, pioraram…

Aguardemos pela segunda volta no jogo no Porto: esperemos que a eleição para a FPF permita corrigir o que está errado e colocar o comboio nos carris do desenvolvimento competente, que o nosso futebol bem merece. O diretor Hugo Viana desentendeu-se (como já lhe é usual) com Sérgio Conceição e nas imagens ficou registada a tentativa de apaziguamento de alguns dragões bem como o empurrão de Hugo Viana.

FC Porto e Sporting sem relações institucionais, com queixas e insultos, reforçam o clima bélico, sem saber receber com a dignidade exigível, deixando antever o que na segunda volta pode acontecer.

As contas fazem-se no fim. Falar de ética, seja jornalista ou adepto, obriga a ser imparcial e a analisar todas as circunstâncias, caso contrário, a ética perde-se para sempre. Os azuis e brancos, perante os rivais diretos, nunca conseguem chegar ao fim com 11 jogadores e não se trata somente de coincidência. Desejamos que os vícios que durante anos enfermam instituições e pessoas sejam substituídos por outras com princípios e coerência.

Um futebol de qualidade e com reconhecimento de valores pode ser um contributo imprescindível para se poder voltar a dialogar com adeptos de outros clubes, sem violência, nem ódio, apenas pelo desportivismo tolerante. O dirigente desportivo, cada vez mais, é um formador de valores da sua região.

A escolha acertada

A nomeação de Domingos Paciência para Diretor Técnico da Liga foi um remate certeiro, porquanto sempre foi exemplo do futebol arte que tão bem serviu. Tem agenda carregada e urgente que visa aproximar todos os intervenientes do jogo de futebol para desvalorizar o futebol falado e atraiçoado, num processo de evolução para o futebol encantamento. Para isso, é urgente identificar os aspetos que podem valorizar o futebol, como sabem os jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes, para conseguir definir regras e objetivos imparáveis.

Assim, é imprescindível estar atento às mudanças dos quadros competitivos, com o foco no futebol europeu mais qualificado. Só com colaboradores de elevada dimensão e conhecedores das realidades e tendências se pode caminhar para o sucesso. O jogo tem de ser analisado e melhorado sistematicamente em vários aspetos, procurando reduzir ao mínimo ou até conseguir eliminação sistemática de polémicas destrutivas.

O VAR tem de merecer aperfeiçoamento sistemático para elevar o nível do jogo e se tornar mais intenso, mais emotivo e mais atraente. São muitos os pormenores que interferem na qualidade do jogo, para poder atrair cada vez mais adeptos sintonizados com o melhor futebol possível, esclarecidos e que saibam valorizar a competição. Outro aspeto será a mudança de modelo competitivo da Champions.

As perdas de tempo têm de ser encaradas de frente, com a coragem que não pode aceitar simulações de faltas, com o máximo rigor. Alterar quadros competitivos em função das decisões da UEFA e, entre muitos outros temas, conseguir atrair mais adeptos bem esclarecidos e com eficácia. Esses são desafios para vencer.