Editorial: Cimeira de líderes

Se não dermos pelas arbitragens, já estará a ganhar o futebol

Não é vulgar vermos defrontarem-se, na mesma jornada da Liga, os quatro primeiros classificados. Tem o campeonato português esse privilégio nesta jornada e conforme ditou o capricho do sorteio, podem os adeptos deliciar-se com as emoções de um SC Braga-Benfica, já esta noite (20h30) e de um Sporting-FC Porto, um grande clássico. 

Jornada assim é sempre jornada escaldante de emoções. Mas se desta vez nenhum resultado definirá o título, imagine-se, então, o que pode vir a suceder lá para o final de abril de 2024, quando a quatro jornadas do final da Liga voltarem a defrontar-se estes mesmos adversários, então com um Benfica-SC Braga e um FC Porto-Sporting que poderão muito bem ser absolutamente decisivos para se encontrar o campeão. Se agora as emoções já estarão ao rubro, como vão estar daqui a pouco mais de quatro meses?!... 

O que os adeptos que, gostando naturalmente das suas equipas, gostam verdadeiramente de futebol esperam desta autêntica cimeira de líderes é muito bom futebol e poucos truques, mais jogo pelo jogo do que jogo pela estratégia, muito mais emoção genuína do que picardia fabricada. Ninguém, certamente, negará como é costume na Liga os grandes jogos verem-se transformados em grandes confusões, com muita polémica, contestação e, invariavelmente, mais discussão do que futebol. Está, em boa parte, nas mãos dos treinadores, porque são os treinadores que montam a estratégias e as explicam por palavras, vermos ou não grandes jogos nos jogos grandes desta jornada. Ninguém pode vencer sempre, e (La Palisse não diria melhor…) quando alguém ganha, há alguém que perde. Mas o que grandes profissionais devem é tentar sempre dar o melhor espetáculo aos adeptos. 

São, essencialmente, os adeptos (no estádio ou nas assinaturas de TV) que pagam o futebol; no limite, são, na verdade, sempre os adeptos, porque são eles que consomem as marcas que também patrocinam o futebol. Não se trata de ignorar a importância dos pontos num jogo de campeonato quando os campeonatos se ganham por pontos. Nem se trata de desprezar a importância da preparação de um jogo em função de contextos e circunstâncias. Trata-se de esperar ver valorizado o talento de jogadores e destacada a organização das equipas e não de truques ou estratégias emocionais que condicionem jogo, jogadores ou árbitros. Cabe, pois, principalmente aos treinadores definirem o jogo como um despique tático, técnico e atlético. Se Sporting-FC Porto e SC Braga-Benfica fossem jogados no mesmo dia, isso elevaria a escala das emoções. Infelizmente, os compromissos ligados às competições europeias obrigam o grande clássico de Alvalade a jogar-se a uma segunda-feira, como já se pode prever que volte, e muito, a suceder daqui para a frente, assim venha Portugal a continuar a ver-se representado na Liga Europa por Benfica, Sporting e SC Braga. Mas o que pode, afinal, suceder nesta jornada da Liga? Nova mudança de líder. 

No jogo desta noite, na capital do Minho, pode ainda o SC Braga vencer o Benfica pela terceira época consecutiva ou o Benfica voltar a ganhar em Braga três anos depois. Em Alvalade, pode o líder Sporting voltar a bater o FC Porto sete anos depois (último triunfo em casa foi em 2016, ainda com Jorge Jesus, por 2-1) e pode o vice líder somar segundo triunfo consecutivo na casa do leão. Da semana europeia três das nossas equipas extraíram vitórias e apenas o SC Braga ficou a zero, em pontos e golos, mas defrontava, como sabemos, o mais difícil e temido dos adversários, o Nápoles, atual campeão italiano. Em qualquer caso, e até porque a Liga portuguesa tem, no bom e no mau, registado tanto equilíbrio até ao momento, estarão uma vez mais reunidos bons ingredientes para uma jornada de emoções muito fortes. Pode, por fim, não ser fácil, mas oxalá não demos pelas arbitragens. Já seria uma bela vitória!