«Estrear-me no Top-14 é chegar ao topo da montanha»
Fotografia Mariana Lancatrse/FPR

«Estrear-me no Top-14 é chegar ao topo da montanha»

RÂGUEBI31.01.202400:28

Rafaeele Storti brilhou no Mundial 2023 e tem estado em evidência na 2.ª Divisão francesa. Agora sonha mais alto. Lobo entre os convocados para Europe Championship 2024, que começa sábado.

O português Raffaele Storti, três quartos ponta do AS Béziers, emblema da Pro 2, 2.ª Divisão gaulesa, tem estado debaixo do radar em França. Depois de ter explodido no Mundial França-2023, onde se tornou o primeiro jogador nacional a marcar dois ensaios num encontro de um campeonato do mundo — no total marcou três e ofereceu o ensaio da vitória, a única de Portugal, diante das Fiji, ao amigo e adversário Rodrigo Marta —, soma 20 ensaios em 16 jogos na temporada de 2023/24. Quatro ao serviço de Portugal e 16 pelo clube gaulês, rácio que iguala Damian Penaud, uma das superestrelas da seleção francesa.

«Não me sinto o homem do momento», sorriu, com humildade, o eletrizante Raffaele Storti (1,83 m e 85 kg), ponta que tem tido meia temporada para francês ver e aplaudir. «Mas sinto-me bem. A época está-me a correr bem e ao clube também», reconheceu em conversa com A BOLA o lobo pré-convocado pela Seleção Nacional para o Europe Championship-2024, que arranca no sábado.

Emigrado em França, em 2021 trocou o Técnico pelo Stade Français e as boas prestações não estão a passar despercebidas ao clube do Top-14 que o recrutou para o escalão de esperanças. O emblema da primeira divisão gaulesa emprestou o ex-engenheiro ao AS Béziers, em 2022, e, ao que tudo indica, prepara-se para receber de volta, em 2024, a nova coqueluche do râguebi europeu. 

«Estrear-me no Top-14 [1.ª Divisão] é chegar ao topo da montanha», reconheceu Raffaele no final do segundo dia de treinos da Seleção no CAR de râguebi, no Jamor, para preparar o embate da ronda inaugural do antigo Seis Nações B, diante da Bélgica (19 h), no Estádio Charles Tondreau, nos arredores de Bruxelas. 

«Vamos ver como corre, mas a aposta em tentar ser profissional e seguir o sonho que tinha está a dar frutos», sublinhou, não esquecendo o lado menos cor-de-rosa que viveu na perseguição deste objetivo de vida. «Foram anos difíceis, porque nem sempre correu da melhor maneira», recordou. 

«No Uruguai [Peñarol, numa aventura ao lado de Jerónimo Portela] tive de voltar por causa do Covid-19. No primeiro ano do Stade Francais não tive oportunidades, mas mantive-me lá e essa resiliência está a começar a dar frutos», salientou. 

Neste percurso, sempre em ascendente, não esqueceu a «lesão dura» sofrida antes do Mundial, no encontro com a Espanha do REC 2022/23. «Cinco meses que me privou de uma época, fiz um amigável antes do Mundial [Austrália A] e depois joguei com o País de Gales. Não foi brincadeira e aprendi o que tinha de aprender», relembrou. 

A viver com o Mediterrâneo à vista, no campeonato gaulês recorda os reencontros com velhos amigos. «Há lá vários portugueses a jogar. É ótimo para o râguebi nacional e sempre bom jogar com amigos [partilha o balneário com Francisco Fernandes e Samuel Marques, lusodescendentes, também eles figuras do Mundial 2023] e defrontar outros, como o Rodrigo Marta, com quem já estava habituado a competir no campeonato nacional. Voltar a ter essa experiência é sempre bom», reforçou.. «Mas, no final do dia, somos amigos», disse.

Cita outros nomes. «O José Lima [regressado este ano a Portugal após mais de uma década em França], Diogo Hasse Ferreira, Pedro Bettencourt, todos arriscaram ir jogar râguebi profissional para fora. Agora espero que eu, o Rodrigo e o Simão Bento sejamos um exemplo para os futuros jovens arriscarem», lançou o repto antes de terminar a conversa com uma antevisão do Europe Championship. 

«O objetivo é manter o nível demonstrado no Mundial. Sabemos que é difícil, o grupo é novo, caras novas e gente que deixou de fazer parte. Veremos como corre, mas o objetivo para a Bélgica é ganhar», resumiu.