Van der Poel faz arco-íris brilhar entre superestrelas do ciclocrosse
Neerlandês dominou 9.ª ronda da Taça do Mundo de ciclocrosse, em Antuépia, perante milhares de espectadores

Van der Poel faz arco-íris brilhar entre superestrelas do ciclocrosse

CICLISMO24.12.202308:30

Van der Poel esmagador na Taça do Mundo em Antuépia, de longe o melhor na atualidade dos 'Big Three', ao impor-se aos rivais Van Aert e Pidcock com a icónica camisola de campeão mundial

Mathieu van der Poel venceu o primeiro encontro das três superestrelas do ciclocrosse na temporada de 2023/24. O neerlandês fez brilhar, flamante, a sua camisola de arco-íris, símbolo de campeão do mundo, no circuito de Antuérpia, palco da 9.ª prova da Taça do Mundo desta disciplina de inverno do ciclismo e da batalha inaugural da época dos denominados grandes, os Big Three - ele próprio, Van der Poel, Wout van Aert e Tom Pidcock -, corredores multidisciplinares que conciliam talento para praticar três vertentes do ciclismo tão diversas quanto o ciclocrosse, a estrada e a montanha (BTT), em todas sendo os melhores ou dos melhores do planeta.

Mathieu van der Poel é cinco vezes campeão mundial de ciclocrosse (2015, 19-21 e 23), atual detentor do cetro (Hoogerheide, Países Baixos) e de estrada (prova de fundo, Glasgow, Escócia), Tom Pidcock, campeão olímpico e mundial de XCO (cross-country olímpico) e campeão do mundo de ciclocrosse em 2022, e Wout van Aert, tricampeão mundial de ciclocrosse (2016-18). Além destas conquistas em todo-o-terreno, o trio cintila na vertente rainha do ciclismo, a estrada, colecionando vitórias em corridas de grande prestígio, entre as quais cinco clássicas-monumentos (quatro por Van der Poel e uma por Van Aert) e dez etapas da Volta a França (nove por Van Aert e uma por Pidcock).

  Os três grandes do ciclocrosse são, por isso, figuras mediáticas e garantia de espetáculo nas provas que participam e são poucas, devido à conciliação com a época de estrada (que privilegiam), quando comparados com os adversários, que cumprem a temporada da disciplina na íntegra.

Chegar, ver e vencer

São uma espécie de globetrotters competitivos, mobilizando multidões às corridas, a esmagadora maioria nas nações dominantes da disciplina, a Bélgica e os Países Baixos. Devido aos compromissos com a estrada – alinham todos em equipas do WorldTour, Van der Poel (Alpecin-Deceuninck), Van Aert (Jumbo-Visma, Visma-Lease a Bike a partir de 2024) e Pidcock (INEOS Grenadiers) – chegam bem mais tarde à temporada de ciclocrosse, já a concorrência está bem rodada, mas desde logo se impõem, geralmente de um modo esmagador.

Foi o que aconteceu quando Van Aert venceu na estreia esta época, a 9 de dezembro, no Exact Cross de Essen (Bélgica), uma semana antes de Van der Poel (MVDP) e Pidcock entrarem igualmente em alta no Troféu X2O em Herentals (Bélgica), nas duas primeiras posições, respetivamente. No dia seguinte, o britânico correu sozinho para o triunfo na 8.ª ronda da Taça do Mundo em Namur (Bélgica) e já na última sexta-feira, os arquirrivais MVDP e Van Aert – competem entre si desde as camadas jovens – defrontaram-se pela primeira vez esta temporada, no Exact Cross de Mol, onde o neerlandês bateu o belga com facilidade rara.

‘Big… One’            

Essa demonstração de força de Mathieu van der Poel na véspera fez antever o seu domínio ontem, em Antuérpia, na corrida da Taça do Mundo disputada nesta cidade belga, onde o campeão do mundo esteve num universo competitivo muito distante do de Van Aert e Pidcock e da restante concorrência. MVDP ainda se dificultou, ao deixar um pé saltar-lhe do pedal no arranque da corrida e ter tido mesmo de parar na primeira curva, barrado pela queda à sua frente de… Pidcock. Após estes incidentes, ambos caíram para posições bastante recuadas, na cauda de um pelotão que se enfileirava nos trilhos do circuito com piso misto de terra, erva e areia, nesta incluída uma passagem pitoresca pela praia do rio Escalda. Um início… escaldante, dramático, para dois dos Big Three, a promover a emoção do ansiado primeiro recontro da temporada.

Mas o neerlandês está numa forma estratosférica e após o percalço não tardou a encetar a recuperação. Aproveitando as zonas mais largas da pista para ultrapassar, no final da primeira volta Van der Poel já rodava a 10 segundos do líder, o belga Eli Iserbyt (Pauwels Sauzen-Bingoal), com Wout van Aert no grupo da frente e Tom Pidcock a sete segundos.

Num andamento muitíssimo superior aos demais, MVDP engoliu rapidamente Pidcock e não tardou a chegar à roda de Van Aert e aos lugares cimeiros. O belga também não foi páreo para o neerlandês, que o deixou para trás na zona de obstáculos e meteu-se de imediato no encalço dos líderes, que alternavam em frenesim, a disputar os poucos minutos de fama a que estavam reservados - que Van der Poel lhes concedia, e com imprevisto bónus extra pelos contratempos que sofreu no começo da corrida. Às primeiras centenas de metros, MVDP tomou com naturalidade o comando, parecendo nem se esforçar, mas desde logo meteu uma abaixo, despedindo-se de toda a concorrência.

Ganhar… ainda a meio

No final da terceira passagem pela meta, já dispunha de 16 segundos de vantagem. E na seguinte, ainda a meio do total de oito da corrida, mais do que duplicava o pecúlio, para 41 segundos! Um assombro de força e resistência físicas e de técnica no manejo da bicicleta, as aptidões mais importantes no ciclismo e que se enfatizam no ciclocrosse.

Depois de completar a quinta, de oito voltas, com 49 segundos de avanço sobre o segundo classificado, que tardava a ser um dos demais três grandes, Van der Poel, de 28 anos, neto de Raymond Poulidor, o célebre corredor francês a quem foi dado o epíteto de ‘o eterno segundo’, após ter sido três vezes vice na Volta a França (1964, 65 e 74), enfim, relaxou e passou ao controlo da vantagem, desfilando pelo traçado belga com a sua icónica camisola de arco-íris.

No final da corrida, o neerlandês mantinha 29 segundos de vantagem sobre Van Aert, que se impôs paulatinamente aos adversários, dos quais Eli Eserbyt foi o derradeiro, a completar os lugares do pódio e com isso reforçando a liderança da classificação geral da Taça do Mundo (ver quadro). Tom Pidcock, com um desempenho modesto na sua segunda presença nesta competição, após vitória na estreia em Namur, terminou em sétimo, a 1.14 minutos do irresistível Mathieu van der Poel.