Tudo o que disse Sérgio Conceição: da pressão de vencer, a chamada de Wendell pelo Brasil e a questão delicada da mentalidade dos jogadores

Tudo o que disse Sérgio Conceição: da pressão de vencer, a chamada de Wendell pelo Brasil e a questão delicada da mentalidade dos jogadores

NACIONAL02.03.202414:18

O impacto da derrota do Benfica frente ao Sporting para o clássico no Dragão.

«São jogos com histórias diferentes e não acredito que uma coisa tenha a ver com a outra. Para nós é um jogo importante, temos outros 11 para fazer. Sabemos da importância, à medida que o campeonato vai caminhando para o final. É normal que os jogos ganhem o seu peso, ainda por cima sendo um rival que está à nossa frente. Vamos preparar bem este jogo para dar uma resposta positiva. Amanhã [domingo] ainda haverá treino de manhã, nesta preparação para irmos para campo ganhar o jogo.»

A diferença de nove pontos para o Benfica.

«Em Barcelos não conseguimos ganhar, as coisas ficaram mais difíceis. Todos os jogos são importantes, mas não há jogos de tudo ou nada. O próximo jogo é com o Benfica, detentor do título, e não é com essa diferença pontual que vamos preparar o jogo, mas sim olhando para o adversário. Não vamos preparar o jogo com essa diferença pontual, mas olhando para o adversário, vamos ter de estar no nosso melhor, a perceber o que temos de fazer no jogo. Não vamos pensar em mais nada, porque não vale a pena, não é dessa forma que preparamos os jogos. Sabemos da importância dos jogos à medida que o campeonato vai caminhando para o final. Temos de preparar bem este jogo para dar uma resposta positiva.»

A disponibilidade de Galeno, Evanilson e Taremi.

«Isso foi um problema não meu, mas de quem comunicou aos jornalistas que eles não estavam no boletim clínico. Ainda chamei os responsáveis por isso hoje de manhã e disse-lhes que algo não está bem, porque o Galeno saiu com queixas no joelho e alguma inflamação e está em avaliação. O Evanilson, num momento do jogo, sentiu uma pequena dor no posterior e tirei-o por precaução. Talvez não tivessem ouvido a minha ‘flash’... Continuam em avaliação e hoje não treinaram, tal como os mais utilizados. É por isso que amanhã há treino. Continuamos a avaliar. Estão em dúvida, com probabilidade de irem a jogo. A possibilidade de irem a jogo é maior do que não irem. Taremi deu sinais de melhoria hoje e vamos ver até amanhã depois do treino. Não é até à hora do jogo porque isso não acontece, tem a ver com o treino», afirmou.

A pressão e a luta pelo segundo lugar.

«Em relação ao 2.º lugar, estamos em 3.º e temos de dar uma olhadela para trás e para a frente. Depois começamos a olhar demasiado para trás e para a frente e não dá, como se diz no norte, tombamos. Temos de ir à procura dos três pontos nestes jogos que temos pela frente. Pressão faz parte daquilo que é o nosso trabalho. Trabalhar num clube grande, habituado a ganhar títulos, mais nos últimos 40 anos do que nos anteriores. As pessoas, e isto é culpa do nosso presidente, estão mal habituadas, porque antes da entrada dele os títulos não eram assim tantos. Depois, têm sido anos maravilhosos nesse sentido. A pressão faz parte de quem comanda uma equipa profissional de futebol que, independentemente da mais-valia ou menos-valia em relação aos adversários internos ou na Europa, tem obrigação de ganhar. Dou-me bem com essa pressão. Acho que isso é bom. Se não há pressão, eu crio-a. Não vejo que o meu discurso seja para retirar pressão. Gosto de pressão, os jogadores sentem-na. Na Liga dos Campeões temos dado resposta positiva. O meu discurso é o verdadeiro, é o que sinto. O que disse no final do jogo nos Açores foi que toda a gente, incluindo os diferentes departamentos e os adeptos, têm de dar tudo em prol do clube e fazer de cada jogo como se fosse o último da época. Devia ser assim desde o início. Olhando para trás, já não é possível voltar. Temos de encarar isso dessa forma.»

O ataque móvel do Benfica e se espera que o adversário atue assim no Dragão

«Não faço a mínima ideia. Trabalhamos em função do que tem sido o Benfica na sua dinâmica e nos diferentes momentos do jogo. Eu não embarco muito nisso, sinceramente, e temos que olhar no seu todo para a equipa do Benfica, e obviamente nessa dinâmica coletiva há jogadores que se destacam nos diferentes momentos do jogo e fases do jogo também. Estava a falar numa primeira fase, numa segunda fase, uma fase de criação, quem é que aparece, quem é que normalmente se destaca mais nesse momento, dentro da área quem é que eles conseguem meter e, de certa forma, concluir as jogadas. É isso que temos que olhar. Agora tanto o Rafa como de Di María são dois excelentes jogadores, muito experientes e com uma qualidade acima da média, sem dúvida nenhuma, mas o Benfica tem outros. É verdade que temos a tendência de olhar para o jogador que faz a diferença, mas eu acho que uma equipa... Vamos lá ver, o Benfica, penso que perdeu o primeiro jogo no Bessa, e salvo erro não perdeu mais fora. Isto é o Benfica, e não estou aqui a dar moral de barato, que eu não necessito disso, mas é verdade, com maior ou menor dificuldade tem feito o seu trajeto, tem feito a sua caminhada. Desde novembro, tirando o jogo agora com o Sporting, e a meia-final da Taça da Liga [com o Estoril], onde perderam nos penáltis o acesso à final, o Benfica não perde há quatro meses. Acho que não é só uma questão de ter uma ou outra individualidade que depois no processo ofensivo resolve as coisas. É a defesa menos batida na nossa Liga e isso por si só diz que há algum trabalho coletivo.»

Acabar o jogo com 11.

«Espero acabar o jogo com 11, como disse o Rúben Amorim. Na Luz fizemos um excelente jogo, mas tivemos uma expulsão no início. Na Supertaça, penso que é unânime ou foi unânime a opinião de que nós, até ao golo do Benfica, controlámos e fomos muito competentes e mais fortes. Mas os jogos são todos diferentes. Mesmo em Alvalade, apesar do Sporting ter feito um bom jogo, acho que houve momentos em que merecíamos um bocadinho mais do que sair de Alvalade daquela forma. Posso arranjar mil desculpas, mas temos de ser mais competentes e ganhar jogos. Amanhã [domingo] temos a oportunidade de fazer isso. Temos um adversário com valia pela frente, queremos preparar o jogo e ganhá-lo sem olhar muito para as estatísticas. Não quero adormecer nisso, sei que o meu historial é positivo. O que posso acrescentar é desejar ao João Pinheiro e à equipa de arbitragem e VAR que sejam competentes e que, no final, não seja por algum erro deles que o jogo se possa decidir.»

Wendell na seleção do Brasil.

«Ficou o balneário, o clube e os colegas muito felizes. É uma emoção grande para um jogador de 30 anos, que esteve sete ou oito anos na Bundesliga, um dos campeonatos mais competitivos do mundo, e foi aqui no FC Porto que conseguiu chegar à seleção. O Wendell de hoje evoluiu muito, é diferente daquele que chegou. Já foram dezenas de jogadores que se estrearam nas seleções com esta equipa técnica e eu fico muitíssimo feliz, é o máximo que podem atingir e é sempre uma felicidade para toda a gente. Fiquei muitíssimo emocionado, é um jogador muito profissional e acarinhado.»

A questão emocional dos jogadores.

«Há aspetos que se trabalham, mas a grande luta dos treinadores é essa questão mesmo, a questão emocional. A mentalidade. Hoje é diferente do que era há uns bons anos, é muito diferente. Os jogadores têm pessoas a trabalhar com eles na comunicação dezenas de pessoas à volta, sentem-se muito protegidos. Há alguma fragilidade emocional. Estou em tom de desabafo porque é a realidade, é um aspeto difícil, é difícil que ganhem essa maturidade ou que consigamos antecipar algo que os beneficiaria de forma incrível. Qualidade como jogadores têm, caso contrário não estavam no FC Porto. Fisicamente, acho que hoje todas as equipas são bem apetrechadas de elementos que metem os jogadores a competirem de três em três dias sem problemas. Em termos de organização, há gente que trabalha muitíssimo bem. Depois, há a mentalidade, e essa mentalidade advém de alguma dificuldade no percurso para uns, para outros de uma ambição intrínseca que têm, e outros que não têm isso e é preciso incutir-lhes. É um processo difícil, mas faz parte da nova geração. Há outras coisas boas. Isto foi quase um desabafo, nem foi bem uma resposta... Tive 38 graus de febre esta noite, estou aqui meio incómodo, a disfarçar. Ando aqui com a pernita, mas estou meio com tremeliques. Mas nessa questão mental também estou a falar para os meus filhos, claro. Não usam o telemóvel na hora de jantar, atenção!»