«O leão que viu a Luz ao fundo do túnel», a crónica do Sporting-Raków
Pedro Gonçalves não tremeu dos 11 metros (Foto: DR)

Liga Europa «O leão que viu a Luz ao fundo do túnel», a crónica do Sporting-Raków

NACIONAL09.11.202323:05

O Sporting não resistiu à tentação de começar a jogar o dérbi antes do tempo; uma vitória fácil e que não precisava de causar inquietação

Uma vitória à portuguesa: o melhor resultado possível no mínimo esforço. Um desafio, dentro do desafio, esse de pretender jogar dois jogos num só jogo. O que decorre no momento e o que aí vem. Por isso, a tentação de acabar o trabalho antes da sirene a anunciar o fim do tempo. E, sobretudo, o triunfo dessa ideia lusitana de que um jogo a meio da semana cansa muito, desgasta, consome demasiadas energias. Daí o sentimento de inevitabilidade da gestão de meios, apesar de se levar uma semana a afirmar o contrário, a garantir que o próximo jogo é sempre o mais importante e que não se pode pensar no jogo que vem depois. Porém, há o politicamente correto e há o desportivamente correto. Na verdade, o Sporting, sobretudo depois de estar a vencer logo aos 14 minutos e a jogar contra dez, não pensou noutra coisa que não fosse o jogo da Luz, o dérbi que verdadeiramente importa, porque não há Europa que se intrometa no essencial objetivo do título nacional.

Capricho de um jogo do avesso

Curioso o capricho de Alvalade ter visto, ontem, um jogo do avesso. Na Polónia, a equipa sofreu para conseguir um esforçado empate, depois de Viktor Gyokeres ter sido expulso, logo aos 8 minutos. Agora, foi Racovitan que viu o cartão vermelho, aos 10 minutos. Nos dois jogos, os visitantes praticamente começaram com menos um. Problemas aparentemente iguais, para soluções diferentes. O Sporting tem jogadores que fazem a diferença e que por isso tinham a obrigação de tornar bem mais fácil o jogo de Alvalade, até porque na Polónia, mesmo com dez, o Sporting marcou primeiro e, agora, em vantagem numérica, também chegou à vantagem no marcador.

Terá sido, no entanto, essa quase inevitável ideia de facilidade que complicou o jogo e o seu resultado. Com menos um jogador em campo, o Raków organizou-se mais atrás, perdeu a ambição que mostrava desde o início, mas deixou de oferecer espaços junto à sua grande área. E o Sporting, que voltava a sentir falta de Gyokeres na área, conviveu mal com essa realidade. Mesmo com uma equipa de ataque, com Edwards, Pedro Gonçalves, Paulinho e Trincão no onze, Bragança em apoio e laterais (Esgaio e Nuno Santos) subidos, a equipa mastigou o jogo como se fosse pastilha elástica, circulou a bola, sem velocidade e sem apetite pelo golo, tornou-se previsível e pouco ameaçadora.

Um leão demasiado sonolento

Sem precisar de se incomodar muito, o Sporting chegou ao segundo golo, também de penalti, e também por indicação preciosa do VAR, escassos sete minutos depois do intervalo. Se o leão já tinha estado em regime económico de energias, tornou-se sonolento e até refastelado na relva. O próprio Rúben Amorim achou que já era tempo de ver a Luz ao fundo daquele túnel desinterssante e escuro. De uma assentada trocou Pedro Gonçalves, Gonçalo Inácio e Esgaio por Hjulmand, Matheus Reis e Fresneda. E logo depois, St. Juste e Edwards, por Diomande e Tiago Ferreira. Evidentemente que o objetivo era cumprir uma política de poupança e a mensagem que transmitia à equipa e aos adeptos é que todos podiam ficar descansados porque aquele jogo já estava jogado e era tempo de pensar no outro, o tal que mais interessava.

As mudanças em avalanche trouxeram desconcentração e desajustes de marcação à equipa. Não estava no programa, mas o Raków aproveitou para fazer um golo. Depois, aconteceu exatamente o que nos ensina os compêndios do futebol. Um jogo que estava ganho, controlado e que se previa que apenas se espreguiçasse até ao fim, tornava-se perigoso e de resultado em aberto. Bastava um golpe de sorte do adversário, uma bola parada, um erro defensivo e seria o escândalo. Não aconteceu, felizmente para o Sporting, mas os últimos minutos foram vividos com uma ansiedade e uma inquietação desnecessárias.

Enfim, não foi, propriamente, um bom ensaio geral para o derbi, mas diz a tradição que isso não é propriamente um mau sinal.