«Esse sueco é muito bom, quase tão bom como eu»
«Veja se ficou bom?», perguntou Jardel a ABOLA depois de nos ter enviado a foto com o gesto eternizado por Gyokeres, que publicou depois nas redes sociais, gerando muita curiosidade no Brasil

ENTREVISTA A BOLA «Esse sueco é muito bom, quase tão bom como eu»

NACIONAL25.05.202409:45

Supermário admira o fenómeno Viktor Gyökeres mas mantém, entre risos, a devida hierarquia entre ele e o sucessor nascido na Suécia. Em Fortaleza, o ex-craque celebra o título leonino, recorda o de 2002 e antevê a final da Taça de Portugal frente ao FC Porto, o seu outro grande amor em Portugal.

RIBEIRÃO PRETO - O Sporting foi campeão este ano, com um futebol vistoso e a presença de um grande goleador a fazer a diferença. Ou seja, fez lembrar o título de 2001/02. Ainda se recorda bem dessa época?

- Lembro-me de em 1992 ter ajudado o Vasco da Gama a ser campeão estadual, como não vou lembrar de 2001/2002, talvez a minha melhor época? Fiz 42 golos no campeonato! Quanto você acha que eu valeria hoje, me fala?

Fiz golo de direita, de esquerda, de letra, só em Portugal, fora noutros lugares mas no Brasil chamavam-me grandalhão desengonçado por vezes... Eu tive muita sorte com os assistentes mas para as assistências para golo valerem tem de ser golo, né?

- Muito, sem dúvida.

- Não, me fala, me fala um número.

- Bom, talvez 80, 100 milhões de euros...

- Oitenta milhões, 100 milhões de euros? Concordo contigo. Mas no mínimo... Eu sei que hoje o futebol mudou, o futebol moderno é de muita força e de muita velocidade e eu era mais do tipo referência na área... mas moderno mesmo sabe o que é?

- O quê?

- Fazer golos. Então eu seria um jogador moderno no futebol moderno [pausa]. Tudo bem que eu só fazia golos de cabeça, né? Tecnicamente não era grande coisa.

- Isso é mais mito do que verdade, fazia muitos golos com ambos os pés.

- Bom, na verdade, também acho. Fiz golo de direita, de esquerda, de letra, só em Portugal, fora noutros lugares mas no Brasil chamavam-me grandalhão desengonçado por vezes... Eu tive muita sorte com os assistentes mas para as assistências para golo valerem tem de ser golo, né? Se na área o cara não marca, a assistência para golo deixa de ser assistência para golo. E para ser golo estava lá eu.

Jardel com Ricardo Sá Pinto

Perdeu dinheiro para rumar a Alvalade

- É verdade. Mas vamos começar pelo princípio: como foi a sua chegada ao Sporting, em 2001?

- Na realidade, quando saí do Galatasaray ia para o FC Porto, né? Até comprei um apartamento de um milhão de euros no Porto. Mas aí o Octávio Machado, que me queria, saiu após umas quatro jornadas, porque sem mim, não havia golos e sem golos o treinador cai [risos]. Aí, Deus não quis que o regresso às Antas, era as Antas na época, desse certo mas colocou o Sporting na minha vida, perdi muito dinheiro no contrato, se bem me lembro, mas fiz a minha melhor época, com muitos golos, e levantei os troféus do campeonato e da taça, a dobradinha.

- Lembra-se bem dos companheiros de equipa?

- Claro, jogava lá já o Cristiano Ronaldo e tudo! Treinava connosco e depois, no ano seguinte, estreou-se.

- E o treinador, Laszlo Boloni, acolheu-o bem?

- Claro, como sabia que eu poderia resolver a vida dele, o Boloni era muito bom para mim, treinava comigo sozinho de manhã para eu perder peso, bola para cá, bola para lá. Para agradecer, marquei muitos golos, só de penálti foram 16, acho eu, só falhei um, defendido pelo Vítor Baía... Mas o nosso plantel era muito bom: além do CR7, ainda começando, o Ricardo Quaresma já estava jogando muito, havia o Niculae, o Pedro Barbosa, o Sá Pinto... Espera, vamos de trás para a frente: o Nélson, o César Prates, o Beto, o André Cruz, o Rui Jorge, o Paulo Bento, o Hugo Viana e outros, muitos outros, era uma equipa muito boa... Fora o João Pinto, com quem fiz ótima dupla.

- O João Pinto foi o melhor parceiro nas assistências que teve na carreira?

- O melhor assistente? Vamos dizer de outra maneira: imagina-me no meio, com ele num lado e com o Drulovic no outro... ia ser uma chuva de golos.

Jardel venceu A BOLA de Prata quer no Sporting, quer no FC Porto

Ele fez 43 golos tudo somado, eu fiz 42 só na Liga e não joguei as primeiras quatro jornadas [gargalhada]. Portanto, ele é muito, muito bom finalizador mas eu diria que é quase tão bom como eu [nova gargalhada]...

- Por falar em golos, qual a sua opinião sobre o Viktor Gyökeres, o atual ponta-de-lança do Sporting? Viu algum jogo? Ouviu rumores?

- Vi um jogo ou outro dele e recebi opiniões de pessoas que muito considero que já me disseram: é muito bom jogador, fortíssimo, tecnicamente muito melhor do que eu, mas atenção...

Gyokeres venceu o título e A BOLA de Prata 22 anos depois de Jardel também o ter feito ao serviço do Sporting

Acho que até a torcida do Benfica gosta de mim, sempre me tratam bem na rua - e estive quase lá, né, não fosse o Manuel Vilarinho, as negociações estiveram perto de dar certo...

- Sim?

- Ele fez 43 golos tudo somado, eu fiz 42 só na Liga e não joguei as primeiras quatro jornadas [gargalhada]. Portanto, ele é muito, muito bom finalizador mas eu diria que é quase tão bom como eu [nova gargalhada]... Olha, o Derlei, ótimo jogador, estava na época 2001/02 no União de Leiria, foi o segundo da lista de goleadores em 2022, mas fez 21, metade dos meus [terceira gargalhada]...

Supermário depois das Antas

- Foi chamado de Supermário pelos adeptos sportinguistas, depois de ter ganho títulos e marcado muitos golos em quatro temporadas no FC Porto. Sente o carinho dos dois clubes?

- Acho que a torcida do Sporting ainda gosta de mim, eu gosto muito do clube. A torcida do FC Porto também gosta, claro, o FC Porto ainda é um dos clubes da minha vida, talvez o clube da minha vida porque nasceram lá no Porto dois dos meus filhos, ganhei muita coisa por lá. Aliás, acho que até a torcida do Benfica gosta de mim, sempre me tratam bem na rua - e estive quase lá, né, não fosse o Manuel Vilarinho, as negociações estiveram perto de dar certo...